Vivo, porém morto
Embora sonhe sim com a carreira,
Com sentar naquela cadeira,
Esticar-me no seu privilégio
Sem ruga de preocupação
E nem tanta atençãoVivo, apesar de mudo
E, cansado, sigo sisudo,
Desacostumado do som de fora,
Da juntura que se deteriora
No ócio brabo da impotênciaVivo, mas meu destino
Que foi que fiz da caneta dele?Vivo, porém morte,
Porém inércia de pouca sorte,
E tanto quero que pouco posso
A poucos passos de conquistar
O que mereço ou o que suportoE vivo, mas já nem sei
Por quanto tempo,
Porque parei.
E se respiro, me cobro a estrada,
E se me apresso, não sei mais nada.
Que um dia eu quero chegar no fim
E ter o mistério na minha cara –
Por que eu existo?
Por que é assim?
Qual é o propósito de mim?
E rirei à beça das minhas pernas
Que, então cansadas, desabarão
Na cova aberta das minhas mãos
Sem que eu, a tempo, me realize
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Flores de Cemitério
PoesieQuando o meu fim chegar Eu não quero tanto rodeio: Só fim, fade out e sobe o letreiro Quem fica lê, chora e aprende Só que a lágrima uma hora seca A lembrança é que se estende *Arte da capa: "The Triumph of Galetea", de Rafaello Sanzio.