Martin acabara de pegar sua cartela na recepção. Nela continha os horários e as matérias, mapa da universidade, coisas a se fazer caso ficar perdido, nome de professores e alguns funcionários, além de uma exagerada e desnecessária mensagem de como a universidade estava orgulhosa de recebê-lo.
Ele termina de juntar os materiais necessários e sai correndo atrás de Lucas, que já estava dobrando a esquina.
— Rápido! Nós já estamos em cima da hora — exclamava de longe. — Sem dizer que nem sabemos onde é a sala nesse lugar absurdamente grande!
— Espera! — falou enquanto se embolava tentando trancar a porta do quarto.
Martin saiu em disparada. Entre a correria e a distração, ele se lembra de que se esquecera de avisar a sua família no Brasil de que a viagem tinha seguido bem e de como ele estava agora. O garoto amaldiçoou aquilo em seus pensamentos. Era estranha a forma com que os seus pais estavam reagindo diante daquela viagem. Eles sempre haviam o apoiado nas decisões que tomara em vida, mas, desde quando Martin recebeu a carta de admissão na universidade inglesa, seus pais vinham agindo com certa desaprovação. Uma relutância incerta. Algo que Martin detestava pensar sobre. O dia já havia começado na agitação. Esforçou-se para se desvencilhar daquelas conturbações corriqueiras, era o seu primeiro dia e ele tinha que se apressar.
"Oh céus, vou chegar atrasado demais!", reviveu o personagem do Coelho Branco.
*
Já na sala, estavam os funcionários (os mesmos que ele havia encontrado quando chegou ao campus) se apresentando e falando como estavam felizes pelos novatos aprovados. Basicamente repetindo toda aquela parafernália do cartão da recepção.
O garoto escuta as aulas com a maior atenção possível, anotando cada mínimo detalhe que surgia. Nem foi necessário levantar a mão em casos de dúvidas, pois outro aluno brasileiro já levantava na sua frente e o respondia a questão. Toda aquela sala estava, praticamente, formada por pessoas de vários lugares do mundo, exceto da Inglaterra.
*
Quando o toque do intervalo bateu, ele não perdeu a chance e foi direto para a biblioteca. Ela estava praticamente vazia, a bibliotecária Lacie o viu e lhe deu os cumprimentos com um discreto aceno de única mão. Procurou uma mesa bem distante para se sentar e revisar as anotações.
Ele mal podia prestar atenção. Todos aqueles livros naquela obscura e misteriosa atmosfera que o envolvia era impressionante. O seu estado de transe foi interrompido por um barulho que vinha de um dos corredores, foi um livro caindo. Deu-lhe tempo de ver a pessoa se abaixando para pegá-lo e logo reconheceu os cabelos mais vermelhos que ele já havia visto na vida. Era a garota que havia visto na entrada da Catedral.
Martin levanta-se e vai (tentando não parecer tão objetivo) na direção dela.
— Hi — disse do outro lado da estante, colocando o rosto no espaço em que o livro caído costumava estar.
— Olá — respondeu a garota com um tom tanto quanto surpreso.
— Brasileira também?! — elevou a voz assim que percebeu o sotaque.
— Mais ou menos. — Ela riu graciosamente como se já tivesse ouvido a pergunta antes. — Nasci em Portugal, mas fui nacionalizada no Brasil.
Martin atravessa para o outro lado e vê o livro que ela havia derrubado. Era um volume único dos dois livros que Lewis havia escrito sobre Alice.
— Você se interessa por Lewis Carroll? — perguntou.
— Sim — disse com um sorriso empolgante. — Desde miúda Alice no País das Maravilhas foi minha fascinação, esses anos tenho estudado sobre as teorias envolvidas na obra. Por isso eu decidi de última hora estudar aqui em Oxford. É praticamente a razão de eu estar aqui.
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Em Busca do País das Maravilhas (COMPLETO)
Mystery / ThrillerHá 150 anos um dos contos de fadas mais famosos surgiu. Há 150 anos um dos maiores mistérios da literatura nasceu junto a ele. Após se mudar para a Inglaterra para fazer literatura em Oxford, Martin Roque, um fanático pelos livros de Alice no País d...