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As cinco horas da tarde finalmente havia chegado e a sensação de alívio e libertação ao desligar meu computador fizera jus ao que eu estava aguardando ansiosamente a semana inteira. Após horas e horas em audiências, enfrentando juízes, clientes e outros advogados. Tentando firmar acordos, auxiliando em planilhas de custos familiares para determinação de pensão alimentícia, ouvindo histórias e mais histórias de como o marido havia sido infiel durante todos os anos de casamento, eu finalmente estava encerrando minha semana.

Porém, mais que isso, eu estava encerrando minha semana mais cedo pois, em meu apartamento, certo compromisso me esperava após longas três semanas de viagem e eu já sentia o comichão de expectativa em meu estômago. Um riso anasalado fora impossível de ser contido quando parei para pensar na enorme ironia que era a minha vida... Céus, eu soava patética e desesperada até mesmo em minha própria cabeça.

Como de praxe dos fins de expedientes, levei um tempo considerável analisando em meu planner a agenda de segunda-feira, para que pudesse me preparar melhor um dia antes. Seria um dia corrido, como toda segunda-feira era: reunião geral no primeiro horário; reunião com dois novos clientes para conhecimento de caso; redação de um acordo pré-nupcial de um socialite que estava em seu terceiro casamento; almoço. Na parte da tarde, Joanne, minha secretária, havia reservado um período generoso para meu caso litigioso que envolvia disputa pela guarda de um casal de gêmeos e que estava sendo um dos motivos de minha insônia. Agradeci mentalmente pela perspicácia de Joanne em lembrar-se de ter cautela e atenção para essa situação. Casos de guarda, para mim, sempre eram os mais difíceis e os que que mais causavam sofrimento se algo desse errado e, neste caso em especial, não seria apenas uma criança prejudicada, mas sim dois pequeninos que já haviam sofrido mais do que suas idades permitiam com as brigas e a alienação parental feita pela mãe.

Rapidamente guardei meu planner e mais alguns documentos necessários na bolsa e então me retirei do meu escritório. Joanne me encarou com um sorriso simpático, desviando sua atenção da tela do computador para que eu pudesse lhe passar algumas orientações.

– Hoje é o dia que a Senhorita sai mais cedo, certo? – ela apontou com um sorriso orgulhoso estampado no rosto. Eu nunca havia saído mais cedo do expediente em todos os anos que trabalhara para o New York City Lawyer Center, porém, naquela ocasião sentia que poderia abrir uma exceção.

– Sim! – eu assenti com um sorriso um tanto envergonhado. Mal sabia ela o motivo pelo qual eu decidira encerrar a semana uma hora e meia antes do fim normal de expediente. – Aliás, eu vi que reservou um bom período na minha agenda para o caso do Senhor Watson, muito obrigada por isso inclusive. Esse caso está me dando todos os tipos de dores de cabeça.

– Ah eu imagino. O advogado da esposa dele está em cima de nós, ele encaminhou agora pouco uma petição em que está tentando provar que o Senhor Watson possui condutas sexuais inapropriadas e certa dependência com álcool... – Joanne narrou com toda a sua paixão e devoção pela advocacia familiar que possuía e, precisava confessar que, muitas vezes me vi admirando (e invejando) toda essa energia que possuía. Ela era uma moça muito inteligente e dedicada, que havia sido selecionada com louvor para aquele setor, para a vaga de estágio obrigatório em seu programa de pós-graduação em família e sucessões.

Éramos, ao todo, três advogados de família com uma demanda absurda de trabalho em nossas costas, mas ela parecia conhecer de trás para frente todos os casos que tínhamos em aberto.

– Oh... Isso só fica melhor! – eu murmurei com desgosto ao ouvir seu breve relato. – Estou começando a achar que, bem no fundo, a mãe está certa em querer manter os filhos a uma distância segura do pai. Mas enfim, precisamos coletar provas e tentar encontrar alguma derrapada dessa Senhora. Você poderia marcar em minha agenda uma conversa com o Senhor Watson para segunda? Pode ser no período em que deixou reservado para o caso mesmo, já que é para arrancar o band-aid que seja de uma vez.

Let me love youWhere stories live. Discover now