4.

353 70 11
                                    

Durante a aula de geografia, meu olhar cai do professor para dedos chacoalhando em cabelos loiros escuros.

Miguel está afundado na cadeira nos fundos da sala apoiando os pés na cadeira à sua frente e seus dedos afundando nos fios meio compridos.
Seu rosto está neutro, e de vez enquanto ele franze o nariz pequeno. Suas sardas se aproximam com a pele franzida.

Seus olhos semicerram para o que está escrito no quadro. Eu acho que ele precisa urgentemente de um óculos de grau, e por algum motivo surreal, nem ele e nem os amigos percebem isso. Como alguém não vê o problema? Ele não enxerga de longe e continua sentado nos fundos.

Quando dou por mim, seu olhar cai sobre o meu. Arregalo os olhos o vendo me encarar confuso durante a aula. Ninguém ali parece perceber.

Me viro de volta para o quadro sentindo ser observada. Ele não havia desviado. Por favor, pare de olhar!

Me assusto com as cutucadas de Maylla na cadeira atrás de mim.

— Madaram pra você. — ela joga um papelzinho na minha mesa. O abro sem que o professor veja.

Tem alguma sujeira na minha cara?

– M               

Sorrio quando termino de ler.

Você precisa ir ao oftalmologista, tipo, urgente!

– A               

Peço pra Maylla devolver o mesmo papel. Ignoro seu olhar de malícia para mim. Ela provavelmente leu o papel antes de me entregar.

Eu não tenho problema de vista!
estou muito longe do quadro, apenas.
Eu sei que você estava me admirando,
confesse...

M              

Me surpreendo com a sua audácia. Ele acha mesmo que estava o secando no meio da aula? Não tinha notado essa versão convencida de Miguel, e mesmo estando chocada, acabo sorrindo.

Confesso que você está sendo um abusado, Miguel. Procure uma cadeira lá na frente e preste atenção na aula.
(Obv: jogue o papel fora e não me atrapalhe)

– A             

Antes mesmo de dobrar o papel e mandar para Maylla, a professora aparece bem a minha frente. Ela me toma o papel, e consigo sentir Miguel surtar do outro lado da sala.

— Não é hora para essas cartinhas amorosas, senhorita Ferreiro. — diz em um tom alto o suficiente para todos da sala ouvirem.

Todos ali começam a soltar um uníssono "uuu" malicioso para mim, menos Maylla — que ficou nervosa por mim —, e Gustavo — que não parece nada feliz com aquilo. Pouco me importa o que ele acha! Eu só não preciso de uma suspensão antes do acampamento.

— Não, professora! — retruco nervosamente — Não é nada dis...

— Vai me dizer que não está trocando cartinhas com o Miguel? — me interrompeu.

A sala foi preenchida por vários rostos surpresos e risos atrevidos para Miguel. Ele encarou Gustavo, tenso, que se virou e o ignorou. Essa não!

Pedras E SardasOnde histórias criam vida. Descubra agora