Era o fim de uma longa semana e Sakura sabia que devia ir para casa, mas o simples pensamento de enfrentar o forte calor do fim de agosto era o bastante para mantê-la sentada na cadeira com o ar-condicionado central ligado à temperatura máxima. O expediente havia se encerrado. Ela virará a cadeira e passara os últimos 15 minutos contemplando a paisagem através da janela, relaxada demais para perceber que estava ficando tarde. O sol há muito havia se posto e as estruturas dos deslumbrantes arranha-céus de vidro e aço da Califórnia delinearam-se contra um céu de bronze, o que significava que perdera o noticiário das seis horas novamente. Era sexta-feira à noite. Seu chefe, o sr. Senju, deixara o escritório uma hora atrás. Não havia nenhuma razão para não se unir ao êxodo de pessoas nas ruas, contudo se sentia relutante em ir para casa. Esforçara-se muito para transformar seu apartamento em um lar o mais confortável possível, mas ultimamente, a solidão que sentia lá dentro a assombrava. Podia enchê-lo com música, alugar um filme e assisti-lo no vídeo, relaxar lendo um livro e fingir que estava em qualquer outro lugar do mundo, mas ainda assim estaria só. Nos últimos tempos, estava se tornando um estado de isolamento, em vez de solidão.
Talvez fosse o tempo, pensou esgotada. O verão abafado afetava a todos, mas no fundo sabia que não era o calor que a estava aborrecendo. Era a sensação inevitável de tempo passando. Logo o verão cederia lugar ao outono. Tinha a impressão, mesmo com o forte calor, que podia sentir o frio do inverno nos ossos. Era mais que o simples transcurso de outra estação. Era sua própria mocidade esvaindo, escoando inexoravelmente pelas suas mãos. Os anos passaram e ela se dedicara apenas ao trabalho, porque não havia mais nada. Agora percebia que todas as coisas que desejara na vida passaram por ela. Não desejava riqueza ou bens materiais. Desejava amor, um marido, filhos, uma casa repleta de risadas e segurança, coisas que nunca tivera quando criança. Havia parado até mesmo de sonhar com elas, percebeu, o que era o mais triste de tudo. Entretanto, nunca tivera uma chance de fato. Apaixonara-se pelo homem que não pôde ter e pelo visto era uma dessas mulheres que só amam uma vez na vida.
Nesse instante, o telefone tocou. Fez uma leve carranca em seu cenho ao alcançar o receptor. Quem estaria ligando para o escritório àquela hora?
- Sakura Haruno - disse ela num tom vívido.
- Sakura, é Naruto.
Seu coração deu um salto, ficando preso na garganta. Não precisava ouvir o nome dele para saber quem estava do outro lado da linha. Conhecia aquela voz tão bem quanto a sua e o sotaque apressado, que não melhora, apesar dos anos na Califórnia, o sul sempre denunciaria suas origens. Mas ela engoliu em seco, endireitou a espinha e fingiu tratar-se de apenas outra chamada empresarial.
- Sim, sr. Uzumaki?
Ele emitiu um som impaciente.
- Droga, não me chame assim! No escritório tudo bem, mas isso... não se trata de negócios.
Sakura engoliu em seco novamente, mas não conseguiu dizer nada. Será que o teria evocado? O simples fato de pensar nele o fizera ligar? Afinal, fazia meses desde que ele não dissera algo além de um cortês "bom dia" sempre que entrava no escritório para falar com o sr. Senju.
- Sakura? - Agora parecia realmente impaciente e a raiva ascendente era revelada pelo modo como rosnou o nome dela.
- Sim, ainda estou aqui.
- Vou vender a casa - disse ele abruptamente. - Estou encaixotando os pertences de Hinata e Hanabi... e do bebê... e vou mandar tudo para o exército da Salvação. Mas achei uma caixa de bugigangas que Hinata guardava. Retratos e coisas que vocês duas fizeram juntas no colegial. Achei que talvez você quisesse ficar com isso. Se não...
A frase não foi concluída, mas Sakura sabia o que ele ia dizer. Se não, ele as queimaria. Pegaria todas aquelas recordações e as destruiria. Estremeceu por dentro só de pensar em pegar a caixa e reviver os anos que vivera com Hinata, porque a perda da amiga ainda era muito dolorosa, mas não podia deixá-lo queimar aquelas lembranças. Talvez não pudesse mexer na caixa agora, mas a guardaria, e então em alguns anos, seria capaz de tirar as coisas lá de dentro e recordar, sem muita dor, apenas com tristeza e saudade.
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Eternal Love
RomanceEm uma fração de segundos, tudo mudara... Depois do trágico acidente que tomara a vida de sua noiva, Hinata, e deixara Sakura sem sua melhor amiga. Naruto deixara de ser o mesmo de antes. Nos dois anos que se seguiram à tragédia, Naruto não sabia ma...