Seu olhar vazio fez meu estômago revirar e mais uma ânsia de vômito queimou minha garganta. A perna de metal rangeu quando o Capitão deu mais um passo em minha direção, rolando o punhal fino e modelado no punho.
Seus olhos eram nada, eram vento, névoa e... nada. O rosto contorcido em frieza fantasma e ódio cego. Todo o uniforme banhado em sangue, ou qualquer coisa que seja tão pútrido quanto sangue seco.
- Não conseguiu salvar todos, Gabriela. – a pronúncia de meu nome naquela boca seca fez uma onda de repulsa cruzar meu corpo. – Você irá matar a todos, e no final, ficará sozinha. Morrerá sozinha, mas antes vai passar muito tempo remoendo sua vergonha... Seu fracasso em nos proteger.
Balancei a cabeça sentindo as lágrimas queimarem meus olhos.
Não é real.
- Fraca! – berrou minha mãe, pondo-se ao lado da primeira figura. – Tola. Não pode nos salvar agora.
Correntes se enroscaram em meus pulsos, ferro frio e afiado arranhando a pele branca. Arranhando...
Um baque no carpete me fez despertar. O suor acumulado em minha coluna me fez ter a certeza de que tinha sido mais uma lembrança de mais um pesadelo.
Passei a mão pela têmpora, na tentativa de aliviar a leve pressão ali. Analisei Peter golpear o saco de areia suspenso. Seus músculos contraíam e relaxavam conforme os movimentos repetiam-se.
- Está abrindo demais as pernas. – ele não falou nada, apenas ajustou os tornozelos conforme observado.
Estava concentrado demais, a boca entreaberta compassava sua respiração pesada. Ainda estávamos na terceira série de repetições do dia, mas Evans já aparentava cansaço.
Os ombros caídos e tensos chamaram minha atenção.
- Estique mais os braços. Está absorvendo o impacto errado. – dessa vez ele bufou, mas fez o certo. – Por que está batendo tão errado? Use os ombros!
Sua resposta foi acelerar os movimentos. Dessa vez desferindo chutes alternados. Os sons das pancadas ficaram mais fortes, preenchendo todo o ambiente.
Soltei os braços ao lado do corpo, impaciente.
Que showzinho é esse?
- Evans. – chamei, dando alguns passos em sua direção. – Evans, para! – Ele continuou.
Cara chato.
- Cara, chega. Pode parar! – dei mais alguns passos rápidos até ficar ao lado do saco preto. Agarrei o saco com força, para que parasse de se mexer, e assim impossibilitasse seus movimentos. – Eu mandei parar!
- Eu estava fazendo certo! – sua voz estava rouca. Os olhos duros me chamaram atenção. Eles queimavam, mas não era a constante determinação, era raiva.
- Não, não estava. – passei os olhos por seu rosto, analisando as rugas entre as sobrancelhas grossas, os ombros tensos e os punhos cerrados. As bandagens brancas que protegiam suas mãos revelavam pequenas manchas vermelhas nos nós dos dedos. – O que aconteceu?
Seus olhos passearam por meu rosto.
- Nada, Tenente, não aconteceu nada. Posso retomar as séries ou quer continuar conversando? – Trinquei o maxilar com seu tom, mas respirei fundo.
É só um dia ruim para ele.
- Você está descontrolado. Se for pra continuar se machucando é melhor ficar conversando.
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Sou eu ou eles
ActionUma garota em uma missão com sua equipe completa e treinada só quer guerra com quem está lhe dando tanta dor de cabeça! Gabriela Bolton está totalmente focada em descobrir os motivos por trás de tantos sequestros de bebês em sua cidade. A cada resg...