MENTE

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O estilo colonial da sala onde estava parecia ter saído direto dos livros de história, acordou em uma belíssima e confortável poltrona de madeira ornamentada com joias e prata, sentia as almofadas vermelhas acariciarem seu rosto e sentia vontade de voltar a descansar. Espiou cuidadosamente os arredores, o abajur de jade ao seu lado, o lustre de ouro que brilhava em chamas brancas, os candelabros que brilhavam na sala ao lado... O tapete vermelho com padrões encantadores, linhas como serpentes que circundavam o grande sol desenhado com seda dourada no centro. Olhou para as paredes e acompanhou os quadros e suas molduras douradas, tudo parecia tão quentinho e confortável... O susto veio quando percebeu que não fazia ideia de como tinha chegado naquele lugar, e não tinha ideia de como não estava morta. Meli levantou-se como quem acorda de um sonho onde se está caindo e preparou-se para o pior.

Sua mente estava hiperativa, sentia-se em perigo e estava pronta para se defender. Ela começou a investigar a sala à procura de algo para usar como arma. Olhou atrás das poltronas, ao redor dos armários de madeira maciça e enquanto tateava a parte debaixo de uma mesinha, escutou passos; alguém se aproximava. Cartage pensou em esconder-se ao lado do armário para preparar um ataque surpresa, mas se ainda estava viva, será que não valia mais a pena esperar para ver quem era? Poderia ter sido resgatada e esteja no caminho de ser reconhecida como uma corajosa sobrevivente. Correu e sentou-se educadamente na poltrona em que havia acordado, segundos antes de estar no campo de visão da pessoa que estava prestes a entrar.

Entrou na sala, vestida em tecidos brancos e com margaridas douradas nas golas e mangas, uma pequena criatura cinzenta, não era mais alta do que a distância do chão até a maçaneta em portas comuns. Tinha pernas de gavião, seu corpo era coberto de penas cinzentas assim como uma ave. A Srta. Cartage notou três dígitos saindo das longas mangas e - sendo um deles o que parecia ser um polegar opositor - presumiu que fossem seus dedos, eram cobertos por uma camada mais fina de penas. Seu rosto tinha feições de papagaio; o bico robusto de um roxo bem escuro - era quase preto - e os olhos largos, com pupilas roxas que agora encaravam a gigante Meli. Em sua testa, jazia uma curiosa joia pálida e reluzente como uma pérola, segurada por um cordão de ouro.

— Fico muito feliz que acordou, Srta. Cartage, meu colega e seus amigos estão esperando à mesa da cozinha, por favor, peço com todo carinho que siga-me — disse a criaturinha enquanto fazia uma saudação.

— Claro, obrigado... — Resolveu segurar as perguntas, presumiu que se seus amigos estivessem ali, não havia com o que se preocupar.

— Vocês tiveram uma viagem e tanto até aqui, não é? — Perguntou a pequenina, sua voz era bastante melódica mas não era totalmente jovem, sua bizarra aura animal ainda mostrava traços de idade; embora Meli não conseguisse dizer com certeza qual era a idade daquela criatura, sabia que não era jovem — Diga, o que buscavam?

— Procurávamos por um... Tesouro ancestral de um monarca que morreu há muito tempo, em uma antiga ilha perto da nossa região — Mentiu, observando o longo corredor iluminado por candelabros, caminhando sobre um belíssimo tapete vermelho ornamentado com borboletas e flores de um dourado estarrecedor. A pequena, sem nem olhar para a hóspede, gargalhou baixinho.

— Imagino como deve ter sido cansativo, buscar tesouros é uma tarefa infeliz — chegaram em uma seção que se dividia em três caminhos, foram pelo da direita. Olhando para trás, Meli supôs que estavam realmente em um grande castelo ou palácio, já que não conseguia ver onde acabavam os outros dois longos e excessivamente decorados corredores.

— Mas nós acabamos naufragando, como deve ter notado, eu agradeço eternamente por ter salvado nossas vidas — Disse ela, em uma voz mais serena que o normal — Este é um lugar realmente muito bonito, este seu colega é o dono daqui? É uma figura importante? — Perguntou, tentando fugir do assunto anterior, não sabia se podia comentar sobre a viagem ainda.

— Por favor — Gargalhou novamente — Guarde suas dúvidas para o jantar, preparamos uma grande refeição e será lastimável não ter uma boa conversa para acompanhar — estavam se aproximando de mais uma bifurcação, dois corredores aparecem novamente, formando um "T". Na frente das duas havia uma grande porta de ouro e madeira maciça, com detalhes em ouro e cobre.

Viagem à Terra do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora