III

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Uma carícia gostosa em minhas costas nuas me puxava aos poucos, e a muito custo, do sono pesado que estava. Em minha mente sonolenta eu tentava identificar o que eram aquelas carícias e de quem viam, porém, ao refazer mentalmente meus últimos passos antes de dormir, eu não conseguia me lembrar de estar acompanhada.

Porra, será que eu havia ido para cama com Alfonso? Eu sequer havia bebido tanto assim e a ponto de esquecer o que havia feito!

– Tem alguém dorminhoca aqui pelo jeito... – a voz conhecida que tanto me atormentava soou mais rouca que o normal em meu ouvido, esclarecendo parte do meu conflito interno. – Já são quase dez da manhã...

– Christopher? – murmurei sonolenta, juntando forças para abrir meus olhos.

Era claro que ele havia usado a chave que tinha do meu apartamento para conseguir uma rapidinha no sábado de manhã... E era mais claro ainda que ele havia aproveitado do momento mais inoportuno para fazer isso, em um sábado pela manhã, após termos deixado uma conversa inacabada no dia anterior e quando eu já havia deixado claro que iria sair com as meninas de noite.

– Sim! Quem mais que seria? – ele riu contra a pele fina da curvatura de meu pescoço. – Você trouxe alguém para cá na noite passada, para precisar confirmar quem é, por acaso?

– Sim! Se não encontrou com ele ao entrar no quarto, certamente ele está no banheiro... – respondi com acidez, em um misto de raiva por ele estar tirando satisfações de algo totalmente absurdo e pela cara de pau de ter invadido meu apartamento. – Ou melhor, ele não... Eles, no plural!

– Nem brinque com isso! – Christopher riu, mordiscando e chupando o lóbulo da minha orelha. Ignorando por completo meu péssimo humor matinal. – Eu sou ciumento!

– Como se eu me importasse com o seu ciúmes... – eu tentei retrucar com convicção, mas como boa fracote que era, o efeito de sua boca em mim era mais forte que minha resistência e eu acabei ofegando baixinho. – O que veio fazer aqui, Christopher? Além, é claro, de atazanar o meu juízo e empacar minha foda com os caras escondidos no banheiro...

– Vim ficar com você, oras! – ele respondeu com aquele costumeiro sarcasmo que eu tanto detestava.

Se ele ao menos soubesse o efeito que aquelas palavras tinham em mim, certamente pensaria trilhões de vezes antes de as falar. Se ele ao menos soubesse sobre as dezenas de vezes em que fantasiei sobre acordarmos juntos na cama, em começarmos o dia nus entre os lençóis, definitivamente ele nunca mais faria uma surpresa como aquela novamente.

Nós nunca, sequer, havíamos efetivamente dormido juntos. Nunca havíamos passado uma noite inteira juntos, nunca havíamos acordado ou adormecido um ao lado do outro. O que tínhamos, desde o princípio, era a definição pura de sexo casual. Daqueles que não é preciso marcar jantar ou nutrir um sentimento para que acontecesse, daqueles que você faz o que tem vontade, goza, levanta, se veste e vai embora.

Ou melhor, que ele faz o que sente vontade, goza, levanta, se veste, vai embora e me deixa sozinha.

O que tínhamos era sexo e apenas isso e, mesmo assim, eu havia sido idiota o suficiente para me envolver emocionalmente com ele.

– Dulce brigou com você, por acaso? – questionei, sutilmente inclinando a cabeça para abrir espaço em meu pescoço para que ele prosseguisse com aquela exploração de beijos. Como tudo o que tínhamos era uma relação altamente distorcida, eu sequer conseguia controlar meus impulsos de aproveitar cada experiencia, por mais ínfima que fosse, do que seria um relacionamento normal.

Não que eu soubesse, exatamente, o que era isso... Afinal, namoro ou qualquer relação mais concreta eram coisas que eu nunca havia experimentado em minha vida antes.

Let me love youWhere stories live. Discover now