24_ Saudades.

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Depois de tomar um banho e jantar junto de meus pais, deitei-me na cama para mexer um pouco no meu celular. Haviam tantas mensagens.

Notei terem algumas da Mariana, umas do Marcos, mensagens de um grupo chamado 3001 da depressão e também do Daniel.

Espera, Daniel??

Meu coração palpitou de repente e eu quis me dar um tapa por ter um treco sempre que o Daniel estava envolvido em algo relacionado à mim.

Resolvi ler as mensagens em ordem, por organização. Mentira, eu estava adiando o momento de ver o que Daniel havia me mandado.

Mariana- Olá querida amiga que me esqueceu. Quem vos fala é a Mariana. Sou moradora da cidade do Rio de Janeiro, estudante e vestibulanda. Tenho 18 anos e estou escrevendo essa humilde mensagem de texto para relembra-la de que EU EXISTO!

Gargalhei com sua mensagem.

Elizah- Ai que amiga exagerada que eu teeeeenho!

Mariana- Ah que honra receber uma mensagem da minha amiga agora tão popular que se esquece das origens.

Elizah- Tudo que eu não sou é popular.

Mariana- Mas já fez amigas o suficiente para se esquecer de mim?

Elizah- Eu não fiz amigas, Mari. Só o Daniel. Do colégio inteiro, tirando os que trabalham lá, apenas Daniel e Moisés falam comigo. Bem... a Daniela falou comigo hoje.

Mariana- Daniela?

Elizah- Irmã do Daniel. Ela me viu chorando hoje e acabou sendo " gentil " do jeito dela.

Mariana- Chorando?? Por que você estava chorando??

Suspirei em derrota. Talvez fosse egoísmo da minha parte não contar às pessoas o que eu estava passando. Mas meus problemas não eram tão grandes à ponto de eu preocupar alguém. As pessoas já estam cheias de seus problemas para eu ficar enchendo elas. Afinal, poderia ser pior. Eu só... Não tenho amigas aqui e as vezes me sinto ingura por causa do meu passado. Nada que mereça a atenção ou preocupação de alguém.

Elizah- Não é nada demais, Mari. Eu só fiquei um pouco estressada. Sabe que eu não reajo bem à estresse.

Mariana- Tem certeza disso, Eli? Não está passando por nada difícil? Tem alguém te incomodando?

Elizah- Não se preocupe. Eu estou bem. Ah, e tenho algo para te contar com relação ao Daniel.

Mariana- Conta, conta, conta!

Elizah- Nós dois caímos no mesmo grupo de trabalho para criar uma história. Uma romance, na real. E amanhã ele vai vir aqui em casa para fazermos.

Mariana- Para fazerem romance? Kkkk conheço outra palavra para isso.

Elizah- Você não presta kkkkk.

Saí da conversa de Mariana e entrei no perfil do Marcos. Ali estava três vídeos curtos. Um era da Mariana olhando para o quadro repleto de contas com uma careta muito engraçada. De fundo eu escutava o falatório do pessoal e uma risada dele.

O outro vídeo era dela da mesma forma, porém a mesma notou que ele gravava ele e jogou O CADERNO no garoto. O resultado foi o celular dando um mortal até cair no chão.

Ri olhando aquilo e abri o terceiro vídeo. O terceiro era dela dormindo no meio da aula com a boca aberta.

Ri novamente e ouvi as vozes do pessoal. Eu podia reconhecer cada uma com clareza. Léo gritando para saírem da frente do quadro, Brenda resmungando de fome, Thiago perguntando se ia cair na prova, Larissa perguntando o que estava escrito, Jeferson, que chamávamos de Jefin, cantando funk no fundo da sala.

Sorri com a saudade pulsando e ouvi o som de notificação. Marcos havia acabado de mandar mais um vídeo e o mesmo estava carregando.

