le rouge et le noir.

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obs.: a obra não tem intenção alguma de atacar qualquer religião ou crença, se você é sensível ao assunto, peço do fundo do coração que não leia o conteúdo e evite o seu e o meu descontento. 

Aqui foi retratada uma situação alternativa, o que quer dizer que não é relacionado à realidade atual. Possivelmente em épocas mais obscuras, como a idade média, mas raramente atualmente. Não leve a agressividade do texto pro coração e não interprete como uma generalização. Não propague intolerância. 

Boa leitura.

...

Luo Binghe escondeu com carinho por baixo da própria cruz todo o desejo pelo seu senhor, honrando suavemente seu nome… beijando as pontas dos seus dedos e se ajoelhando abaixo dos seus pés.  

Ele carregava no peito, no cordão pobre, como um crucifixo de fé genuína, seu segredo e a prestatividade dos seus pensamentos; correndo soltos no meio da noite, nas suas paisagens sombrias ou nos sonhos tranquilos de Shen Qingqiu. 

Às vezes, empurrando o padre sobre os lençóis dos seus palácios imaginários ou lambendo suas coxas sob o tecido da bata. Levando o homem a loucura genuína todas as noites, acalentando sua mente inocente e ferindo seu orgulho agressivo. 

Shen Qingqiu não se importava em gemer e gritar seus palavrões naquele lugar. Ele se tornava o homem que gostava de ser: lascivo, egocêntrico e orgulhoso. Coberto do pecado mais sujo e da mais espessa vergonha. Porque ele amava suas noites com aquele demônio, mas detestava sua fé enraizada. 

A forma como era provocado pela língua venenosa do homem, como simplesmente se excitava diante da humilhação, dos hematomas e do abandono psicológico. Como se sentia sujo todas as manhãs, com prazer sujando suas roupas de dormir.

Era impossível encarar os fiéis, os olhos inocentes de todos aqueles que buscavam paz na sua capela. Dos seus irmãos e irmãs e, por fim, das crianças. As crianças órfãs que tomavam seus ensinamentos todos os dias e prestavam-se para uma entidade desconhecida, alienando suas mentes lentamente. Eles saboreavam a fé e o convívio com uma série de padrões distorcidos pela mão humana, eram ensinados sobre o fogo do inferno e sobre a ira de Deus. 

Eram ensinados a temer e obedecer, porque era o melhor para todos eles… pelo menos melhor do que voltar para as ruas.

Shen Jiu sabia disso, porque foi assim que ele foi moldado. 

Ele também sentiu o desespero e o desconforto de ter sua identidade perdida pelos dogmas, mas ainda mais o medo de definhar nas ruas, de ser arrastado pra um bordel ou se tornar comida de porco… de ser pego pelo mercado negro e se tornar brinquedo de algum defunto rico.

A sociedade moldou as crianças pobres assim, levou seus corações miseráveis à fé de deus e cristo e lhes ensinou que ali era seus lugares; ajoelhados, pedindo misericórdia e vivendo uma vida regrada de pão e água. 

Porque não existia amargura na fome, na dor e no desespero. Porque todos os que não nasceram ou se deitaram na cama certa estavam destinados ao fracasso e à doença, como seus pais, tios e avós. 

O ouro das catedrais refletia isso e Shen Jiu lembra de secretamente pensar em quanto poderia comer se aquele lugar simplesmente não desmoronasse algum dia, se alguém veria ele enfiar alguns pedaços de ouro nas suas roupas.

Mas era só um pensamento. 

Quando Shen Jiu finalmente se viu livre dos Qiu, ficou preso aquele homem desgraçado, se deitou sob ele e sofreu por mais três anos até ser encontrado, destruído e quebrado. Impossibilitado até mesmo da filiação de cristo, porque já havia perdido tudo há muito tempo. Ele se ajoelhou demais por uma vida e não existia mais glória alguma em estar de joelhos.

Servir não era uma honra, mas uma necessidade.

Ele carregou isso por décadas e alimentou cada dia mais sua amargura. 

Shen Qingqiu, que era fiel apenas aos próprios ideais mas ainda se alimentava da bíblia todos os dias e entregava isso aos outros. Se alguém devia ser chamado de demônio então era ele.

Não havia medo, nunca houve medo em estar com Binghe, porque aquele homem deixava que ele fosse quem ele era e gostava do seu lado verdadeiro. Ele o alimentava desse tipo de liberdade e consumava seu desejo diante da sua vontade.

Ele era claramente aquele que recebia sua carne mas ainda era aquele que mandava e o outro obedecia. Binghe tirava o melhor de si, fazia com que desejasse que seu sono fosse eterno. 

Tão obediente e esforçado.

Quando revelou esse desejo ao demônio, ele riu e disse que não era necessário. 

Realmente não era, porque quando acordou na manhã seguinte e foi fazer seus deveres, aquele que aparecia somente nos seus sonhos estava sentado diante de si, sorrindo docemente enquanto juntava as mãos numa reza silenciosa. 

De noite seus desejos vieram à tona e sua fantasia de infância se realizou. O fogo tomou conta de tudo.

As crianças foram magicamente salvas do incidente, nenhuma machucada. Coincidentemente na mesma época em que um nobre registrou um orfanato prestigiado no município. 

Todos os adultos morreram nas chamas e a catedral queimou por dias, até que sobrassem apenas os dentes de seus cadáveres. 

Ou assim deveria ser. 

Shen Jiu finalmente se viu livre e Luo Binghe finalmente pode estar fisicamente ao seu lado. 

Fim.

la gloire à mes genoux - bingjiuOnde histórias criam vida. Descubra agora