"Era cedo, a aurora estava se levantando, mas não sei se o sol brilharia para mim."
Meu quarto, como sempre estava escuro e eu odiava a escuridão. Mas eu precisava me acostumar, no entanto, queria sair do ambiente sufocante e pesado da corte, longe da minha mãe, meu irmão e todos. Então, peguei meu um casaco longo preto e coloquei o capuz. Saí sem que ninguém percebesse ou me reconhecesse, existia algumas saídas secretas no palácio, túneis internos que levavam para outras alas em caso de invasão e será por uma dessas que pretendo sair.
As ruas estavam cobertas de graxa e óleo,o cheiro do ar e extremamente pesado e de longe você só ver a neblina acinzentada que tenho certeza não ser da manhã, típico das ruas de Norta. Afinal, é aqui que os trabalhos lutam para sustentar suas famílias, a jornada de trabalho e constante por aqui, afinal. Norta estava em guerra contra Lakeland e estávamos convocando vermelhos que foram para o Front lutar, os jovens a partir dos 18 anos tiveram que deixar seus parentes para defender o país e eu estive lá neste dia. Treinei muito para a guerra, todos os dias com meu irmão mais velho, enquanto eu entendo mais sobre política, ele sabe bem como arquiteta estratégias de guerra, é muito bom nisso, e está aprimorando seus conhecimentos na área. Pensar nisso me causa arrepios, só tenho 14 anos e estava lutando contra um país como Lakeland, enquanto mal consigo permanecer no meu quarto sem luz, minha mãe tem me ajudado com meus medos, ela quer me ver tão bom quanto o meu irmão, eu e Cal somos filhos de mães distintas, e por mais que sejamos unidos ainda existem algumas divergências, meu pai sempre apresenta mais afeto por Cal do que por mim, devido ao fato dele ser o filho da mulher que amava, Coriane Jacos, e a minha mãe se tornou sua esposa por meio da prova real que um dia terei que passar, mas não quero pensar nisso agora, não quero nem tentar.
Estou em uma ponte que divide duas pequenas regiões de frente para o mar e a maresia tem um cheiro salgado que me desperta, mas o que realmente me chama atenção não é a beleza do alvorecer e sim uma mão que toca o meu ombro, um toque reconfortante, um amigo, proteção, atenção, alguém que eu sei que estaria comigo em meus momentos mais tenebrosos, sinto isso em seu toque.
Apesar da guerra trazer mortes, destruição e o caos, conheci uma luz no meio disso tudo, alguém que não me reconheceu de primeira, me olhou como um ser humano comum e não como um príncipe prateado em um campo de batalha, ele não me julgou, ele me ver, e eu o vejo agora, seu nome é Thomas, uma vermelho das terras geladas do Norte, ele não sabe que sou um prateado, será que me odiaria por isso?
Ele me salvou durante a guerra, e fomos até o final juntos apesar de Lakeland ter vencido. Continuamos tendo contato depois disso, a todo tempo escondi que sou um dos príncipes de Norta, não sei se isso o assustaria, para falar a verdade não sei nem o que aconteceria, só sei que agora eu tinha alguém que me entendi e eu não vou deixar ninguém machucar Thomas, ninguém.— Tudo bem? — diz ele.
— Mas ou menos.
— O que houve? Mas um dos seu pesadelos?
— Não. — minto apenas contínuo olhando para o horizonte a frente.
— Sonhei com você esses dias. — Uma risada sútil e tímida sai de sua boca.
— Você estava tão feliz, estavamos correndo, você tava fugindo com meu cardigã favorito, sabe quanto aquele cardigã custou? Era caríssimo, óbvio que eu ia fazer questão.— Ambos sorrimos até que olhamos um para o outro. —Então você escorregou e caiu no xixi que provavelmente era de algum gato, na melhor das hipóteses, meu cardigã foi detonado, mas eu só conseguia rir da sua cara e o seu cheiro terrível de xixi.— Xixi de gato? e você tem algum cardigã? Pergunto.
— Sim, um gato!!! E não, eu não tenho um cardigã porque não tenho condições de comprar um. Mas isso foi o que tornou o sonho legal, eu adoraria ter um cardigã preto, mas melhor ainda foi olha a sua cara de nojo quando percebeu que estava ensopado de xixi.
— Que sonho louco.— Falo.
— Os sonhos não costumam fazer sentido, nem ache estranho.
Sonhos. Eu costumava sonhar com coisas extremamente vergonhosas e absurdas de acontecer, era engraçado, mas não lembro de nem um, apenas que eram bons, e não me assustavam como os pesadelos recorrentes que estou tendo.
— Trouxe isso para você.
Thomas tira do bolso de sua bermuda um pequeno caderno preto básico, abre minha mão e me obriga a segurar.
— O que é isso?— pergunto.
— Uma caderno de sonhos, você pode escrever todos os sonhos que tiver nele, mas faça isso assim que acordar se não você vai esquecer do que aconteceu nele.
— Não preciso disso.
— Sério Maven? É divertido, agora me diz, qual foi seu último sonho?
Não sei o ele está querendo dizer com isso, está agindo como se soubesse o que está acontecendo. Porque? Porque você me conhece tanto Thomas?
— Dê que importa se estou sonhando ou não? — Pergunto.
— Ora, os sonhos acontecem quando temos algum desejo reprimido.
— Então seu desejo secreto é me ver roubando seu cardigã e em seguida me ver ensopado de xixi de gato?
Thomas dá uma gargalhada tão grande jogando a cabeça para trás que por um momento não sei se sou eu que vou está ensopado de xixi.
— Talvez eu apenas queira ver você feliz. Comigo.
Ele me olha e eu não sei bem o que responder. Apenas fico parado enquanto ele se aproxima de mim e toca na minha orelha e vai descendo com movimentos suaves em meu rosto até meu queixo, me obrigando a levantar a cabeça e olhar em seus olhos.
— E quanto aos seus sonhos Maven, o que você deseja? O que você quer?
Meus olhos se enchem de lágrimas, não sei o que quero, tenho medo de saber, com minha mãe por perto, tem dias que eu mal me reconheço ao olhar no espelho.
Tenho medo de desejar algo, alguém, minha mãe sempre me disse que o querer nos torna fracos. Que os sonhos não deveriam existir para aqueles que desejam ser fortes. É isso que eu quero? Sim. Eu quero. Eu não quero ser mais fraco.
Mas também quero Thomas, porque não posso ter os dois? Eu posso, se o manter protegido de minha mãe, ela nunca vai saber sobre Thomas. Nunca.Apenas olho para suas mãos e pego o pequeno caderno, espero que algum dia eu consiga escrever algo nele. Qualquer coisa, qualquer coisa que não sejam esses pesadelos que insistem em me atormentar e que de alguma forma Thomas sabe que os tenho.
Eu disse a ele que tinha parado de ouvir esses sussuros e gritos a noite, os quais me dão dor de cabeça e insônia, mas menti.— Preciso ir Thomas.— Digo.
— Tudo bem. Só promete para mim que está tudo bem, certo?
— Certo.— minto novamente, mas também não consigo falar a verdade, nem para Thomas. Mas eu algum dia direi a ele.
Sigo em frente o deixando Thomas para trás e sinto seus olhos me segundo e isso me causa calafrios até eu dobrar a esquina e voltar para o palácio.
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COROA DE FOGO
FanfictionAos 14 anos, Maven Calore tenta entender o que está o dividindo, após conhecer um garoto no Front de guerra chamado Thomas. Ele tenta se manter firme diante das adversidades, mas algo está errado, alguma coisa está mudando, e ele não sabe se será ca...