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Ela é uma garota forte se escondendo por trás da máscara de uma menina frágil. Engraçado não? Geralmente é ao contrário. Ela quer que todos nós pensemos que ela está sendo cuidada por nosso amor, quando na verdade é ao contrário. Céus, como amo essa garota.

Antoni.



Era nossa primeira briga de casal, e eu me encolhia na cama dele para não engolir o orgulho e lugar de volta. Certo, talvez não fosse realmente uma briga, já que ele estava me mandando mensagem para pedir desculpas, e apenas eu havia ficado brava. Mas eu odiava aquela situação. Antoni ter se colocado entre mim e Matheus, eu sabia que hora ou outra isso ia acontecer. Mas eu podia culpá-lo por querer se manter imparcial? "Se coloque no lugar dele", foi o que Daniel me ensinou a fazer. Eu não gostava nem um pouco.

No meio da aula meu celular apitou mais uma vez. Era a professora compreensiva de anatomia, então eu não tinha muito o que temer ao pegar meu celular sorrateiramente. Mas com a mão esquerda tudo fica mais difícil, e no exato momento em que eu consegui reproduzir a senha, o diretor entrou na sala, e eu desliguei o aparelho. Quase grunhi com a insatisfação de não conseguir matar minha curiosidade, quando ele começou a dizer as baboseiras de sempre sobre nossa responsabilidade nas festas que dávamos. Fazia um bom tempo que eu não ia a nenhuma delas, graças às novas reuniões que meu novo grupo de amigos faziam em casa.

Joseph piscou um olho em minha direção, provavelmente pensando o mesmo. Mas eu não retribui o gesto, porque estava concentrada demais em não deixar meu celular cair da posição horrível em que ele estava. Debaixo das minhas coxas na carteira. Fiz uma oração silenciosa para que o diretor se fosse, e aconteceu. Mas em compensação, o professor seguinte entrou, o que simplesmente surtava se visse alguém com um dedo em uma tela digital. Ótimo. Olhei para o relógio, seriam duas aulas com esse abençoado. Então me esqueci da mensagem e me voltei para meu computador.

Meu irmão e meus amigos sabiam que horas eram minhas aulas. Muito raramente eles me mandavam mensagem nesse horário. Rafa não tinha meu numero, Clara só falava pelo grupo, que era silenciado, Joseph estava ao meu lado... o que quer que fosse aquilo, com certeza era sério. E eu estava matando tempo na sala de aula.

Quando o último sinal da última aula tocou, eu já não me lembrava da mensagem. Eu estava rindo com Joseph no meio da rua, andávamos na direção de seu carro. Rita nos encontrou e começou a conversar conosco, e era um dia normal. Eu me esqueci da mensagem, e isso foi o suficiente para ser um dia normal. Até que eu chegasse em casa. Olhei vagamente para as jovens cinzentas que decoravam o céu, meu coração aos pulos por lembrar daqueles olhos, que eu provavelmente havia deixado tristes no dia anterior.

Joseph me deixou como sempre, bem na frente do meio-fio da calçada. Me despedi dele e da minha amiga, e saltitei pelos degraus até a porta de casa, desatraquei e entrei. Não notei nada diferente a princípio, deixei minha bolsa na entrada, e tirei os sapatos bem ali. Me dirigi à cozinha e comecei a procurar por um suco ou algo assim, já que as palavras excessivas trocadas com Joseph e Rita haviam secado minha garganta. Água, eu precisava de água. Abri a porta da geladeira e achei a garrafa cheia, enchi um copo e bebi. Tudo isso com os movimentos limitados da minha mão. Ela não doía mais, mas ainda era difícil de abrir e fechar os dedos pela forma como ela havia cicatrizado. Meu médico havia dito que eu precisaria de fisioterapia. Comecei a subir os degraus, começando a estranhar o fato de não ter nenhum dos meus amigos em casa, Dani era pra estar em seu quarto, Pedro supostamente teria passado a tarde aqui também. Quando cheguei ao andar de cima, percebi que nenhum dos quartos estava ocupado. Todos com as portas abertas, e nenhuma alma viva dentro deles. Então, só depois disso, me lembrei do celular que eu havia deixado na bolsa. Celular este, que quando agarrei nas mãos depois de voar escada abaixo, estava sem bateria. Ótimo.

Nos três primeiros minutos em que meu aparelho carregava, eu andei de um lado para o outro no tapete da sala. Liguei a televisão quando percebi que aquilo levaria um tempo. Eu daria uma bronca em mim mesma assim que percebesse a gravidade do assunto. E se fosse algo relacionado ao meu irmão... então eu não sabia o que faria. Onde estavam Dani e Pedro afinal? A luz da tela do celular acendeu-se, e faltou pouco para eu quebrar a televisão quando pulei de cara na mesinha de centro, onde meu celular carregava. Assim que o liguei, as notificações encheram a tela. Muitas mensagens, tanto de Pedro, quanto de Daniel e Antoni. Menos meu irmão.

Engoli o nó que se formava em minha garganta, e li cada uma das mensagens. Comecei pelas de Pedro.

"Met, vc já tá chegando?" "Cinco min, e estamos aí."

Depois as de Dani.

"O voo atrasou, mas chegaremos a tempo da GRANDE CONVERSA. Oq Ce acha q é?" "Tá me dando vácuo agr lindinha?"

E finalmente as de Toni. Ignorei as quarenta primeiras, ainda sobre a pequena discussão do dia anterior, e pulei para as novas.

"Eu juro q não sabia Margarett." "Tá vindo agr? Ele falou com vc?" "Tá ocupada?"

Franzi as sobrancelhas para a tela, tentando entender sozinha tudo aquilo. Sem sucesso. Por sorte, Toni estava on-line. Não pensei duas vezes antes de ligar pra ele. O barulho de espera, um trovão cortou o ar, eliminando o som no momento em que ele atendeu.

— Margarett? Onde você está?

A chuva começou a cair em torrentes, batendo forte contra o telhado da casa. Era como se eu estivesse bem debaixo dela.

— Em casa por que? Não entendi nada das mensagens que você e os meninos me mandaram.

Um tempo de silêncio do outro lado da linha, mais um trovão.

— Como assim? O que não entendeu?

Soltei um suspiro cansado, e então um gritinho quando outro trovão alto estourou pelo céu.

— Aquele negócio de avião. E sobre você não saber de alguma coisa...

Antoni começou uma frase, mas cortou no meio. Então houve uma série de barulhos do outro lado, como se ele falasse com alguém. Vozes familiares começaram a se aproximar do microfone, ficando cada vez mais claras como Daniel e Antoni.

— Conseguiu falar com ela? Ela está vindo?— Era o primeiro perguntando.

— Ela disse que não estava sabendo...

Congelei no lugar. Não estava sabendo o que?

— Met. — Pedro chamou do outro lado — Fica aí tá? Matheus provavelmente esqueceu de te avisar, mas eu volto pra te buscar.

Pedro desligou. Provavelmente deve ter pego o celular da mão de Antoni, porque este me ligou de volta. Mas ignorei, e comecei a procurar pelas chaves do carro.

Garota em gotasOnde histórias criam vida. Descubra agora