Viagem à Terra do Sol

JORNADA

Os grandes portões abriram-se para revelar uma mesa rústica que estendia-se por metros. Era gigante e repleta de comidas diversas, um verdadeiro banquete. Meli entrou e não conseguiu esconder seu encanto com a beleza da sala, caminhando pela lateral da mesa enquanto seguia a pequena criatura que a guiava sem bisbilhotar o que acontecia na mesa. Observando toda a sala, que era como um paralelepípedo, notou o imenso vitral que esbanjava um sol amarelo e dominante sobre um azul profundo como o do oceano. O vitral escapou-lhe do campo de visão enquanto admirava as joias no teto daquela sala, que brilhavam como estrelas; o brilho branco e tímido era escondido pelo brilho das luzes intensas que emanavam das dezenas de candelabros que iluminavam a sala. Rapidamente deitou os olhos sobre os talheres dispostos pela mesa, pensou em roubar uma faca caso tivesse a oportunidade.

No final da mesa, em uma cadeira imponente, estava o bicho com cabeça de lobo-guará. A guerreira chocou-se no momento em que o notou, o choque chamou a atenção dele, que respondeu com um olhar curioso, mas pacífico. Trocaram olhares em silêncio, a senhorita Cartage estava entretida observando como os pelos do rosto dele mexiam-se involuntariamente quando piscava.

— Áries! — Exclamou Ariezad, em um breve momento onde esqueceu-se totalmente da timidez que tinha por alguns segundos. Burnholt suspirou quando a viu, sentia-se melhor sabendo que havia mais sobreviventes. Quando seus olhares se encontraram, ele cumprimentou-a apenas com um balançar de cabeça respeitoso. Ela rapidamente pensou acerca dos outros dois soldados que haviam sobrevivido e escapado com eles no pequeno bote, sem querer perguntar e quebrar o clima deixou uma nota mental disto em sua memória.

Todos estavam sentados ao redor da mesa. Os convidados estavam servidos com frutas, pequenos alimentos de textura fofa que pareciam ser doces, algo que lembrava queijo e o que com certeza era carne quentinha. A anfitriã sentou-se ao lado do místico anfitrião à ponta da mesa, e ao limpar a garganta com sua respiração animalesca, parecia estar preparando-se para um discurso.

— Todos vocês aqui esta noite são bem-vindos em nossos domínios, eu sou San'ark de Ruviera e esta é minha colega; Jennina de Greiféia... E sabemos que não serão aceitos em nenhum solo à quilômetros daqui — ele começou, ajeitando a gravata borboleta vermelha que usava — Condições extraordinárias trouxeram vocês até nós, e acreditamos que para o bem das nações que compõem o continente onde agora se encontram seja melhor retirá-los antes que seja tarde.

— Vocês irão embarcar em uma pequena viagem; parte à pé, parte à barco e com descansos o suficiente... — Disse a psitacídea, completando seu parceiro — Por mais que as consequências sejam grandes, o risco de sermos pegos é muito pequeno; iremos agir rápido e logo logo todos estarão são e salvos em seus respectivos reinos.

— Entretanto, não partiremos agora devido a tempestade que se aproxima, também porque dois dos tripulantes encontrados vivos no naufrágio ainda não se recuperaram totalmente... Preferimos que estejam todos saudáveis até o dia da viagem — Adicionou o lobo, finalmente relaxando e cortando um pedaço de carne.

— Peço que não se preocupem com nossa presença, entendemos que são seres conscientes e inteligentes como qualquer outra criatura, mas a sociedade que existe fora dos muros deste castelo ainda não é madura o suficiente para dar-lhes o respeito que merecem — completou ela — Levarei cada um de vocês para quartos onde irão poder descansar enquanto não partimos, mas, por favor, aproveitem a refeição enquanto a linda lua de Auroria passa pelo nosso vitral.

— Dúvidas, viajantes? — Perguntou San'ark, mastigando um pedaço de carne macio e suculento.

— Não senhor... — Disse Ariezad, baixando a cabeça e ainda processando tudo. Abaixou a guarda com toda a educação dos anfitriões, mas ainda estava totalmente confuso com a situação. Focou apenas em aproveitar a refeição, experimentando os sabores e texturas que apresentavam-se em seu prato, relaxando. Enquanto alimentavam-se, olhares tímidos corriam pela mesa, os três iam aos pouquinhos analisando as duas figuras fantásticas, compreendendo como seus rostos funcionavam e como se mexiam.