I
Estive hoje no cemitério
Contando aniversários de caveira
Nas cruzes do esquecimento.Achei tanta gente morta jovem
Que, se viva, já teria cinquenta.
Tanta gente que atravessou o século,
Morreu com a História na soleira da boca.Mas eu nem lá queria ter chegado –
Só fui passando, topei nas saudades.
E coube a mim depois pensar
Que o spoiler máximo da vida
É saber justo onde vou acabar,
Apesar do mistério que se faz sobre as curvas e o caminho.II
No cemitério foi que revi
Quem já não via desde o ano passado
Feito grão não germinado
E tropecei noutra máxima da ida:
É diante da morte que se pensa na vida.E se hoje penso cá na minha
Não deixa de ser influência,
Embora também desânimo de perna,
Dessa cova que se me encaminha
A passos largos de apressado.
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Flores de Cemitério
PuisiQuando o meu fim chegar Eu não quero tanto rodeio: Só fim, fade out e sobe o letreiro Quem fica lê, chora e aprende Só que a lágrima uma hora seca A lembrança é que se estende *Arte da capa: "The Triumph of Galetea", de Rafaello Sanzio.