Terceiro Século - Assentamento falho

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Como sempre o calor era uma fonte sem fim de desconforto para o grupo, fazendo seus corpos suarem rapidamente e então evaporando o suor, deixando a pele queimada e levemente enrugada.

Esse era o tipo de vida que levavam desde que seus avós deixaram as profundezas das tocas e decidiram se aventurar na superfície destruída daquele mundo. Para Miguel, que transpirava sob as pesadas roupas de couro, era difícil imaginar um mundo escuro e sem cor como o que seus avós falavam. Um mundo sem o desconfortável calor que vinha do sol lá em cima queimando tudo ali em baixo.

No momento, Miguel daria qualquer coisa por uma boa sombra, uma brisa fresca ou pela chegada da noite, mas infelizmente nem ele e nem nenhum de seus companheiros possuíam poderes sobre o tempo e o clima.

Um tipo de ronco grave soou de repente vindo das pedras à direita de Miguel que agiu rapidamente seguindo o procedimento que os caçadores tinham criado quando estavam explorando as terras em volta.

Suas passadas rápidas e ágeis o levaram até o agrupamento de rochas vermelhas escuras, quase marrons, onde Teofilo e Magrete estavam agachados e apostos. Miguel se posicionou ao lado dos dois, olhando para onde Teofilo, que tinha feito o som que o alertara, apontava.

Lá, não muito distante, estavam as ruínas da Antiga Civilização, os esqueletos de altos edifícios que se esfarelaram ao longo do tempo, pintando de outros tons a vermelhidão das terras onde estavam.

- Os rastros levam para lá? – Miguel perguntou, com a testa levemente franzida, sentindo um pouco de suor escorrendo na lateral do rosto pela crosta de poeira acumulada nos dias de viagem.

- Eu estaria apontando para lá se não levassem? – Teofilo perguntou de volta, revirando os olhos.

- Não comecem a comparar o pau de vocês agora, temos trabalho a fazer. – A resposta cortante de Magrete fez com que os outros dois se calassem e trocassem olhares desafiadores entre si.

Em silêncio, os três começaram a verificar seus equipamentos. Miguel e Teofilo armaram seus arcos de chifres de borf enquanto Magrete erguia sua lança de ossos, uma arma longa e amarelada com pouco mais de dois metros de comprimento.

Antes de começar o que tinham que fazer, eles verificaram também o equipamento secundário deles. As flechas dos dois rapazes estavam presas em um estojo de couro em seus cintos enquanto uma longa faca de lâmina de osso estava amarrada na coxa de Magrete.

- Vamos agir rápido e em silêncio – Magrete lembrou aos outros dois. – Eu vou, chamo a atenção da criatura, vocês a enchem de flechas e eu finalizo. Depois saímos antes que algum predador nos perceba por aqui.

Os dois assentiram em silêncio e então se entreolharam antes de se virarem e começarem a se mover em direção às ruínas. Eles odiavam andar naquele lugar. Um verdadeiro cemitério daqueles que viveram na superfície séculos atrás. Alguns diziam que as terras eram vermelhas nos dias atuais por causa de todo o sangue que foi derramado nos últimos dias do povo da Antiga Civilização.

Deixando essas divagações de lado, Miguel praticamente se arrastou pelo solo duro e seco, manchando suas roupas de couro com a poeira vermelha enquanto ele chegava perto de um muro caindo aos pedaços.

Era um perigo tentar subir em qualquer antigo edifício das ruínas, pois um movimento errado, um uso excessivo de força, poderia causar um desastre e fazer todo o edifício cair sobre a pobre alma que explorava o lugar.

Passando com cuidado por uma fresta do muro, Miguel começou a subir com cuidado os escombros de rochas esfareladas de algum edifício que já tinha sucumbido ao tempo e se posicionou, olhando em volta em busca de seus companheiros e do alvo deles.

Contos das Terras VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora