Eu estava pondo a minha vida em risco por conta de um ser humaninho pequeno e fofo. Não posso acreditar que alguém consiga sequestra-los dessa forma.
Bom, permita-me explicar. Eu tecnicamente trabalho para uma companhia do governo de agentes especiais "altamente treinados". Minha família também está metida nessa confusão bem louca. Começamos a trabalhar para o governo dos Estados Unidos há três anos. Na verdade, meus pais já trabalhavam para eles um pouco antes de eu nascer, mas eu e minha irmã fomos recrutadas para compor uma espécie de equipe.
Basicamente, nós resgatamos, cuidamos e devolvemos para as famílias os bebês que conseguimos achar.
Eu estava terminando de trocar a fralda do pequeno Jack. Tínhamos acabado de conseguir rastreá-lo perto do local onde estávamos e fomos atrás.
O peguei no colo para tentar fazê-lo dormir, mas a dor no meu braço esquerdo não ajudou muito nessa tarefa.
Tinha um rasgo razoavelmente grande nele por conta de uma bala "perdida". Ainda sangrava um pouco e minha camisa estava suja com o sangue seco.
Percebi a respiração de Jack ficar lenta e ritmada e o coloquei no berço que tinha no quarto. Ele se remexeu um pouco mas continuou dormindo.
Fiquei observando-o com seus olhinhos fechados e as bochechas grandes levemente rosadas. Suspirei aliviada por termos conseguido ajudar mais uma família a achar o seu filho. Só o que nos resta agora é leva-lo para a sede da organização e de lá irão levá-lo para sua casa.
Entrei novamente no banheiro com o kit de primeiros socorros nos braços. Tomei meu banho calmamente, aproveitando da água morna do chuveiro. Nessa época do ano, normalmente estaria nevando, mas agora só o vento frio já era o bastante para fazer-nos bater os dentes.
Até hoje ainda não sabemos o real motivo para os sequestros. Temos suposições, mas só seriam confirmadas se conseguíssemos prender alguns dos homens que levam os bebês, mas até hoje, ou eles fugiram ou foram mortos pela revolta de alguns agentes. Revoltas pelas condições em que muitas vezes encontramos os bebês.
Encarei meu reflexo no espelho do banheiro. Eu não reconhecia o olhar que eu estava encarando. Um olhar perdido, revoltado e que deixara sua inocência há dois anos e meio, quando assinou o contrato que seria treinada para, na maioria dos casos, matar.
Apoiei o braço na pia e comecei o processo de limpeza do meu ferimento. Dar pontos em minha própria pele virou um hábito, na verdade se tornou uma rotina. Todos os dias, antes de dormir, limpar ferimentos do próprio corpo.
Quando acabei, ainda sentindo o ardor no braço, me vesti e segui para sala de controle.
- Descobrimos algo? - perguntei assim que entrei no local.
- O mesmo de sempre. – falou minha mãe desanimada. – Jackson Culler Barton, filho único da família Culler, que por acaso são ricos. Desaparecido há um ano. – informou lendo o formulário na tela do computador.
- Desaparecido há um ano? – perguntei com o cenho franzido.
- É o que consta no sistema. – afirmou minha irmã mais nova.
- Que estranho! Normalmente eles transportam as crianças com no máximo dois meses aqui na cidade. Nunca mais que isso. Por quê estavam levando-o só agora?
- Não sei, talvez estivessem realmente esperando pelo dinheiro do resgate.
- Ou, talvez, eles já o tivessem levado para fora e retornaram com eles agora.
- É mas, por quê? – ponderei as possibilidades – Por que só agora?
- Ainda não sabemos, ainda não sabemos de nada. – minha mãe suspirou – Estamos praticamente trabalhando com os olhos vendados.
- E o cara que estava levando ele? – perguntou Zoe.
- O tio do caminhão? – perguntei sarcasticamente, encarando minha irmã enquanto ela assentia com um olhar esperançoso. – Está morto, acabei atropelando ele. – conclui. Não iria contar tudo o que eu tive coragem de fazer com aquele homem.
- O quê?! – gritou minha mãe, levantando da cadeira. – Gabriela, você sabe o quão importante é nós conseguirmos prender um deles?
- Eu sei mã...
- Não! Nada de "eu sei mãe". Toda vez é isso. Você vai, fica revoltada, e mata o cara que poderia ser bem mais útil vivo! – mais um suspiro – Estou pensando se não seria o caso de avisar ao Kenedy sobre o seu descontrole.
- O quê?! Não! Não! Mãe, a senhora não pode fazer isso, ele vai me tirar da operação.
- Pois bem! Então vê se começa a fazer algo útil. – seu olhar de desprezo era pior do que as facadas que ganho nos treinamentos. Depois de ter dito isso, ela saiu em direção a um dos quartos que tinha no anexo.
Encarei o semblante triste da minha irmã quando senti sua mão em meu ombro.
- Ela só está irritada. Não queria dizer nada disso.
- Ela sempre está irritada Zoe. E ela quis sim dizer isso! – me afastei dela recusando sua piedade. Isso era tudo o que eu não precisava, piedade alheia.
- Onde você vai Gabi? – continuei andando rumo a sala de treinamentos.
O anexo em que estamos da organização é bem grande se comparado aos outros. Cada equipe possui um anexo. Basicamente, eles servem para o abrigo depois de algum resgate. Servem também para esconderijo dos agentes. Depende da necessidade de cada, contanto que esteja de acordo com as regras da organização.
Coloquei um dos pares de luvas que tínhamos ali e me aproximei de um saco de areia. Tentei descontar o ódio que eu estava sentindo no momento. Ódio dos sequestradores, ódio da minha incompetência, ódio da falta de informações e até mesmo ódio do meu ódio. Tudo o que eu queria eram respostas, mas teria que ir atrás delas sozinha no momento.
Depois de algum tempo dando golpes, decidi ir praticar um pouco mais de mira, talvez quebrar meu braço direito para praticar mais a mira da esquerda não seja má ideia.
Senti o suor escorrendo pela minha coluna. A sensação do cansaço me invadiu, me deixando um pouco mais aliviada. Continuei atirando, até que um barulho ensurdecedor ecoou no lugar quando a placa do alvo caiu no chão.
- Bolton! – ouvi a voz de Gael, que me encarava com as sobrancelhas erguidas.
- O quê? – perguntei ofegante.
- Tua mãe. Está nos chamando. Reunião com o conselho. – confirmei e peguei uma toalha para enxugar o suor. Ele também estava suado, o que fazia sua camisa grudar em seu corpo. Devia estar treinando quando recebeu o chamado.
Se o conselho estava ligando, boa coisa não seria... para nenhum dos lados.
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Sou eu ou eles
ActionUma garota em uma missão com sua equipe completa e treinada só quer guerra com quem está lhe dando tanta dor de cabeça! Gabriela Bolton está totalmente focada em descobrir os motivos por trás de tantos sequestros de bebês em sua cidade. A cada resg...