O grande abanador feito com penas castanhas de um Ligeirinho se movia criando lufadas de ar sobre Orlga que estava esparramada sobre uma poltrona feita de inúmeras peles de animais.
Orlga era uma mulher grande, com braços roliços e uma barriga protuberante. Algo difícil de ver nas cruéis Terras Vermelhas. O povo das Terras Vermelhas geralmente ou eram magros e ossudos ou com músculos apertados e definidos delineando o corpo.
- Já estamos nesta rota a duas semanas sem encontrar ninguém – um homem baixinho com a careca coberta de suor reclamou. – Logo estaremos sem suprimentos, é melhor voltarmos.
- Você é muito apressado – Orlga comentou, sem se quer olhar para o baixinho careca. – Seguiremos em frente por mais um tempo, logo deveremos encontrar alguma caravana.
- Ou saqueadores...
Orlga deu ao homem um olhar cortante que o calou de imediato. Todos sabiam do risco que corriam por se aventurar por aquelas bandas, mas era um risco que aqueles como eles precisavam correr para seguir em frente.
Os olhos de Orlga se fecharam enquanto ela aproveitava o balançar do caminhar do Shaga, um réptil grande e redondo com um poderoso poder de salto que raramente era usado agora que era uma montaria e uma língua venenosa que podia se estender por quase o dobro do tamanho da criatura. Em volta do Shaga estavam um punhado de Cramalios, um outro tipo de réptil, bem menores e compridos, corredores que quase arrastavam suas barrigas pelo chão enquanto carregavam seus cavaleiros.
- Madame Orlga, temos movimento no horizonte – alguém gritou de repente, fazendo com que os olhos de Orlga que estavam fechados se arregalassem enquanto ela olhava em volta em busca do que tinha alertado um de seus homens.
A esquerda do Shaga, ainda bem longe, era possível ver pequenos pontos se movendo em direção a ela rapidamente. Um sorriso se abriu nos lábios rechonchudos de Orlga enquanto a testa do homem careca se franzia de preocupação. Vendo isso, Orlga abafou uma risada enquanto se inclinava para frente.
- Meu querido primo, você precisa se acalmar e aproveitar mais o momento.
O homem olhou para ela de esguelha e não disse nada, ele muitas vezes perguntava-se porque seguia naquela carreira com sua prima. Seria tão mais fácil viver dentro de uma caravana em segurança.
Minutos depois do grito de alerta, um punhado de aves bípedes que corriam pelo solo quente das Terras Vermelhas se aproximou e cercou o Shaga e os Cramalios. Aquelas aves eram Ligeirinhos, pássaros corredores que não podiam mais voar. Eram praticamente os animais mais rápidos adestrados pela humanidade até o momento, mas a falta de resistência para levar mais do que uma pessoa era uma desvantagem que limitava seu uso.
- Quem são vocês? – Uma mulher musculosa, armada com uma lança feita de ossos gritou apontando a arma para um dos arqueiros de Orlga em um Cramalio.
- Saudações, companheiros viajantes – Orlga saudou rapidamente o grupo, se levantando de sua poltrona e acenando para os recém-chegados. – Somos os Comerciantes Livres, aqui para fazer comercio com vocês.
Ela abriu um largo sorriso que foi retribuído com carrancas confusas por parte do outro grupo. Ao lado de Orlga, seu primo abaixou a cabeça e suspirou ao ver a reação daquelas pessoas. Como ele temia, talvez não fossem um povo aberto para negociar com outros.
- Comerciantes livres? O que é isso? – A mulher que parecia ser a porta voz do outro grupo questionou curiosa e desconfiada.
- Um termo esquecido a muito tempo que resolvemos trazer recentemente – Orlga explicou calmamente. - Nós possuímos alguns materiais que podem ser uteis para vocês e estamos dispostos a trocar por algo que vocês não precisem no momento.
- Que besteira, porque trocaríamos algo quando podemos simplesmente pegar o que vocês têm? – Um homem de rosto velado questionou, apontando sua lança para o Cramalio mais próximo.
- Sim, vocês podem seguir saqueando aqueles em seu caminho, mas por quanto tempo podem continuar assim?
- O que quer dizer com isso? – A mulher que era a porta voz perguntou, fazendo um gesto para que o homem de rosto velado ficasse calado.
- Vivemos em uma época perturbadora. Nossos antepassados se aventuraram nas Terras Vermelhas em busca de um abrigo e tudo que conseguimos foi viver com o pouco que conseguíamos enquanto ficávamos sempre em movimento para não sermos alvos de grandes predadores. Evitamos contatos com outros sobreviventes e quando o contato não pode ser evitado, geralmente entramos em conflito. Estou errada?
- Não, você não está – a porta voz falou depois de uma curta pausa. – Mas o que isso tem a ver com não podermos pegar o que vocês têm em mãos?
- Simples, se entrarmos em conflitos para pegar o que nossos vizinhos tem todas as vezes que nos encontrarmos, então chegara o momento em que não haverá mais vizinhos e não teremos mais o que conseguir, mas se aceitarem minha proposta, podemos fazer uma troca vantajosa para todos e continuarmos nossa jornada, crescendo cada vez mais para trazer a gloria dos Antigos mais uma vez para esse mundo.
- Sonhos ambiciosos o seu, comerciante – a porta voz olhou em volta por um momento e depois voltou a encarar Orlga. – Mas o que você teria em suas mãos que valesse nos arriscarmos tanto?
- Isso depende de suas necessidades, companheira viajante. Se precisam de comida ou água, infelizmente não tenho muito em mãos, mas possuo a informação de onde podem conseguir essas coisas. – Ela então fez um gesto para as sacolas amarradas no Shaga. – Necessitam um mapa da área? Podemos conseguir um. Ossos, couro e pele para produção de ferramentas? Também temos em quantidade. Venham, venham todos e vamos negociar. Uma nova era está se abrindo para nossos povos, vocês darão um passo nesse caminho com a gente?
A mulher encarou Orlga de maneira desconfiada por um momento antes de virar seu Ligeirinho na direção a qual tinha vindo.
- Fiquem de olho neles, vou falar com a Caravana para ver o que faremos. Isso está muito acima do que podemos decidir.
E ai galera, mais um miniconto de Contos das Terras Vermelhas, desta vez contando sobre o surgimento dos primeiros comerciantes que se aventuraram longe da proteção de uma caravana. Gostaram? Curtam, comentem e compartilhem com seus amigos.
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Contos das Terras Vermelhas
Cerita PendekColetânea de Contos de um mundo destruído. Um mundo vermelho sangue, um mundo seco em constante evolução. Um mundo de pessoas perseverantes, um mundo de terrores, um mundo de violência, mas ainda assim um mundo de esperanças.