SEIS

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Eu mordia a toalha tentando não gritar com a dor alucinante vinda da perna. Nove pontos na coxa eram tortura. Pisquei os olhos evitando que as lágrimas caíssem antes de terminar o pequeno trabalho de costura. Quando acabei, fiquei apenas com o short que Kriss havia me emprestado e minha blusa.

Encarei meu reflexo no espelho. Tinha alguns pequenos cortes no rosto, mas não valia a pena passar remédio. Logo sarariam.

Meu cabelo preto estava molhado e eu estava um pouco mais pálida que o normal. Escovei os dentes e sai do banheiro. Só consegui deitar na cama e fechar os olhos. O cansaço estava me dominando e as dores nos músculos estavam mais fracas depois do analgésico que tomei. Estava quase pegando no sono quando Peter resolveu conversar.

- Posso fazer uma pergunta? – começou.

- Não. Preciso dormir.

- Por favor – franzi o cenho, cansada demais para abrir os olhos.

- Se não for uma pergunta idiota.

- Por que, exatamente, estão tentando me matar? – perguntou, e só então levantei as pálpebras e tentei me apoiar nos cotovelos para encara-lo.

- Pensei que você soubesse... Disse que sabia.

- Eu disse que sabia em parte. – rebateu.

- Certo. O que você sabe?

- Acho que o básico. Meu pai falou que viriam atrás de mim por um erro que ele acabou cometendo. Depois disso ele me pôs em umas aulas aí, com um pessoal da polícia civil.

- Por isso não ficou com tanto medo hoje cedo. – pensei alto. – Explica também a mira razoável. – brinquei.

- Ei... Tive menos de um mês para praticar. Do contrário estaria melhor que você. – não pude conter a risada. Ele riu também, mas logo ficou sério novamente. – E então? Vai me falar o porquê de tudo isso?

Respirei fundo. Tudo o que eu queria era dormir, mas Peter tinha o direito de saber o que estava acontecendo. Sentei na cama e tentei organizar as informações na cabeça, de modo que Peter entendesse.

- Não estão exclusivamente querendo matar você. Acho que a essa altura já foram atrás da sua mãe e sua irmã também. – ele abriu a boca para falar, surpreso. Mas o interrompi com um gesto da mão. – Elas estão bem. Pelo que sei, tinha uma equipe com elas também e, se foram atrás de você, foram atrás delas e já devem estar no anexo. Seguras. – informei, percebendo que ficou mais aliviado com a informação. – Tudo isso foi porque seu pai acabou se envolvendo com um chefe de cartel. Crime organizado. Não sei de muita coisa, mas ele está devendo um bom dinheiro pra eles há um tempo. Parece que o limite dele estourou e tiveram que cobrar a conta. Vocês são o carnê dele de lembrete. – falei, mas me arrependi por ter feito uma comparação tão ruim assim.

Peter fez uma careta, acho que de frustração ou raiva, não sei ao certo. Era difícil tentar ler suas emoções enquanto o sono gritava para que eu deitasse a cabeça no travesseiro e dormisse.

- Então o desgraçado tá arriscando a família inteira por um pouco mais de dinheiro. – resmungou, encarando as mãos.

Eu realmente não sabia o que dizer. Aquela era uma área emocional que eu não tinha tanta experiência assim. Mas não queria pensar que seu pai arriscaria a vida deles dessa forma. Pois, ao contrário de alguns, ele era um pai presente. Isso o que eu achava.

- Eu o conheço. – soltou uma risada, sem emoção nenhuma. – Faria qualquer coisa por um negócio novo. Deu errado, com certeza.

- Cara, eu realmente não entendo o porquê seu pai fez isso e não estou muito a fim de tentar entender. – ele me encarou - Mas, tenta não julgar ele sem antes perguntar dele mesmo. – tentei ajudar, enquanto me esticava sob o cobertor e apoiava a cabeça no travesseiro. Acho que vi Peter abrindo a boca pra falar alguma coisa, mas quando a névoa do sono me envolveu, não fiz questão alguma de tentar entender algo mais que não dormir.

Sou eu ou elesOnde histórias criam vida. Descubra agora