Aos poucos, com os cuidados de Kuroo, os machucados de Kenma foram melhorando. Ele ainda falava, constantemente, sobre fugir, mas não tinha coragem de fazer isso sozinho. Kuroo precisava proteger ele, mas não podia abandonar suas responsabilidades e, além disso, os dois eram menores de idade. Kenma não voltou pra escola, não falou com o time ou com Hinata, tudo que ele queria era Kuroo. Nada mais. Sem vídeo games. Sem vôlei. Tudo tinha perdido a graça.
- Hey, Kenma, eu quero te levar pra um lugar. Sem reclamar, ok? - Kuroo já o esperava com a roupa que ele vestiria em mãos, tinha um sorriso safado no rosto, com certeza estava aprontando algo.
Kenma se vestiu, sob protestos e múrmuros.
- Onde nos vamos, Kuro? - Ele fazia aquela cara de gatinho sofrido, Kuroo odiava aquela expressão pois ele daria qualquer coisa do mundo por aquele garoto.
- Surpresa! Eu adoro te deixar surpreso. Vem, você vai gostar.
Eles foram de ônibus, Kenma deixou no ombro de Kuroo a viagem toda, sair o deixava ansioso. Tinha medo de encontrar com o irmão, ele tentava se esconder na figura do mais velho. Alguns minutos depois, estavam em um lago, uma casa no lago no meio da cidade. Ele não imaginava que um lugar assim existia. O lago refletia as milhares de luzes dos prédios próximos, mas era incrivelmente tranquilo. Kenma estava acostumado com o próprio silencio, mas não tinha experienciado estar em um ambiente silencioso, sempre haviam gritos e vozes ao redor dele.
- Gostou, gatinho? Hoje vou te mostrar algo que você vai adorar - Ele sorria, Kenma ficou envergonhado, aquele sorriso era tão doce pra ele.
- Onde estamos? - Ele disse desviando o olhar, manter o contato visual as vezes o deixava desconfortável.
- Ah, é a casa no lago da minha família, mas não se preocupe, não tem ninguém. Vem, eu preparei algo - Kuroo o pegou pela mão e o levou para mais próximo do lado. Lá tinha um balanço de madeira para dois. Eles sentaram juntos, admirando a paisagem em silêncio por alguns minutos.
- Kenma...você contaria pra mim o que aconteceu na sua casa? - Kuroo tinha uma voz séria e cuidadosa. Kenma tremeu, colocou os pés em cima do banco e chegou mais perto do outro, deitando a cabeça no seu ombro de novo. Ele parecia ainda menor daquele jeito, Kuroo passou a mão pelo cabelo dele delicadamente.
- Eu conto...o que você quer saber?
- Me conta sobre como isso começou, sabe, por que chegou nesse ponto?
- Então...Meus pais morreram, os dois juntos, foi o pior momento da minha vida. A assistência social me mandou pra casa dos meus avós, dos meus tios, mas todo mundo disse que não podia cuidar de mim, porque eu sou difícil. Ai sobrou pro meu irmão, ele tinha acabado de se formar. Começou a dizer que eu tinha estragado a vida dele - A voz dele estava embargada, Kuroo o trouxe pra ainda mais perto e o abraçou.
- Ele disse isso, disse que eu estraguei a vida dele desde que eu nasci, porque eu sou insuportável e tirei o posto dele de filho único. Eu tinha uns 10 anos na época, toda vez que eu tentava me defender, ele me batia. Se eu contava pra alguém, diziam pra eu ser grato porque ele não tinha obrigação de ficar comigo depois da morte dos meu pais. Ai eu parei de falar, de tentar me defender. Achei que fosse melhorar se eu apenas me submetesse a tudo que ele queria, mas piorou. Ele começou a me bater sempre, tentando me fazer falar, mas eu já não conseguia mais. Tenho tanto medo dele, Kuroo. Tanto medo que me paralisa. E sempre que alguém tenta me forçar a falar, lembro dele gritando comigo, me causa pânico. Com você foi diferente, você não me forçou a nada.
