Os fortes ventos das Planícies Vermelhas erguiam cortinas de areia para todos os lados, cegando constantemente aqueles que se aventuravam por toda a sua extensão. Uma vastidão marcada por algumas poucas pedras aqui e ali ou por crateras ocultas até que alguém estivesse praticamente sobre elas para nota-las.
Em um determinado ponto, em uma área que em nada se diferenciava do resto das Planícies, uma estranha caravana se movia, encolhida sob os açoites da areia vermelha carregada pelos fortes ventos.
Era uma caravana diferente de tudo que já tinha caminhado por aquelas terras. Uma formada por estranhas criaturas, compridas e robustas, conhecidas por aqueles que as montavam como Vermes Octópodes. Os Vermes eram de um cinza escuro, com um couro grosso e resistente, e oito pequenas e robustas pernas que os sustentavam. Os Vermes não possuíam uma cabeça, e ninguém sabia dizer onde era sua frente ou fundo, a não ser quando estavam se movendo em uma direção.
Aqueles que viram um Verme pela primeira vez, se surpreenderam por suas armas serem inúteis contra as criaturas de couro praticamente impermeável e incansáveis que andavam sem rumo em pequenas manadas.
Mas a maior curiosidade de todos, era como aqueles estranhos animais se alimentavam. Já que eles não possuíam uma cabeça, nem boca, nem olhos e nem ouvido, ninguém conseguia compreender os Vermes no inicio.
Mas a humanidade sempre foi curiosa e alguém sempre está disposto a descobrir mais sobre os mistérios que cercavam o mundo. Depois de muito estudo, descobriram que existiam ventosas sob as oito pernas dos Vermes que sugavam os nutrientes do solo, era por isso que aquelas criaturas estavam sempre em movimento, pois sabiam de alguma forma que se permanecessem demais em um lugar, matariam todo o solo e o que mais existisse na região.
Mas deixando de lado os mistérios dos Vermes Octópodes, vamos focar naquilo que se erguia em suas costas. Pequenas e grandes tendas, com suportes feitos de ossos e a cobertura e a lona feitas de couro, onde habitavam os Nômades que tinham dominado aquelas criaturas.
Os maiores Vermes possuíam uma altura de mais de três metros, com uma largura quase do mesmo tamanho e um comprimento de doze a quinze metros. Nesses Vermes, as famílias nômades conseguiam manter três a quatro de suas tendas, enquanto alguns dos Vermes menores mantinham somente uma ou duas.
Em um dos maiores Vermes, aquele que ficava mais próximo da dianteira da caravana, os Nômades tinham montado uma pequena torre de vigia entre duas das tendas. Assim como as tendas, a torre era feita de ossos, revestidos com uma cola e envernizados para aumentar a resistência enquanto um couro de réptil bem elástico garantia mais ainda sua forma e a proteção para o vigia solitário em seu topo dos fortes ventos carregados de areia.
A vigia, uma garota magra, de cabelo escuro sujo, embolado de areia e suor, estava escondida sob varias camadas de couro enquanto forçava suas vistas, uma das melhoras dentre seu povo, para observar os arredores.
Ela considerava seu trabalho tedioso, chato, já que qualquer um em qualquer parte da caravana conseguia ver qualquer coisa ao redor deles, ou conseguiria, se a maldita areia erguida pelo vento não escondesse os arredores e tentasse invadir os olhos com mais frequência do que qualquer um gostaria.
A vigia sentia um pouco de inveja dos Antigos. Ela tinha ouvido uma historia uma vez, de que os Antigos tinham um tipo de proteção para os olhos chamado de Ocrulum, ou algo do tipo. Um objeto que fazia as pessoas verem melhor, além de protegerem os olhos de quem os usava. Se a vigia tivesse um desses Ocrulum, ela poderia fazer o serviço dela com muito mais facilidade, vendo melhor do que já via, e sem a maldita areia tentando entrar em seus olhos.
Mas infelizmente os Ocrulum não existiam mais e ninguém nos dias atuais sabia como fazer um. Os mais velhos do povo dela costumavam reclamar constantemente do quanto foi perdido quando os antepassados deles tiveram que se esconder nas Tocas e quanto mais ainda se perdeu depois que eles começaram a se arriscar na superfície.
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Contos das Terras Vermelhas
Cerita PendekColetânea de Contos de um mundo destruído. Um mundo vermelho sangue, um mundo seco em constante evolução. Um mundo de pessoas perseverantes, um mundo de terrores, um mundo de violência, mas ainda assim um mundo de esperanças.