Capítulo 3 - Indecifrável

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Indecifrável — Que não se consegue decifrar. Que se opõe à razão

O Detetive Crowley parou o fluxo de palavras do interrogado com as mãos.

— Está me dizendo então que a proposta da Senhorita King foi diferente das outras, que envolviam sexo?

— Sim. — Foi sua resposta lacônica.

O Detetive ponderou. Harper King era mais cheia de mistérios do que estava imaginando.

E o caso estava se tornando mais indecifrável a cada palavra que Ethan Coleman acrescentava àquela história.

— Então não fez sexo com a Harper King?

Um sorriso de lado se delineou nos lábios de Ethan Coleman.

— Eu não disse isso...

Depoimento de Ethan Coleman

Eu a observei mergulhar de novo, hesitando em entender suas palavras como um convite para me juntar a ela. Eu poderia passar simplesmente o dia inteiro lá, assistindo seus movimentos sob as águas, mas sua cabeça emergiu, enquanto nadava em minha direção, os olhos cinzentos presos em mim, hipnóticos.

— Acho melhor eu ir embora — murmurei incerto.

Era estranho perceber que Harper King me deixava assim, vacilante.

Nunca fui inseguro com mulheres, pelo contrário. Muito cedo eu entendi que elas gostavam de mim e era muito fácil convencê-las a me darem atenção quando me interessavam.

Mas lá estava eu, muito interessado naquela garota na piscina, mas totalmente incerto sobre como agir.

Harper King tirava meu chão e me deixava sem saber o que aconteceria a seguir.

Era extremamente irritante. E estimulante.

Quase viciante.

— Está com medo?

Ela percebeu?

De repente não queria que ela achasse que eu era um idiota que corria do desafio de uma garota.

Então, sem medir muito as consequências, algo que se tornaria muito habitual no tempo passado ao lado dela, tirei minha carteira e celular do bolso, assim como meu tênis e mergulhei.

Emergi para vê-la mordendo os lábios com um olhar que não consegui decifrar. Parecia surpresa que eu tivesse entrado ou até mesmo um pouco divertida.

Mas também parecia meio... feroz.

Como se tivesse ganhado um ponto num jogo que se delineava apenas para ela em sua mente.

Porque eu sabia, mesmo naquela época, que existia um jogo. Um objetivo por trás de sua rebeldia blasé.

Algo que eu ainda não conseguia decifrar, mas que não conseguia me afastar.

Por um momento, nenhum de nós disse uma palavra sequer, apenas flutuamos em volta um do outro, como dois oponentes numa luta decisiva.

Ou como o leão em volta da presa, antevendo uma suculenta refeição.

Eu só não sabia dizer quem era o leão e quem era a presa naquela história.

— Você entrou — disse por fim, me fazendo sorrir.

— Achei que essa fosse a ordem, madame.

— Madame? É assim que chama suas... como posso dizer, clientes?

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