- Eu nunca te forçaria a nada, sinto muito que tenha acontecido tudo isso com você. - O coração dos dois estava apertado, Kenma atormentado pelas lembranças e Kuroo porque não conseguia acreditar que alguém tão precioso tinha sido tão machucado, ele não sabia o que falar.
- Ele viu eu chegando em casa com você todos esses dias, começou a dizer que não queria nenhum viadinho em casa. Quando ele viu suas mensagens no meu celular, ele surtou, me bateu com tudo que achou pela frente, ainda bem que você foi atrás de mim, eu não ia conseguir sair de lá sozinho.
- Eu nunca mais quero que isso aconteça com você...Te perguntei isso porque seu irmão tá procurando por você, a polícia te colocou como desaparecido, uma hora, vão descobrir que você tá comigo.
O coração de Kenma acelerou e ele se afastou de Kuroo repentinamente, seu olhar assustado brilhava mesmo na pouca luz.
- Não! Não posso voltar! Ele vai me matar! Ele vai me matar se eu voltar! Por favor, não deixa a polícia me colocar lá de novo! - Ele estava em pânico, delicadamente, Kuroo o trouxe de volta para o seu abraço e o segurou bem forte.
- Gatinho, eu não vou deixar isso acontecer. Não vou deixar você esse desgraçado chegar perto de você. Falei com o técnico, ele disse que pode ajudar, mas você vai ter que falar com a polícia. - As lagrimas começaram a correr pelas bochechas de Kenma.
- Kuroo, eu não consigo, não consigo mesmo. Como eu vou fazer isso? - Kuroo segurou o rosto dele e limpou as lágrimas delicadamente.
- Não chora, gatinho. Eu vou resolver isso, vamos dar um jeito. - Kuroo o abraçou novamente enquanto ele parava de chorar. Passaram longos minutos abrigados no abraço um do outro, apesar da intensidade do momento, Kenma se sentia seguro como nunca antes. Foi Kuroo quem quebrou o silêncio.
- Agora preciso que você veja uma coisa, okay? Vai começar a qualquer momento. - Kenma assentiu e olhou para onde Kuroo indicou, eles esperaram por alguns momentos e de repente, fogos de artifícios apareceram no céu. Ele tampou os ouvidos por causa do barulho, mas seus olhos brilhavam com todas aquelas cores no céu. Kuroo sorria vendo aquele rosto lindo se iluminando pelas luzes, ele sentia algo diferente, não conseguia tirar os olhos dele. Ele reconhecia esse sentimento, as borboletas na barriga, o coração acelerado, o rosto quente. Ele conhecia. Conhecia a paixão. Agora, sua paixão tinha nome e estava ali, ao seu lado. Estava apaixonado por Kozume Kenma.
Kuroo puxou Kenma mais pra perto e virou seu rosto para si, eles estavam com os rostos quase colados. Os corações acelerados entraram em sintonia. Olhando nos lindos olhos brilhantes de Kenma, Kuroo colocou a mão na nuca dele, a outra na sua cintura. Ele se inclinou para um beijo, esperava que o outro correspondesse e aconteceu. Os dois deram um beijo caloroso e sútil enquanto os fogos de artifícios ao fundo contemplavam o momento.
Naquele momento, nada era mais importante que os dois, o mundo parecia ter parado para ver aquela pequena cena de amor verdadeiro.
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(Can We Be Friends?) - Kuroken - FINALIZADA
FanfictionKuroo, o capitão do time de vôlei, sempre foi curioso e, com a chegada do misterioso Kenma, não seria diferente. Mutismo seletivo - O Mutismo Seletivo (MS) é um transtorno de ansiedade complexo que caracteriza-se pela dificuldade de um indivíduo se...