Capítulo 2 - Inevitável

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Inevitável — o que não pode ser evitado, aquilo que não se pode impedir.

O detetive tomou um gole de seu café enquanto observava Ethan Coleman fazer uma pausa em sua história e ficar com um olhar distante.

Ele não podia negar que estava genuinamente surpreso com as confissões do suspeito, de que recebia dinheiro de senhoras ricas por sexo. Não que ele desconhecesse essa prática, mas não conseguia imaginar o rapaz à sua frente exercendo esse tipo de atividade.

A verdade era que existia uma certa dignidade em Ethan Coleman. Mesmo quando Grayson King gritara ali mesmo, naquela delegacia, que Ethan Coleman não passava de um aproveitador e que provavelmente fora ele o culpado de seja lá o que tenha acontecido a sua filha, Crowley ainda acreditava que Ethan não seria capaz de algo sórdido ou até mesmo criminoso.

Mas ele foi sórdido, não? Usar da própria aparência para conseguir uma grana fácil através do sexo, não era a atividade mais digna do mundo. Porém, em algum momento, dois meses antes, ele se envolveu com Harper King.

O detetive ouviu algumas alegações de testemunhas ligadas a Harper de que Ethan estava com a moça interessado em seu dinheiro, mas também todos eram unânimes em denominá-lo namorado da vítima e não um amante qualquer.

Será que Harper King estava pagando para Ethan Coleman?

— Eu sei o que está se perguntando. — Ethan o encarou com seus olhos de garoto bonito, embora estivessem sombreados de cinza, como se não dormisse muito ultimamente. — Você quer saber se Harper me fez uma proposta como a que eu recebi de Emily e Carmen.

— Ela fez?

Ethan descansou o olhar em seu café, que o detetive tinha sido generoso em oferecer, mas que permanecia intocado sobre a mesa. De novo ficou distante, mas voltou a encarar o policial com um sorriso que parecia saudoso e irônico ao mesmo tempo.

— Sim, ela me fez uma proposta, detetive. Mas não foi essa que você está imaginando. E muito menos a que eu estava imaginando no momento...

Depoimento de Ethan Coleman

Eu estava muito intrigado.

Era assim que me sentia naquela noite, enquanto executava o meu serviço, transitando por entre as pessoas mais ricas da cidade e procurando, o tempo inteiro, visualizar Harper King por entre eles.

E quando a encontrei de novo, me vi mais do que intrigado.

Eu a achei interessante quando vestia apenas uma camiseta velha e sem um pingo de maquiagem no rosto pálido, mas agora eu a achava deslumbrante.

E a seguia com meus olhos curiosos por toda parte. Era quase como se estivesse numa caça e Harper King fosse minha presa.

O brilho dourado de seu vestido caro se sobressaía dentre os demais, me atraindo em sua direção, mas eu nunca chegava perto o bastante, apenas o suficiente para vislumbrar como a maquiagem fazia seus olhos se destacarem no rosto pálido e perfeito. E lamentava que os cabelos castanhos estivessem presos naquele penteado fresco. Queria vê-los soltos, lambendo seu ombro que o vestido deixava à mostra. Aquele vestido que abraçava todas as curvas do seu corpo, que antes apenas podia imaginar sob a camiseta larga e velha.

Harper King era mesmo uma visão, até mesmo para um cara como eu, que não perdia tempo secando mulheres ricas em festas como aquela.

Garotas ricas não estavam ao meu alcance.

As únicas que me queriam eram aquelas que estavam entediadas o bastante a ponto de precisarem pagar por um pouco de sexo que a distraíssem do vazio de suas vidas de luxo.

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