Renée olhou a rua.Estava num ponto de observação perfeito: a biblioteca ficava na esquina oposta ao Grand Hotel.O enorme e importante edifício tinha lindas janelas bastantes altas.De lá,ela podia ver o que acontecia do lado de fora,e se fosse vista,teria tempo de sobra para escapulir antes de alguém conseguisse chegar ao segundo andar. Agradeceu a Deus pelas entradas e saídas dos fundos,por onde avistara o carro de Peter Randon,e estava esperando para ver em que direção ele seguria. Ver o automóvel de Peter lhe causara uma sensação terrível,quase tão ruim quanto a que experimentara ao falar com ele ao telefone. Renée relembrou tudo.Como havia sido tola e fraca.Lori sua colega de trabalho ,que lia quinze livros de romance por mês,lhe dissera uma vez que existia uma sigla que os leitores usavam para descrever heroínas que faziam besteiras homéricas. - BDPV. Sou eu. - Suspirou,descansando a cabeça no beiral da janela. - Burra Demai Para Viver. - disse,distraído,um leitor á mesa ao lado,sem erguer o nariz de seu exemplar de A CHAMA DA PAIXÃO. Apesar da semana que tivera,Renée engoliu uma risada.Burra Demais Para Viver era tudo o que ela era. E por uma dessas estranhas ironias da existência,estava bem na frente do setor de romances. - Pois é... - E voltou a observar. Viu Eric saindo apressado do Grand Hotel,quase derrubando um pedestre na calçada.No mesmo instante,Random saltou do carro e foi até ele.Os dois homens tiveram um breve confronto no qual ambos estufaram o peito e moveram com vigor os braços.Ao vê-lo Renée sentiu-se toda arrepiada,apesar da temperatura agradável da biblioteca. Não que Peter Random fosse pior dos vilões.A questão era que ele tinha uma conciência muitíssimo elástica. Renée fora contra a contratação dele desde que vira sua ficha pela primeira vez.E sua opinião foi desconsiderada,uma das poucas vezes em sua carreira,pelo dr Jekell. - O sujeito tem antecedentes criminais - dissera Renée pela quinta vez,indicando o fax que recebera da Prisão Estadual de Stillwater. - Várias acusações por assalto.Random é incapaz de passar por um bar sem ficar bêbado e arrumar uma briga! - Ótimo - respondera o dr Jekell,sem nem erguer o olhar dos documentos que analisava. - Então,o homem sabe como raciocinam os bandidos. - Ele é uma cobra. - Eu sei. - E fará qualquer coisa por dinheiro,chefe. - Ei,loirinha... - Eu não sou loira,dr Jekell. " Se você olhasse par algum outro lugar além de meus seios saberia disso." - Já estou convencido.Não adianta insistir.Contrate-o logo e vá embora. -Mas o senhor contratou a MIM - tentara,mais uma vez.- Para cuidar dos interesses de segurança da sua empresa.Não me parece que permitir que Peter Random tenha acesso a todos os nossos materiais sigilosos seja... - Adeus. Dispensada.E Renée o contratara.E Peter,apesar dos desvios, provra ser um bom empregado.Bom demais,na realidade.Não importava sobre quem precisassem informações,Random sempre as conseguia. Sem dúvida aquilo tinha muito a ver com sua aparência.Ele era imenso,com mais de um metro e noventa e cerca de cento e vinte e cinco quilos,nenhum deles de gordura.Tinha cabelos escuros e espessos,com um ligeiro e prematuro toque grisalho,e os olhos azuis frios de um espião alemão.Seus punhos,quando cerrados,pareciam bolas de boliche.E quando olhava para alguém,tinha grandes chances de conseguir o que queria em poucos segundos. Random também era inteligente.Pior:era tenaz,o pitbull pessoal do dr Jekell.Quando metia os dentes em alguma coisa,não soltava até ficar satisfeito.Renée achara que Peter era uma cobra,mas nunca negara o fato dele exercer um tipo de atração selvagem sobre as pessoas. Que irônico! Havia hesitado em contratar um ex presidiário e agora ela era ladra,enquanto Peter se tornara o funcionário do mês. Era perturbador saber que Jekell colocara Peter atrás dela e aterrorizante descobrir que Random e Eric estavam coordenando sua captura .Não era possível que... O que era aquilo?Random e Eric estavam partindo para agressão física em plena Seventh Street! Decerto discutiam sobre o melhor embrulho no qual entregá-la ao dr Jekell. Então,Eric desferiu o primeiro golpe,um belo cruzado de esquerda,que deve ter deixado Random tonto. Renée ficou observando,boquiaberta,enquanto a troca de sopoapos se tornava uma luta franca,do tipo que só se via em bares ou reuniões de família.Os filmes fizeram as lutas corporais parecerem normais,glamourosas até.A realidade ,porém era bem diferente.Não havia graça nenhuma quando os envolvidos eram dois rapazes em pleno vigor.Era capaz até de haver morte. Aos poucos,alguns transeuntes e lojistas começaram a parar para observar,mas ninguém interferiu,o que era uma atitude sábia,porque,na vida real,a pessoa que tentava interromper uma briga acabava indo parar num pronto-socorro. Random recebeu um golpe,oscilou para trás,mas se recuperou com uma rapidez impressionante,e acertou o joelho na virilha de Eric. Eric bloqueou o golpe com a coxa e atingiu Random mas uma vez no rosto.No momento seguinte,estavam rolando pelo calçamento,agredindo-se com punhos e pernas. Renée não sabia ao certo se devia comemorar ou descer e parar tudo,antes que algum dos idiotas quebrasse a cabeça dura.Por um lado,adorava ver Eric levar uma surra.Por outro ,detestava vê-lo apanhar. Não.Já cometera erros suficientes naquele dia para toda uma vida.Eric estava por conta própria e se perdessse,ela não derramaria uma só lágrima. "Aliás,chega de olhar pela janela.Agora é o momento de agir." Determinada,desceu as escadas para o primeiro andar e abordou o primeiro bibliotecário que viu: - Sou viciada.Preciso de uma dose. O rapaz sorriu para ela,muito amigável. - Tenho o mesmo problema.Terceiro piso,perto das janelas,do lado leste do prédio. Poucos minutos depois,Renée acessou seus EMAILS recebidos em casa de um dos computadores públicos que encontrou.Pulou as malas-diretas e concentrou-se naqueles vindos do trabalho.Talvez alguém tivesse alguma informação,,alguma pista que ela pudesse... " Oh,não!"
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Doce Estranho
ActionRenée Jardin não pretendia se tornar uma ladra. No entanto,quando saiu da empresa em que trabalha,carregando acidentalmente a descoberta científica mais importante do século,sua fuga começou.... No desespero de escapar,Renée dá um ardente beijo no p...