NOVE

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Já passava um pouco mais de meia noite, tarde, mas eu não queria dormir. Por mais que eu tenha passado o restante do dia auxiliando outras equipes com alguns resgates, eu não estava com cabeça para superar outro pesadelo.

Estou parecendo uma criança com medo dos trovões.

Peguei outro punhal dos muitos dispostos na minha cama. Testei novamente seu equilíbrio, analisando se ele precisaria ser amolado. Com todos os outros fiz o mesmo ritual, até que parti para as pistolas, certificando-me de manter os pentes com as recargas em uma gaveta de fácil acesso.

Decidi organizar o pequeno arsenal que possuía em meu quarto. Nosso anexo tinha um bem maior, com armas muito mais potentes, mas aqui eu mantinha minhas armas preferidas. As melhores eram as armas camufladas. Possuía uma espécie de batom, que liberava uma descarga elétrica considerável que Zoe insistia em chamar "batom de choque". Poderia matar uma pessoa com a alta voltagem que saía daquela coisa. Tinha também um relógio que soltava pequenos dardos tranquilizantes, eram rápidos e muito eficazes. Sempre usava para apagar civis que atrapalhariam algumas missões.

Apanhei alguns brincos que na verdade eram pequenas granadas e os guardei na gaveta adequada. Estava com as pistolas nas mãos quando uma série de batidas fortes se iniciou em minha porta.

Alerta, destravei uma 38 e caminhei lentamente até lá. Não era uma emergência do anexo, tínhamos alarmes individuais para isso. Toquei a maçaneta e abri, dando de cara com um Peter sonolento, com os olhos vermelhos e os cabelos desgrenhados. Sua jaqueta preta não escondia a blusa branca um pouco encharcada e toda suja.

Um aperto no estômago incomodou quando recordei do ocorrido mais cedo. Não queria vê-lo agora.

Peter olhou para a arma em minha mão e em seguida para o meu rosto, só aí que percebi o corte no canto de sua boca, juntamente com o canto do olho esquerdo inchado e roxo.

- O que aconteceu com você? – finalmente consegui perguntar. Poderia ter sido Gael. Ele entrou no quarto, mas quando passou por mim pude sentir o fedor de álcool que vinha dele. Tapei o nariz e fiz uma careta. – Droga Peter. Você bebeu?

- Só um pouco. – respondeu, sonolento, antes de deitar na minha cama. Mas que...

- Um pouco? – ironizei. – E sai da minha cama, cara. Você está todo sujo. – tentei puxá-lo para fora, o único problema era ele pesar o triplo e ter o dobro do meu tamanho.

- Deixe-me dormir, Bolton. – murmurou contra meu travesseiro. Só pode estar de brincadeira.

- Na minha cama não! – gritei. Aquilo pareceu chamar atenção dele, porém o máximo que fez foi abrir um dos olhos e falar de uma forma que tive de me esforçar muito para entender.

- Escute, eu acabei e-exagerando um pouco nas bebidas, confesso. Mas se a minha mãe ou minha irmã me virem assim, vou levar uma bronca enorme por ter saído daqui. Por favor, me deix...

- Você saiu do anexo?! – gritei um pouco mais enquanto ele revirava os olhos. – Peter! Ficou maluco? Você está escondido garoto. Escondido! Não pode simplesmente dar uma volta por ai, idiota! – ralhei, irritada. Tudo o que ele não podia fazer era sair daqui. – E ainda por cima, como se não fosse o bastante se pôr em risco, volta bêbado. Bêbado! Tem noção do que fez, Evans? Podiam ter te achado, você poderia estar morto agora e... – perdi o fôlego.

- E o que? – ele sentou na cama, cambaleante.

- E eu posso ser expulsa. – murmurei, encarando-o com os olhos arregalados e sentindo o pânico subindo pela garganta. Ah, não. Pulei na cama, sentindo meu sangue ferver e passei a desferir tapas nele. Era o máximo que podia fazer sem deixar marcas aparentes. – Seu inconsequente! Eu posso ser expulsa da equipe por conta da sua escapada. Eu era a responsável por te manter aqui.

Sou eu ou elesOnde histórias criam vida. Descubra agora