DEZESSEIS

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Seu olhar vazio fez meu estômago revirar e mais uma ânsia de vômito queimou minha garganta. A perna de metal rangeu quando o Capitão deu mais um passo em minha direção, rolando o punhal fino e modelado no punho.

Seus olhos eram nada, eram vento, névoa e... nada. O rosto contorcido em frieza fantasma e ódio cego. Todo o uniforme banhado em sangue, ou qualquer coisa que seja tão pútrido quanto sangue seco.

- Não conseguiu salvar todos, Gabriela. – a pronúncia de meu nome naquela boca seca fez uma onda de repulsa cruzar meu corpo. – Você irá matar a todos, e no final, ficará sozinha. Morrerá sozinha, mas antes vai passar muito tempo remoendo sua vergonha... Seu fracasso em nos proteger.

Balancei a cabeça sentindo as lágrimas queimarem meus olhos.

Não é real.

- Fraca! – berrou minha mãe, pondo-se ao lado da primeira figura. – Tola. Não pode nos salvar agora.

Correntes se enroscaram em meus pulsos, ferro frio e afiado arranhando a pele branca. Arranhando...

Um baque no carpete me fez despertar. O suor acumulado em minha coluna me fez ter a certeza de que tinha sido mais uma lembrança de mais um pesadelo.

Passei a mão pela têmpora, na tentativa de aliviar a leve pressão ali. Analisei Peter golpear o saco de areia suspenso. Seus músculos contraíam e relaxavam conforme os movimentos repetiam-se.

- Está abrindo demais as pernas. – ele não falou nada, apenas ajustou os tornozelos conforme observado.

Estava concentrado demais, a boca entreaberta compassava sua respiração pesada. Ainda estávamos na terceira série de repetições do dia, mas Evans já aparentava cansaço.

Os ombros caídos e tensos chamaram minha atenção.

- Estique mais os braços. Está absorvendo o impacto errado. – dessa vez ele bufou, mas fez o certo. – Por que está batendo tão errado? Use os ombros!

Sua resposta foi acelerar os movimentos. Dessa vez desferindo chutes alternados. Os sons das pancadas ficaram mais fortes, preenchendo todo o ambiente.

Soltei os braços ao lado do corpo, impaciente.

Que showzinho é esse?

- Evans. – chamei, dando alguns passos em sua direção. – Evans, para! – Ele continuou.

Cara chato.

- Cara, chega. Pode parar! – dei mais alguns passos rápidos até ficar ao lado do saco preto. Agarrei o saco com força, para que parasse de se mexer, e assim impossibilitasse seus movimentos. – Eu mandei parar!

- Eu estava fazendo certo! – sua voz estava rouca. Os olhos duros me chamaram atenção. Eles queimavam, mas não era a constante determinação, era raiva.

- Não, não estava. – passei os olhos por seu rosto, analisando as rugas entre as sobrancelhas grossas, os ombros tensos e os punhos cerrados. As bandagens brancas que protegiam suas mãos revelavam pequenas manchas vermelhas nos nós dos dedos. – O que aconteceu?

Seus olhos passearam por meu rosto.

- Nada, Tenente, não aconteceu nada. Posso retomar as séries ou quer continuar conversando? – Trinquei o maxilar com seu tom, mas respirei fundo.

É só um dia ruim para ele.

- Você está descontrolado. Se for pra continuar se machucando é melhor ficar conversando.

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2021 ⏰

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