Sempre me esqueço o quão cansativo é me sentar em uma cadeira durante oito horas quase que seguidas. Mesmo com o horário de almoço e as aulas menos terríveis em laboratório, era quase uma tortura. E no ano passado realmente tinha sido tortura, quando aquele garoto lindo ainda não estava em minha classe, como uma bela distração. Que bela distração aquela...
Na penúltima aula do dia, meu maior pesadelo finalmente chegou. Não que eu realmente estivesse esperando aquele cabelo louro avermelhado ou aquele par de olhos verdes perfeitamente delineados. Muito menos esperava ver a reação de Joseph quando visse a Barbie perfeita em questões de corpo e pele, e todo o resto: Bárbara Meriwether. Esse sobrenome diferente, era o que ela literalmente usava para se apresentar. Quer dizer, quem usa o sobrenome pra se apresentar? Eu, meu irmão e todos os meus amigos temos sobrenomes diferentes. E só o fato de você estudar na faculdade onde estudamos prova que não é necessário uma apresentação com sobrenomes.
Como eu ia dizendo, a garota perfeita chegou levemente atrasada na penúltima aula, porque ela nunca chegava em lugar algum sem chamar atenção. Ela abriu a porta da frente em vez de entrar pela traseira, e cumprimentou o professor com aquele sorriso de "pode respirar agora, eu cheguei". Então, como se seus olhos fossem treinados para meu total e profundo desgosto, se focaram em Joseph. Ele não estava olhando, mas sentiu o olhar fixo dela. Como em todas as outras aulas do dia, ele se sentou ao meu lado, e começou a direcionar piadas e comentários em minha direção. Tentei rir o mais baixo possível para não atrair a atenção da Barbie a nossa frente, mas Joseph era simplesmente impossível de se ignorar.
— Olá.
Ela disse auto o suficiente para não ser ignorada. Me perguntei se ela não tinha um pingo de vergonha na cara afinal, o professor permanecia de pé, esperando que ela se sentasse. Ela discretamente cutucou a garota que estava sentada na frente de Joseph, que juntou suas coisas e liberou espaço. É sério? Estamos no ensino médio ainda?
— Meu nome é Bárbara Meriwether, você é novo não é?
Ela se sentou graciosamente na cadeira, a saia rosa deslisando para o banco como um amontoado de plumas. Ela correu os dedos repletos de unhas bem feitas pelo encosto da cadeira, e o professor finalmente desistiu de esperar. Meriwether sempre se sentava na frente, ela sempre bancava a nerd mesmo todos sabendo que o pai dela comprava as matérias pra ela. Comprava as notas, comprou sua vaga. Joseph não pareceu intimidado, ou envergonhado, ou irritado. Seu rosto exibia puto tédio.
— Você não é cega.
A garota ignorou a alfinetada, e sorriu graciosamente, pronta para se concentrar em sua presa novamente.
— Jamais me esqueceria se tivesse te conhecido.
Ela enrolou o cabelo nos dedos, fazendo com que eu subitamente sentisse a necessidade de anotar o que quer que o professor estivesse escrevendo na lousa. Abri meu computador, e comecei a digitar. Com o canto dos olhos, percebi Meriwether se inclinar na direção de Joseph, depois que percebeu que ele permaneceu calado.
— Que lindas essas correntes.
Virei o rosto completamente, no momento em que as unhas bem feitas calçaram a corrente fina ao redor do pescoço de Joseph. O garoto pegou aquela mão pelo pulso, e rápido como a luz a afastou.
— Não toque.
Sua voz saiu firme e decidida, grave reverberando pelas carreiras. Como se a noção atingisse aquela cabeleira clara, Meriwether entendeu o aviso, e seu um sorriso falso antes de afastar a mão.
— Me desculpe.
Ela murmurou e se virou para frente, finalmente. O olhar sombrio que Joseph carregava se foi no segundo em que nossos olhares se encontraram. Um arrepio percorreu minha espinha, o que era isso? Por que eu estava olhando para a boca dele agora? Me virei de volta para a tela do meu computador, me concentrando nas cinco palavras que havia escrito. " Portfólio, Infeliz, Descarada, Abusada, Lindo" acho que me esqueci de anotar coisas da lousa.
As duas últimas aulas passaram como um raio. Evitei olhar na direção de Joseph, e ele aparentemente evitou minha presença também. Quando acabou tudo, ele mal havia aberto o material, então saiu antes que eu terminasse de colocar meu computador na mochila. Estranhei o desânimo que tomou conta de mim quando não o achei na saída, afinal, eu não estava esperando um pedido de namoro nem nada. Mas para minha felicidade, Rita me esperava perto do lado de fora do portão.
