9

27 2 0
                                    

Não sei desde quando tenho pânico de lugares fechados, nem o porquê. Só sei que tenho, e as crises são piores depois que acaba. Quando eu estou lá, esmagada por pensamentos, tudo o que sinto é o pânico. Mas o depois, trás a vergonha, e o sentimento de: "Por que diabos chorei por isso?! Por que diabos tenho tanto medo disso!?". Certamente eu não morreria esmagada entre adolescentes universitários bêbados em uma cozinha cheia. Mas explicar isso para meu cérebro no meio de um surto? Nunca fui capaz. Agora Joseph me encarava do lado de fora da casa dos trigêmeos, com os olhos cheios de preocupação. Engoli meu orgulho— que já não era muito. — e tentei explicar minha mente bagunçada.

— Me desculpa. E... obrigada. É que quando eu fico no meio de muita gente, ou em um lugar muito apertado eu... entro em pânico.

Joseph parecia pensativo, analisava meu rosto com cuidado. Então, em um movimento repentino e inesperado, ele estendeu suas mãos na direção do meu rosto. Seus dedos gelados alcançaram minha pele quente, a pele grossa deslisando pela pele fina, a fricção do contato me causando arrepios por todo o lugar. Então ele se aproximou. Foi só um passo, mas pareceu que ele estava separado de mim metros antes. Joseph acariciou minha bochechas com os dedões, segurou meu rosto com cuidado, como se fosse um pedaço de algo especial. Ele limpou minhas lágrimas. Eu me sentia quebrada, envergonhada, tal chorosa, que chegava quase a ser...

— Garota em gotas.

Ergui meus olhos para os seus, nos conectando debaixo daquele telhado marrom. Pequenas gotas de chuva começaram a cair acima de nós, o que só incrementava ainda mais o momento. Fechei os olhos. Senti o metal frio dos dedos dele na minha pele. Senti as pequenas cargas elétricas que sua pele causava em mim. Então o senti se aproximar. Seu rosto se abaixou até bem perto de mim, pude sentir os milímetros de distância entre nossas testas.

— É uma forma linda de descrever uma garota chorosa, não acha? — Ele sussurrou contra minha pele.

Eu ardia, respirava com dificuldade, mantinha as mãos imóveis ao redor do corpo. O que ele estava esperando? Não sou lá a garota mais experiente do mundo, mas de acordo com os filmes e livros, não é agora que ele me beija?

Pelo visto não. Porque Joseph se afastou, e como se quebrasse uma corrente entre nós, deu um passo firme para trás. Meus olhos estavam abertos agora, encaravam o chão com firmeza. Eu havia entendido errado? A forma como ele me tocou não era intencional? Eu estava imaginando coisas? Me senti uma idiota. Quis ter meu próprio carro para sair dirigindo adoidada pela noite, desesperadamente em direção à minha casa. Queria sumir dali. É mais uma vez, a onda de lágrimas ameaçou aparecer.

— Preciso procurar meu irmão. Sabe como é, preciso ter certeza de que ele não está bebendo.

Forcei um sorriso e não olhei nos olhos dele antes de partir porta adentro, aliviada pela multidão ter diminuído. Subi as escadas do sobrado e procurei o banheiro, mas estava trancado. Me sentia tonta. Havia bebido demais? Ou era o efeito entorpecente daquela respiração abafada contra meu rosto? Ele tinha cheiro de menta. Menta e cereja, uma linda mistura. E eu me odiava por querer sentir aquilo de novo.

Enfiei a mão no bolso da saia e busquei pelo meu celular, com o objetivo de ver as horas. Assim que o puxei, um gemido de desânimo escapou da minha garganta. Ainda eram onze e quinze, o que significava que meus amigos iriam querer ficar pelo menos mais uma hora no mínimo. E eu não dirigia. Encostei as costas no corredor e observei o corredor quase vazio, exceto por mim e um casal que estava aos beijos mais pro fundo. Afundei até o chão, e me sentei ali mesmo, depois que constatei a falta de vômito ou qualquer líquido estranho no chão.

