3 | os três mosqueteiros

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Por HENRY BERKELEY-MORRIS
17 anos
O'Flahertie College - Ireland

Existe um limite para a lamentação. Na verdade, eu até gostava de ver como os garotos ricos desse lugar se lamuriavam por coisas banais, sendo que não são eles que tem que viver em uma casa de classe média em um bairro qualquer, se virar para manter uma bolsa, e ainda por cima ter um pai que tem outra família, irmãos mais velhos imprestáveis e uma mãe psicóloga que mal ganha o suficiente para me dar o que eu quero, mas se vê no direito de pegar no seu pé para que eu siga as regras e seja um "bom rapaz".

Eu sou o que preciso ser para sobreviver. Acho que isso basta.

Mas a lamentação agora era de Carl Archie que tinha levado um "não vamos mais ficar, gosto de outro" de uma patricinha qualquer que ele estava saindo. Não era nada sério, pois um cara como ele sequer deveria sentir o fora de uma mulher. Era só pegar outra.

Carl Archie era tudo o que eu queria ser. Estupidamente rico, de uma família influente, pais perfeitos que lhe dão liberdade pra fazer e gastar o quanto quer e ele nem aproveita como se deve. Ele se dá bem com as garotas e todos nesse colégio ou fora dele puxam o saco dele. Mas eu me contentaria em ser seu melhor amigo e aproveitar as regalias disso.

Mas tinha um empecilho: Jonathan Himmes. Ele era o melhor amigo de Carl.

O maldito Jonathan Himmes.

Chegou no colégio já tomando tudo o que construí, as amizades influentes, e até minha cama queriam dar para ele. O menino rico com pais de merda nada tem de especial, era só mais um mimadinho insuportável de rostinho bonito, que a família Archie, tratava como se fosse da família deles, pois era um herdeiro afinal, o chamavam para todos os finais de ano e viagens, junto, ia Benjamin Von Ludwig a peça menos importante e descartável, que era filho de um importante advogado britânico, e que também, era advogado dos Archie.

Sobrava a mim, o bolsista qualquer de Dublin, sempre era convidado para tudo, mas ficava a margem, e quando me juntava a eles nessas viagens, sabia que era por caridade, porém aproveitava como podia. Por vezes minha mãe não deixava que eu fosse, pois eu já ficava quase todo o ano no colégio, então, estava sempre preso a Irlanda com minha família em férias ridículas passadas olhando a neve cair e...

Meus pensamentos foram cortados por Carl.

— (...) sabe disso, não é Henry? — Perguntou do meu lado, ambos ainda estávamos sentados no gramado perto de um salgueiro, podíamos ouvir os outros jogando lacrosse ao longe, era verão, não havia sol de verdade nas geladas terras nórdicas, mas era o que tínhamos.

E o olhei, não fazia ideia do que ele tinha dito.

— Não ouvi o que falou. Pode repetir? — Soltei, contendo minha impaciência, pois ele com toda certeza estava falando da tal Vicky e como ela não quis mais nada com ele.

— Não, não vou repetir, pois você não quer me ouvir. — Disse me olhando seriamente.
Ninguém disse que ele era burro.

— Não é isso, eu só me perdi em pensamentos, estou com problemas em casa. Minha mãe continua a beber e descontar em mim por meu pai ter ido embora. — Falei minha mentira, para que eles evitassem meus pais, talvez eu tenha criado situações onde esses sejam repulsivos. Meu pai com toda certeza, não vale muita coisa.

Ele assentiu, recuando.

— Mas está tudo bem? Sua mãe é psicóloga, isso é tão contraditório. Sabe que se precisar, Jonathan, Ben e eu podemos te ajudar. Eu sou seu amigo, sabe que estou sempre a disposição para conversar, se precisar fugir da Irlanda também. — Ofereceu, mas quando eu estava prestes a agradecer e falar que talvez "passar um tempo longe de casa" ou melhor, em Mônaco na mansão dos Archie, seja bom para esfriar a cabeça, o Himmes surge como um fantasma, completamente vestido de preto, o mais irônico.

Ignorando as Leis de Newton Onde histórias criam vida. Descubra agora