Martin e Lucas acabam de fechar a diária no hotel. Enquanto isso, Nicole aguardava na recepção, admirando discretamente toda a decoração vitoriana do local que claramente não era verdadeira, pois tudo naquela cidade fora construído de forma para se "adaptar" ao local.
— Vamos? — perguntou Martin, já colocando a mochila nas costas.
*
Os quartos eram praticamente do mesmo estilo do salão de espera. Todos com janelas góticas, candelabros nas paredes e até o cobertor parecia ter saído de um filme antigo.
— Qual é o plano agora? — Lucas questionou.
— O que nos convém, eu acho — Nicole comentou.
— Sim, iremos esta noite, escondidos — o loiro afirmou.
Eles são interrompidos por batidas na "velha" porta do quarto.
— Serviço de quarto — alertou uma voz rouca e branda do outro lado ao perceber a demora na resposta.
A porta se abriu, revelando o que eles já esperavam. Uma velha senhora, usando um uniforme com avental, carregando um balde com vassouras e empurrando um carrinho (também projetado do mesmo jeito que todo o hotel).
— Espero não estar atrapalhando em nada — disse com um pequeno sorriso. — Eu sou Samantha, camareira.
Todos assentiram em concordância e ela respondeu com mais um sorriso terno, continuando:
— Estão em Guildford por causa da história de "Alice no País das Maravilhas"? — Riu. — Meus pais eram grandes admiradores de Carroll e suas obras.
— Eram historiadores? — perguntou Nicole, já se interessando.
— Não. Pelo sotaque são brasileiros — disse ela, encerrando abruptamente aquele assunto.
— Exceto a Nicole — explicou Lucas, apontando. — Ela é de Portugal, aparentemente.
— Somos bolsistas de Oxford — Martin completou.
Enquanto ela arrumava as coisas por cima de uma pequena penteadeira, continuou a falar:
— Eu tenho uma parenta em Oxfordshire, ela trabalha numa loja de... Conveniências.
— Vocês duas parecem gostar do que fazem. — Lucas tentou fazer um elogio, mas acaba parecendo rude. Samantha sorri mais uma vez e se despede, sumindo pelo corredor do mesmo modo no qual havia chegado.
***
As ruas de Guildford durante a madrugada eram frias e assustadoras. As cores das lojinhas e casas vitorianas desapareceram, deixando tudo cinza e sem vida como uma fotografia velha e mórbida. Sem falar que as luzes que emanavam dos postes eram fracas.
— Tem velas de verdade nesses postes? — perguntou Lucas do mesmo jeito que uma criança curiosa.
Martin e Nicole ignoraram a pergunta e continuaram a atravessar as ruelas do lugar. Era incrível, não havia nenhum movimento ou barulho no ambiente. Era tão silencioso que Martin começou a pensar se as casas também só faziam parte da decoração da cidade, e que não havia ninguém morando nelas.
Até que, por fim, luzes aparecem numa esquina, a casa parecia esperar pela chegada deles.
— Peguem as lanternas — disse Lucas, tirando-as da mochila. — Mas a maior é minha.
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Em Busca do País das Maravilhas (COMPLETO)
Gizem / GerilimHá 150 anos um dos contos de fadas mais famosos surgiu. Há 150 anos um dos maiores mistérios da literatura nasceu junto a ele. Após se mudar para a Inglaterra para fazer literatura em Oxford, Martin Roque, um fanático pelos livros de Alice no País d...