— Oi você. — ela disse alegre.
— Olá.
Eu estava feliz por ter uma amiga. Muito feliz por ser aquela garota alegre e sorridente, senti que já era hora de tentar levá-la para casa. Será que sou apressada?
— Escuta... — comecei.
Com Dani em casa, nossas refeições em casa eram sempre especiais. Por isso, sempre que podia eu dava um pulinho em casa para beliscar algo, quando não era uma de suas invenções malucas. Minutos antes do fim da aula, eu já havia conferido o jantar do dia.
— Você gosta de escondidinho de carne?
Os olhos da garota se arregalaram, e um sorriso se escancarou em seus lábios.
— Sim! Muito!
A empolgação de Rita era contagiante, talvez por isso eu tenha me animado ainda mais.
— Certo, quer vir jantar em casa?
O sorriso dela se alargou, e ela balançou a cabeça sem parar em confirmação. Então indiquei onde Math estaria com o carro, mesmo que nossa casa fosse perto. Eu era a última a terminar a aula, então os garotos se revezavam para me buscar, já que eu ainda não tinha coragem de usar minha carta de condução. Certo, eu literalmente não sei como consegui a carta, já que sou uma péssima condutora. E já que acredito nisso com minha vida, nunca, nunquinha mesmo seguro um volante nas mãos. Mesmo que minha vida dependa disso.
— Maninha. Quem é sua amiga?
Meu irmão nos esperava no estacionamento do campus, o corpo recostado na Mercedes negra, os olhos cobertos por óculos escuros, os braços cruzados na frente do peito. Ele estava especialmente engraçado com o cabelo mel desajeitado, aquela calça jeans larga e a camiseta manchada de tinta velha. Aquela camiseta era velha, aposto que ele havia se arrependido da aparência quando viu Rita ao meu lado. Ele ergueu os olhos acima da cabeça quando abriu a porta para ela, revelando os olhos azuizinhos como faróis, seu charme especial.
— Quem é ele?
Rita sussurrou animada em minha direção, no momento em que apenas nós duas estávamos dentro do carro. Aposto que Math pode ouvir, porque sorriu logo que se sentou no banco do motorista.
— Rita, esse é meu irmão Matheus, Matheus, essa é Rita.
Meu irmão dirigiu até nossa casa sem dizer nada, provavelmente furioso por não ter sido avisado da visita. Eu preferia assim, meus amigos ricos sem roupa de marca, com os cabelos sem um pingo de gel, pegos em sua zona de conforto. Particularmente havia me apaixonado por Pedro dessa forma. Math estacionou no meio-fio bem na frente da casa, e pulou do carro antes de nós. Ele abriu a porta para Rita, e quando ela entrou, a cena como sempre foi cômica.
Antoni e Pedro brigavam pelo controle remoto da televisão, Daniel usava um avental rosa choque combinando com um chapéu de chef que eu havia dado para ele, e balançava uma colher de madeira na direção dos garotos com veemência.
— Antoni, Pedro, larguem o controle. — Ordenei.
Os garotos obedeceram, e quase pularam quando viram Rita ao meu lado.
— Essa é Rita.
A garota arregalou os olhos, diante daquele mar de garotos altos e lindos. A mesa estava posta, e conforme andamos para ela, comecei a apresentar os garotos para ela.
— O Matheus você já conheceu, é meu irmão. Aquele ali é o Daniel, ele cozinha para nós quase sempre, Aqueles são Toni e Pedro, e.. bom... essa é nossa casa.
A garota sorriu novamente, um lindo sorriso que iluminou todo o rosto. Então fomos jantar. Mas quase me arrependi, porque percebi que algo aconteceu. Conforme jantávamos, meu irmão não tirava os olhos da minha nova amiga. Isso já seria ruim o bastante, porque sempre dava errado se envolver com o irmão de uma amiga, ainda mais se o irmão fosse Matheus. Mas pior que isso... notei que Antoni a encarava também.
Céus, odeio triângulos amorosos, e já conseguia prever um.
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Garota em gotas
RomanceMargarett vive com seu irmão e seus três melhores amigos em uma casa perto da faculdade onde estudam. A garota, que tem o QI acima da média, ao mesmo tempo não tem experiência em outros assuntos, como os do coração. Ao mesmo tempo, assiste seu irmão...