16 | de volta ao inferno

383 70 139
                                    

JONATHAN HIMMES
23 anos
Bothell - WA

A passagem rápida pelo centro de Bothell me trouxe memórias antigas que eu sequer me lembrava de as ter. Mas também, que eram vivas pois Bothell não tinha mudado muito em mais de dez anos. Haviam novas casas, lojas e restaurantes locais, mas ainda era como eu me lembrava.

Quando o motorista enfim passou pelo portão do que deveria ser minha casa, eu provavelmente demorei uns segundos para processar que estava ali. Ela estava diferente, pelo menos. Haviam mudado detalhes da fachada, e não havia mais sacadas, no lugar delas, havia apenas vídro. Eu particularmente gostei. E conseguia ver minha mãe por conta disso, que apesar de ser uma pessoa extremamente difícil, sempre teve muito bom gosto.

Respirei fundo antes de sair do carro, uma onda de desespero quase infantil me abateu, me fazendo querer sair dali e pegar um vôo pra qualquer lugar que não fosse Bothell.

Entrei em casa com os seguranças me ajudando a levar as malas pra dentro, eles subiram com elas em prontidão sem sequer esperar que eu falasse algo.

E então, meu pai apareceu e atrás dele minha mãe. Ele sempre com aquela personalidade lascívia em destaque e ela como uma pedra de gelo. Rodolph e Diana eram... Tudo o que eu não queria como família. Eles me cumprimentaram com abraços distantes, e Rodolph não tardou a me questionar sobre meu diploma. E eu disse... Que o Trinity enviaria em breve. Pois era comum (e era mesmo) eles ficarem presos. Mas na verdade, o de Literatura, assim como os da minha pós graduação, já estavam comigo. Meu pai então deixou para lá com uma feição estranha, que eu sabia ser leve desconfiança.

Para meu alivio, minha mãe pediu para que Prudence (a mesma governanta de sempre) me levasse até o meu quarto. Ela disse que havia uma surpresa que veio das mãos dela para mim. Se foi minha mãe que fez... Só podia ser a decoração do quarto.

Mas tudo o que eu precisava era descansar e que preparassem algo para eu comer, e a verdade era que eu sentia um buraco negro no meu estômago. Prudence pelo que eu me lembro dela sempre foi uma mulher séria e fiel a minha mãe como ninguém mais. Mas ela ainda estava me olhando de uma maneira engraçada, então no momento que estavamos na porta do meu quarto ela soltou "você cresceu demais" antes de sair.

Olhei a minha volta, o corredor pálido com varias portas robustas, antes de entrar no quarto que um dia foi meu. Foquei na porta a frente. Era do Daniel.

Ele não estava em casa.
Eu talvez tivesse esperado ve-lo aqui pra me receber, mas não me prendi a isso, pelo que Rodolph disse com desgosto quando eu perguntei "Daniel está no treino de basquete, sem futuro algum".

Eu nunca tinha visto Daniel jogar, mas se Rodolph estava tão incomodado, quer dizer que ele era muito bom.

Girei a massaneta da porta e adentrei, minhas malas ja estavam ali, Prudence disse que viria mais tarde me ajudar a colocar tudo no lugar.

O lugar não era o mesmo que eu pensei em encontrar quando estava no avião vindo pra cá. Talvez eu tivesse esperado ver o quarto da minha infância ali, mas não havia mais nada dele. Tudo foi redecorado para um homem adulto, e tudo bem, é claro. Enfim, a surpresa de Diana.

Abri as malas que achei necessárias e peguei o que precisava para tomar banho, quando passei pelo closet para ir pro lavabo, notei que ele estava repleto de roupas masculinas.

Minha mãe esteve muito ocupada...

Passei os olhos por tudo, eram de marcas e cortes que eu gostava, e ainda eram todas em preto. Acho que foi a primeira vez que eu tive a mínima noção que minha mãe aceitava e prestava atenção em mim. Mesmo que seja no que eu visto.

Ignorando as Leis de Newton Onde histórias criam vida. Descubra agora