02_ Thalia e Lary.

14.5K 2K 2.9K
                                    

Sabe quando a vergonha te consome e você tem vontade de enfiar a cabeça dentro de um buraco? Sabe? Então sabe exatamente o que eu senti naquele momento.

O garoto não falou nada ou esboçou reação alguma. Seu olhar era sério enquanto olhava para mim sem interesse, mas ainda assim olhava.

A frieza em seu olhar me incomodou. Sem pensar muito, dei-lhe um sorriso sincero e passei por frente de sua bicicleta voltando a caminhar. Não olhei para trás novamente.

Eu não conhecia ele e muito menos sabia pelo que ele passava. Seu olhar tão cabisbaixo deveria ter um motivo. Sorrir para alguém as vezes melhora o dia da pessoa.

Ou talvez faça a pessoa me achar uma palhaça. Mas aí não posso fazer nada.

Acabei rindo baixo de novo e olhei para o lado onde uma senhora de pele negra e cabelos escuros regava suas plantas.

Não posso negar que me recordei da Dona Clara na hora.

ㅡ Bom dia! ㅡ Dei meu sorriso para ela.

ㅡ Bom dia, mocinha. ㅡ A mesma pareceu surpresa, mas me respondeu com um sorriso simpático.

Passei por ela e segui enquanto observava o dia lindo que estava. Estava bem calor, mas isso não me incomodava. Eu gostava.

[...]

ㅡ Mãe? Cheguei! ㅡ Tirei meu tênis na porta de casa e adentrei encontrando minha mãe limpando o chão da sala. Obviamente ela fez uma careta para mim, afinal, eu havia gritado pensando que ela estava longe. ㅡ Desculpa. ㅡ Ri passando pelos cantos tentando não pisar onde ela havia limpado.

ㅡ Demorou em. ㅡ Ela fez uma careta.

ㅡ Eu fiquei em dúvida na maioria das coisas que queria comprar. ㅡ Olhei para dentro das sacolas brancas que eu segurava. ㅡ E estava tudo tão caro. Minhas economias quase se findaram hoje.

ㅡ Eu e seu pai poderíamos ter te dado o dinheiro, Elizah.

ㅡ Vocês já me dão tudo o que eu mereço e até o que não mereço. ㅡ Sorri para eles e voltei a subir as escadas. Onde morávamos eu trabalhava numa sorveteria. Sempre gostei de trabalhar para poder comprar eu mesma as coisas que precisava, sem ter que ficar enchendo os meus pais. Em breve começarei a procurar por um emprego aqui também.

Entrei no meu quarto deixando as sacolas sobre minha cama e antes de começar a desembalar lavei minhas mãos no banheiro.

ㅡ Ok. ㅡ Parei de frente para a cama e comecei a retirar tudo que eu havia comprado. Desembalei cada apetrecho e decorei o meu quarto na maior paciência enquanto Blinding lights tocava. Eu também gostava de música, elas me animavam.

Aquele momento no meu quarto se consistiu em uma garota dançando e pulando enquanto tentava arrumar o quarto de uma maneira harmônica e não tão exagerada. Eu costumava exagerar no amarelo.

Meia hora se passou e eu estava jogada na cama rindo do tombo que eu levei quando escorreguei no tapete.

Minhas amigas que liam os mesmos livros que eu costumavam dizer que eu era uma mistura da Thalia com a Lary pelo fato de eu passar vergonhas mas mesmo assim ser a pessoa mais alegre que elas conheciam.

A música no meu celular parou de tocar dando lugar ao meu toque de chamada. Era uma chamada de vídeo da Mariana.

Elizah- Oooiiiii!!!

Virei de barriga para baixo e encarei a tela do celular com um sorriso tão grande que me fez fechar os olhos.

Mariana- Ai que saudade da sua animação, Eli.

A mesma fez um bico e eu notei que a mesma estava no pátio do Colégio. Mariana era minha amiga à uns dois anos. Nos conhecemos quando entramos para o ensino médio e caímos na mesma sala. Ela dormia em todas as aulas de matemática e depois me pedia ajuda. Daí surgiu uma linda amizade.

Elizah- Saudades do Colégio. Como está sendo? Como ta o pessoal?

Mariana- Tudo na mesma, mas hoje tive aula de matemática e não pude dormir porque a senhorita não está aqui para me socorrer.

Elizah- Alguém vai ter que passar a prestar atenção nas aulas da Dona Laila.

Mariana- Ai eu não aguento nem a voz dela, Elizah. Parece que está entalada.

Elizah- Coitada, Mariana. ㅡ Dei uma gargalhada. ㅡ Ela explica bem.

Mariana- Explica bem mal! Ela fala A e eu pergunto o que.

Balancei a cabeça rindo e me virei de barriga para cima. Segurei o celular na frente do rosto me repreendendo pois seria muito eu deixar ele cair na minha cara.

Mariana- Mas e você? Como está sendo aí? Já vai para a escola hoje?

Elizah- Sim.

Por um momento eu parei de sorrir. Meu estômago ainda embrulhava só de pensar que eu teria que enfrentar toda uma escola nova hoje.

Mariana- Você está nervosa? Você?

Mariana gargalhou.

Elizah- Eu não sou de ferro.

Mariana- É, mas você sempre encara esse tipo de situação na maior boa vontade e sempre com grandes sorrisos e risadas.

Elizah- É a coisa certa a se fazer. Começar as coisas com positividade.

Mariana- Então faça o mesmo hoje. Tenho certeza que o pessoal vai gostar de você. Impossível não gostarem!

Elizah- Ata.

Ri de novo e olhei a hora no canto da tela.

Mariana- Eu tenho que desligar, Eli. Já estou liberada, mas fiquei enrolando aqui. Tenho que ir agora antes que eu perca o ônibus.

Elizah- Tudo bem, vou almoçar.

Mariana olhou para o lado e só pela sua careta eu já consegui imaginar quem estava vindo até ela. Marcos.

Mariana- Me dá um tempo, Marcos. Estou falando com a Elizah!

Marcos- Oxe! Nem falei nada. ㅡ O mesmo apareceu e olhou para mim. ㅡ Oi Elizah! ㅡ Ele acenou com um sorriso largo. ㅡ Tinha que ver a cara da Mariana na aula da Laila! Espera... eu gravei. ㅡ Ele sorriu novamente e pude ver os olhos de Mariana se arregalar enquanto ela virava o rosto lentamente para ele.

Mariana- Você não...

Marcos- Você duvida?

Mariana- Marcos eu vou...

E assim ela começou a correr atrás dele. Notei isso pelo fato do celular começar a sacudir e logo a chamada se encerrou.

ㅡ Meu Deus. ㅡ Ri deles e deixei o celular de lado. ㅡ Ok, Elizah, é só um colégio. Você vai almoçar agora, tomar outro banho porque suou indo na rua, se arrumar e encarar isso com um grande sorriso. Com positividade as coisas tem mais porcentagens de chaces de dar certo. ㅡ Eu costumava repetir esse tipo de coisa para mim quando precisava enfrentar algo desconhecido. ㅡ Vai dar tudo certo. ㅡ Levantei-me da cama e novamente pisei no tapete retangular presente nos pés da minha cama.

Meu otimismo caiu junto comigo quando escorreguei novamente no tapete e caí de cara no chão. O que, como sempre, me fez rir.

●●●
Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora