𝑀𝑖𝑛𝑑𝐵𝑟𝑒𝑎𝑘𝑒𝑟

2 0 0
                                    


O som de passos acelerados era claro aos ouvidos da jovem. A tremedeira que sentia em seu corpo impossibilitado de movimento também era mais uma pista para a mente da jovem, que tinha os pulsos e os pés presos por amarras. Seu corpo se movimentava de um lugar para o outro e em um estado mental sonâmbulo ela lutava para reconhecer o que estava acontecendo a ela. Luzes, sombras, luzes, sombras, como em um túnel. Ela pôde sentir a mão aveludada de alguém tocar seus braços, apertar levemente uma de suas veias e gritar algo que ela não conseguiu entender na hora, mas não era bom. Seus olhos insistiam em se jogar para trás e sua boca e pressionar contra seus dentes, não era como ela desejasse isso, mas estava acontecendo.

O carrinho em movimento parecia não conseguir aguentar a maca e o que ela levava, suas rodas ameaçavam a sair, tremiam como se estivesse em um estado alcoolizado e a força posta por braços grandes e grossos ameaçavam àquelas rodinhas minúsculas, que se não cooperassem talvez pudessem vir a ser jogadas contra a parede. O chão sentia a vibração de uma conturbação em movimento. Três sujeitos trajados com roupas brancas e longos jalecos que mais pareciam túnicas e outros três vestidos de uma roupa tão fina e azul que parecia papel. Um dos médicos apoiava seu corpo na maca, seu joelho beliscando o braço da morena e suas mãos enluvadas agora massageando o peito nu da menina. Era irônico que seus mamilos resolvessem ficar eretos pelo frio naquele instante, mas aquilo não pareceu importar muito ao médico que gritava incessantemente que alguém trouxesse algo para ele.

Alice sentia a agulha enfiada em seu braço ser levado para lá e para cá, talvez havia lhe subido um arrepio no instante em que o médico colocou seu ouvido perto do nariz da morena e ela pode sentir o glóbulo da sua orelha esquerda quase tocar sua narina fria, sentiu vontade de espirrar, mas aquilo parecia impossível naquele momento.

Talvez ela estivesse morta; ela se sentia morta. A falta de circulação em seus braços impedia o movimento preciso de sua mão, seus dedos pareciam congelados e ela conseguiu movimentar somente um deles. Um único dedo, o dedo do meio da mão esquerda. O carrinho parou e ela se sentiu observada, queria se levantar e dizer que estava bem e que não poderia morrer, não daquele jeito, mas logo ela sentiu uma queimação em sua garganta, sentiu novamente o calor em seus pés e em suas mãos e uma mão suave tocou sua testa.

O carrinho voltou a se movimentar, pessoas davam passagem para ele e quando finalmente chegou na sala em que deveria, o médico desceu e a pressão de um joelho duro no braço branquelo de Alice, aliviou. Mas havia alguém ainda naquela maca com ela, a mão grossa ainda pairava sua testa e logo a outra se juntou, perto de sua boca; o dedão pressionava seu lábio inferior com delicadeza enquanto o resto dos dedos pareciam querer acariciar a menina, trazer paz a ela com pequenos e fúteis toques, isso enquanto a outra mão, residente em sua testa, lhe esquentava o couro cabeludo e a parte superior da testa, mas logo saiu deixando a friagem daquela sala gelada ser sentida.

Cabelos negros como o de Alice tocaram seu rosto de maneira inversa, onde ela pode sentir cada fio sendo depositado em suas bochechas coradas e logo algo pressionando novamente sua testa: lábios quentes e rachados, tanto que uma pequena pele dura arranhou levemente o local do beijo. O nariz tocou o seu e ela pode sentir que ambos estavam gelados, ela sentiu os cílios tocarem suavemente suas bochechas e de maneira brusca aquela boca fora arrancada de sua testa e o peso que estava na parte superior da maca, sumiu. Algo havia descido.

Ela tentava relembrar aquele momento, repassar na sua cabeça a sensação de sua testa ser tocada por lábios frios e por sentir o frescor do hálito que havia sentido. Seus olhos tentaram se abrir, sua cabeça tentou achar algo para observar, mas sua mente estava anestesiada e logo ela pode sentir uma máscara envolver seu rosto e caiu novamente em um sono profundo.

A Dama das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora