13 | a chave e a fechadura

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JONATHAN HIMMES
22 anos
Dublin - Ireland

Quando cheguei em casa, tudo estava silencioso, parecia não haver ninguém ali. Hailey possivelmente estava dormindo, o que era um alívio. Mas os outros... Eu não faço ideia de onde estariam, então apenas me arrastei até o sofá sentindo meu corpo e minha mente pesados demais, me deitei ali sem me preocupar em desculpas, pelo menos por algumas horas. Eu merecia algumas horas.

Acordei no dia seguinte ouvindo o som de um liquidificador vindo da cozinha, minha cabeça doía como o inferno, e eu me sentia o pior dos lixos humanos. Me sentei no sofá e remexi nos meus cabelos que estavam maiores que o normal, e como as garotas fazem, eu apenas o enrolei em um coque no alto da cabeça, esse era o tipo de coisa que faria Henry pegar no meu pé. Henry... Droga! Não acredito que falei aquilo pra ele...

Eu tinha esse sério problema, quando fico frustrado ou com raiva... Eu falo demais, eu busco ferir as pessoas, para descontar nelas o que estou sentindo. E eu sequer fui sincero. Eu não via o Henry como um peso ou um agregado, era meu amigo. E a Brie... Como eu pude falar daquela forma com ela? Que só queria a festa para me ver animado? Eu sou um péssimo amigo também.

Olhei para frente, a tela da TV desligada a minha frente, as cortinas fechadas deixando a sala escura, na mesinha de centro uma caixa de pizza vazia, pratos, e talheres, garfos e facas. E diferente de quando cheguei... tinha um cobertor enrolado nas minhas pernas... Meus amigos ainda se preocupavam comigo. Depois de tudo. Depois de por meses estando assim... Imerso em problemas, vivendo pra mim, e pra cuidar da Hailey. Sem ser um bom amigo ou boa companhia. E eu sabia o que sentia.

Guillermo Del Toro bem disse que "Descobrir o que tememos é descobrir quem somos", acho que, ouvindo o barulho do liquidificador, olhando pra tela preta, no escuro da sala do meu apartamento, eu estava dizendo para mim mesmo, assumindo pra mim, que  estava com medo. Não era um medo latente. Ou algo complexo como o temor da morte, que mim era tolo o não temer, esse fato que leva ao desconhecido, da mesma forma que aceitava que ele fosse necessário, e inevitável. E verdade seja dita... Eu estava realmente com medo agora, um medo constante e desgastante.

Mas eu precisava fazer alguma coisa, era necessário. E inevitável.

Respirei fundo e fiquei de pé, meu corpo estava doendo, alonguei os braços os flexionando pra baixo, numa tentativa qualquer de despertar de vez.

Caminhei em direção a porta do meu quarto e simplesmente o destranquei, sem abrir a porta, então me guiei para a cozinha esperando ver Carl ali. Ainda era cedo demais em um domingo pra Henry ou Brie estarem de pé, e Carl era do tipo que costumava correr pela manhã. Eu até tentei fazer isso a um tempo atrás, mas não funcionou pois eu preferia usar as manhãs para estudar, e com os problemas recentes, eu abandonei a natação que eu fazia por realmente gostar, e a academia (que eu me obrigava a ir umas duas vezes na semana) de vez.

Mas para minha total surpresa, não era Carl que estava ali, mas sim, Elivie. Preparando algum tipo de shake.

Bonjour Liv. — Falei, me encostando no batente da porta.

Bonjour mon ami, você parece péssimo. — Ela respondeu dando um sorriso acolhedor, despejando o líquido grosso e amarelado em um copo.

— Você não está errada. — Murmurei. — Quando você chegou da França? — Perguntei me guiando até a bancada e me sentando ali. A encarei sorrindo sem muita força, era engraçado pois Elivie, que poderia ser uma modelo da Victoria Secret's, estava dentro de um curioso pijama de frio estampado com vaquinhas, e com um bigodinho amarelo de vitamina. Ela era perfeita pro Carl.

— Logo depois que você saiu..  Queria estar no seu aniversário. — Disse dando outro gole na bebida estranha. — Quer? — Perguntou me estendendo o copo. Neguei com a cabeça.

Ignorando as Leis de Newton Onde histórias criam vida. Descubra agora