Abri-o assim que terminou de baixar e senti um aperto no coração. Era de todo o pessoal. Eles estavam acenando, sorrindo e dizendo que sentiam saudades. Até a professora acenou com um sorriso para mim.

Meu coração se apertou. Eu era, literalmente, amiga de todos ali. Eles gostavam de mim, riam comigo, ficavam comigo, nunca demonstraram incômodo com meu jeito ou por meu gosto por amarelo.

Meu sorriso não estava mais no meu rosto. Eu odiava ficar triste pela segunda vez num dia, mas não pude evitar. Eu sentia falta deles. Eu era feliz e sentia prazer em alegrar a cada um ali. Por que agora tem que ser diferente? O que eu fiz de errado dessa vez para não ter feito uma amiga sequer?

ㅡ Filha? ㅡ Me assustei e imediatamente apaguei a tela do meu celular quando vi minha mãe parada na porta do meu quarto. ㅡ O que aconteceu? Por que está com essa carinha? ㅡ Ela rapidamente se aproximou. 

ㅡ Não é nada, mãe. ㅡ Forcei um sorriso. ㅡ Eu só recebi um vídeo do pessoal da minha antiga escola e senti saudades.

ㅡ Oh querida. ㅡ Ela tocou meu rosto e eu tentei a todo custo não chorar. Eu já havia chorado demais. Não queria chorar na frente dela. ㅡ Você está feliz aqui?

ㅡ Sim. ㅡ Respondi sem pensar.

ㅡ Tem certeza? ㅡ Ela me analisou. ㅡ Não tem nada te incomodando? A escola é legal? Suas novas amigas são legais? Seu novo emprego é legal?

ㅡ Sim, mamãe. Está tudo ótimo. Eu só senti saudades mesmo. ㅡ Sorri de novo e senti medo que meus olhos se enchessem de lágrimas. ㅡ Eu estou muito feliz. E você e o papai? Estão felizes aqui?

ㅡ Estamos. ㅡ Ela sorriu sinceramente, eu pude notar. ㅡ Essa cidade é tudo que eu sempre imaginei para nós.

ㅡ Que bom. ㅡ Sorri novamente. ㅡ Er, eu acho que eu vou dormir. Tenho um trabalho amanhã.

ㅡ Tudo bem. ㅡ Ela se levantou de minha cama. ㅡ Boa noite!

ㅡ Boa noite. ㅡ Respondi esperando que ela saísse. A mesma fechou a porta e eu parei de forçar aquele sorriso. Me sentia horrível mentindo tanto, mas a alegria dos meus pais era importante para mim.

Deitei-me na cama cobrindo meu corpo até a barriga com o edredom amarelo e peguei o celular novamente. Abri o grupo da turma e vi que eles não estavam falando nada muito importante, apenas comentavam sobre o passeio à praia, sobre o teste de hoje e sobre uma tal Érica da outra turma que estava grávida.

Saí da conversa sem dizer nada e encarei o perfil de Daniel. Parei de bobeira e abri as mensagens que ele havia me mandado.

Daniel- Oi Pikachu.
Então, está se sentindo melhor? Não precisa fazer o trabalho amanhã se não estiver se sentindo bem.

Elizah- Oi. Não se preocupe, eu estou bem. Eu só estava meio chateada hoje. Mas posso fazer o trabalho amanhã.

Daniel- Mesmo? Eu não sei pelo que você está passando, então não quero que faça algo que envolva esforço criativo se estiver passando por um momento delicado.

A simplicidade dele de se preocupar comigo fez com que meus lábios abrissem um sorriso curto e tímido no canto dos lábios.

Elizah- Obrigada por se preocupar tanto. Mas eu estou bem sim, então podemos fazer amanhã mesmo.

Daniel- Ta ok, então. Mas, seja lá o que estiver passando, eu sei que vai passar. E espero que passe logo por que nenhuma situação ruim deveria ser grande o suficiente para tirar esse sorrindo lindo do seu rosto.

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Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora