Quinto Século - Confronto

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A poeira se erguia violentamente perante a força do vento, fazendo com que os cavaleiros serrassem os olhos dentro dos elmos para proteger a visão já debilitada do final de tarde. Em alguns lugares das Terras Vermelhas, pessoas perdiam seus membros ao serem expostos a ventos mais fortes do que aqueles que assolavam os cavaleiros. Said, o líder dos cavaleiros que seguiam em formação estava ansioso. Ele sentia os pulmões de sua montaria, um dragar, um réptil bípede com quase quatro metros da cabeça até a ponta da calda, de escamas marrons protegidas por uma cota de malha e uma armadura de couro que escondia o ventre vulnerável, martelando suas pernas.

A criatura era um predador natural que as primeiras pessoas que deixaram o subterrâneo no passado e se aventurado pela superfície jamais imaginariam em domar e usar como montaria. Mas o Imperador, o Unificador, pensava muito mais além e tinha visto nos dragar uma característica útil para ser usada por seu exército.

Naquele momento, Said e seus dezenove companheiros estavam em formação. Quatro unidades de cinco em formação de seta. Com um deles no centro mais adiantado e dois de cada lado um pouco mais atrás. Eles corriam apressadamente até o local onde a caravana que deveria ter chegado naquela manhã ao Escudo do Resplandecer, a segunda cidade fundada pelo Imperador, deveria estar.

Eles tinham recebido uma ave mensageira a poucas horas, informando que a caravana estava perto da cidade, mas que estavam sendo perseguidos e pediam por ajuda da guarnição do Escudo.

Era por isso que Said e seus subordinados se apressavam em terreno aberto e em número tão pequeno tão próximo do anoitecer. Aquele era um horário que todos preferiam estar atrás de uma muralha ou cercado por um grande grupo de companheiros. Apesar do Imperador ter providenciado uma evolução para a civilização nas Terras Vermelhas, todos ainda sabiam que inúmeros predadores continuavam habitando aquela vastidão escarlate, e nem todos esses predadores eram animais.

O sol quase já não brilhava mais no céu quando um dos cavaleiros avistou algo mais a frente, uma mancha no horizonte, um indicio de movimento que conforme eles chegaram mais perto, conseguiram identificar como sendo a caravana que procuravam. A distância foi encurtando e Said conseguiu distinguir mais algumas coisas, primeiro, que a caravana estava parada, em seguida ele distinguiu que um outro grupo tinha cercado os Vermes Octópodes, três deles, e atacavam as tendas e barracas sobre as criaturas.

O predador tinha encontrado sua presa e agora derramava o sangue dos novos súditos do Imperador nas areias escarlates. Puxando sua lança de sua sela, Said ergueu a arma, apontando-a para o céu e seus cavaleiros reconheceram o comando, com cada um dos quatro grupos assumindo uma rota em direção a caravana sob ataque.

Os inimigos perceberam a aproximação deles quando já estavam a poucas centenas de metros e tentaram intimida-los com algumas flechas atiradas esporadicamente. Said ergueu seu escudo preso ao braço esquerdo e seus cavaleiros fizeram o mesmo, mais por garantia do que medo de serem feridos. Uma flecha ou outra os acertou inofensivamente, sem conseguir afetar a velocidade de aproximação deles.

Quando estavam a poucos metros da caravana, Said golpeou o flanco de seu dragar com os joelhos e a criatura saltou sobre a vítima mais próxima que se negou a correr como uma pessoa racional deveria ter feito. Garras e presas despedaçaram o atacante enquanto a lança de Said se movia, acertando outro que só naquele momento tinha tido bom senso para tentar escapar.

Said removeu a lança das costas de seu alvo, suspirando por dentro. Era triste ver pessoas como aquelas. Isso é, se elas ainda poderiam ser chamadas de pessoas. Grupos de Canibais ficavam mais normais a cada dia e os relatos de seus ataques eram de gelar o sangue de qualquer guerreiro experiente.

Seus cavaleiros atacaram por todos os lados, eliminando rapidamente os grupos mais concentrados de inimigos, sem que nenhum deles fosse ferido, minutos depois eles terminavam de eliminar aqueles que não conseguiram fugir, ou que simplesmente se negaram a fazê-lo.

Ao redor da caravana, dezenas de corpos mutilados estavam espalhados para todos os lados. Alguns eram de Canibais, mortos quando os membros da caravana resolveram se defender, ou quando foram atacados pelos cavaleiros, mas era possível ver alguns corpos mais bem vestidos daqueles que foram mortos ao serem capturados pelos Canibais. A morte ali era melhor do que ter sido levado vivo, Said sabia muito bem disso.

- Ótima caçada, senhor – um dos cavaleiros o saudou com a lança ensanguentada erguida e Said o cumprimentou com um aceno antes de se virar para a caravana, para os vermes presos por cordas amarradas a espigões no chão. Era hora de saber quantos danos eles tinham sofrido.

Contos das Terras VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora