9. Canto

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Quanta tristeza sinto!
Eu choro, choro, choro tanto
Que a aversão ao pranto
Me deixa assustado.
Um vazio escavado à mão

Bota os intestinos da ideia à mostra –
Eu choro, choro, choro tanto!
Que quanto mais me demoro
Aqui, mais me desencanto.
Mas sigo e desvio e me esgueiro,

E vou com o passo perdigueiro
Eu choro, choro, choro tanto
Que tanto faz deitar o sangue

Ou o suor da testa: ambos têm
O valor já inflacionado,
O mesmo âmbito e vão para
A mesma terra, o mesmo caixão.
Eu choro, choro, choro tanto

Que mais falta sentirão do pranto
Que do olho lamurioso sem
Mais brilho e sem visão.
E pó, sem nada mais na mão,
Que fiquem a sentir minha falta

Ou não. Eu choro, choro, choro tanto
Que engasgo na baba do próprio canto
Na cova aberta pelas minhas mãos.

Flores de CemitérioOnde histórias criam vida. Descubra agora