Quanta tristeza sinto!
Eu choro, choro, choro tanto
Que a aversão ao pranto
Me deixa assustado.
Um vazio escavado à mãoBota os intestinos da ideia à mostra –
Eu choro, choro, choro tanto!
Que quanto mais me demoro
Aqui, mais me desencanto.
Mas sigo e desvio e me esgueiro,E vou com o passo perdigueiro
Eu choro, choro, choro tanto
Que tanto faz deitar o sangueOu o suor da testa: ambos têm
O valor já inflacionado,
O mesmo âmbito e vão para
A mesma terra, o mesmo caixão.
Eu choro, choro, choro tantoQue mais falta sentirão do pranto
Que do olho lamurioso sem
Mais brilho e sem visão.
E pó, sem nada mais na mão,
Que fiquem a sentir minha faltaOu não. Eu choro, choro, choro tanto
Que engasgo na baba do próprio canto
Na cova aberta pelas minhas mãos.
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Flores de Cemitério
PoetryQuando o meu fim chegar Eu não quero tanto rodeio: Só fim, fade out e sobe o letreiro Quem fica lê, chora e aprende Só que a lágrima uma hora seca A lembrança é que se estende *Arte da capa: "The Triumph of Galetea", de Rafaello Sanzio.