Liguei a tela do celular mais uma vez, e fiz o que qualquer garota inteligente de dezoito anos não faria depois de tomar um fora de um garoto: o procurei no Instagram. Abri o aplicativo, e fui direto pra a lupinha de pesquisas no canto da tela. Joseph Leonardo, tive esperanças de que não haviam muitos. O primeiro perfil era inteiramente de desenhos. Passei rápido por ele e cliquei no próximo, onde a foto de perfil revelada um garoto de costas, de cabelo e jaqueta negros. Era ele. A primeira foto era uma paisagem bonita, um por do sol na praia com um garoto sentado na areia. De costas. Na segunda foto, ele abraçava uma garota loira, cujo o rosto era escondido pelo dele. Ele sorria para a câmera, tão natural e abertamente, que meu estômago se revirou. Era sua namorada? Senti meu coração se apertar, será que ele era gentil demais para me dar um fora? Rolei para a próxima foto, e pude jurar, não tinha visto nada mais lindo na vida.

Joseph estava sem camiseta, posando para uma foto aparentemente de capa de revista. O filtro deixava tudo em preto e branco, o que o tornava impossivelmente sexy na tela do meu telefone. Ele estava sentado no chão, apoiando as costas em uma parede branca, os olhos fechados e a cabeça erguida, a roupa nitidamente feita de forma meticulosa para ele. Camiseta branca e calça preta, correntes nos bolsos, nos pulsos e no pescoço, o nariz anguloso é charmoso apontado para cima. Os lábios estavam semi abertos, o que me fez subitamente lembrar do momento em que quase os beijei. Aqueles lábios meio cheios, que agora eu desconfiava terem donos. Os encarei mais um pouco. Eu queria aqueles lábios.

— Quem é?

Rita perguntou animada, se jogando no chão ao meu lado. Seus cabelos longos estavam presos em duas tranças boxeadoras, revelando completamente o rosto perfeito com uma pitada de maquiagem leve. Como sempre, ela sorriu. Desliguei o celular rapidamente e o guardei no bolso, tentando mudar de assunto.

— Ahh, ninguém. Veio com seu irmão?

Me virei para ela, pra conversarmos frente a frente corretamente. Ela mergulhou no assunto, me aliviando por não ter que explicar quem estava stalkeando.

— Cheguei faz um tempinho já. Ele saiu pra procurar uma garota, e faz um tempo que não o vejo.

— Uma garota hein.

Me inclinei para frente, forçando um tom de malícia de brincadeira. Era fascinante como Rita se envolvia nos assuntos, contava tudo com detalhes em perfeição.

— É, ele tá impressionado com a existência da garota, fala dela o tempo todo, mas simplesmente não admite que gosta dela.

Rita falava com alegria, como se ver o irmão daquela forma a deixasse transbordando. Mas de repente, seu rosto se fechou. Ela mordeu o lábio inferior e examinou o piso de cimento queimado abaixo de nós.

— Mas isso é perigoso.

Sua voz saiu nítida e clara, quase que entorpecente. Os ruídos da festa pareciam desviar de nós, como se uma bolha de seriedade tivesse sido criada ao nosso redor.

— Por que?

— Porque... ele é perigoso. — Ela tentou explicar melhor quando franzi a testa. — Não pra mim, não pra a maioria das pessoas. Ele é perigoso pra ele. A garota que fez ele ser expulso... me fez ver isso. Quando ele gosta de alguém, coloca a pessoa acima dele, mesmo quando se machuca no processo.

Eu queria saber mais. Rita contava de uma forma tão cativante, que pensei que precisava saber mais. Mas também entendi que seria invasão de privacidade encher a garota de perguntas sobre um irmão que nem conheço.

— Ei vocês, querem uma amiga?

Uma garota despontou a cabeça pela escada, erguendo um copo cheio. Seus olhos eram escuros como a noite, o cabelo escuro na altura dos ombros, e a pele rosada.

— Claro. — Rita respondeu.

A garota se sentou perto de nós, e da forma mais aleatória possível, ganhei mais uma amiga.

— Meu nome é Clara.

Nos apresentamos também. Meia hora de conversas e muitas risadas depois, encarei as garotas perto de mim e me lembrei, de como pensava que nunca teria uma amiga. Olhe para mim agora! Quem sabe, eu talvez seja capaz até de achar um amor...

Garota em gotasOnde histórias criam vida. Descubra agora