Postei do nada assim que terminei. Espero que gostem da finalização do meu segundo conto e deixem seu "tchau" pro Miguel, pra Maylla, pra Agatha e pro Gusta.
Beijão!
Reparo nas paredes em tons papéis da sorveteria. Tudo aqui tem um detalhe um pouco enjoativo e fofinho até demais. Mas eu gosto bastante.
— Quer dividir um sundae? Ou vai querer competir com aquele pote absurdamente gigante de sorvete comigo de novo?
Reviro os olhos para Miguel. Ele gosta de repetir essa história sempre que pode e já faz meses que o detonei na competição de sorvete gigante.
— Você nunca superou sua derrota, não foi? — zombo, lhe mostrando a língua.
Antes que ele retrucasse, Gustavo e Maylla chegaram e se sentaram conosco.
— Eu preciso de sorvete. Muito sorvete. — Maylla desabou o rosto sobre a mesa, exalando cansaço.
— Pelo visto a aula experimental de basquete foi ruim. — comento, assim que faço nossos pedidos.
Havia começado a trabalhar na oficina do meu pai faz alguns meses depois de muita insistência, e como os negócios vão bem e ele não tem que se preocupar com minhas notas na escola, acabou aceitando e agora ganho um salário razoável.
Finalmente posso pagar por um sundae na sorveteria chique e eu mesma posso me mimar. Claro, meu namorado ajuda bastante nesse quesito também (à me mimar, óbvio).
— Ela levou o treinador pra enfermaria. — Gustavo começou a rir massageando as costas da gatota exausta ao seu lado.
— Foi sem querer, tá legal? — levantou o rosto para nós — Era pra acertar na cesta, mas descobri que sou péssima de mira. Péssima mesmo.
— Muito péssima. — Gustavo continuou, a fazendo fuzilá-lo com o olhar.
Maylla desistiu do balé há um ano atrás desde que suas irmãs se formaram e ela não tinha mais como deixá-las no chinelo quanto ao seu desempenho escolar. Então, com a ajuda do seu suposto namorado — ou seja o que os dois estão enrolando pra ser —, ela está buscando novas atividades extracurriculares, e o basquete acaba de sair da lista de opções.
— Temos mais um ano pela frente, May. Não desanima. — a incentivo — Você vai encontrar algo que te divirta e não faça você matar ninguém.
Todos riram, até ela tentando se conter um pouco.
— Eu sou boa em muitas coisas. Posso encontrar algo legal. — deu de ombros, analisando as unhas curtas e sem esmaltes.
— O pessoal da turma já está planejando a viajem do último ano. Vocês souberam? — Gusta noticiou.
— Pra quê a pressa? Estamos no segundo ainda. — Retruco.
— Eles querem voltar à ilha do medo.
— Nem pensar! — dissemos os três, ao mesmo tempo.
— Entendi! — Gustavo estendeu os braços em redenção — Não voltamos pra lá, então. Mas se bem que podíamos fazer alguma coisa juntos nesse fim de mês. As férias de junho vão começar.
— A gente planeja alguma coisa até lá.
Demos de ombros, encerrando o assunto quando nossos pedidos chegaram e nos labuzamos de sorvete. Essa é nossa nova rotina desde que saímos da ilha do medo.
É bom, finalmente poder sair da zona solitária de conforto de apenas uma amiga. Agora tenho um namorado, mais dois amigos e posso sair com eles sempre que meu pai está de bom humor e não inventa alguma coisa sobre ir a lugares muito reservados com Miguel.
— Ah, sua apresentação sobre tribos indígenas foi incrível! — Gustavo comentou, me fazendo sorrir orgulhosa.
— É verdade. — Miguel segurou minha mão em cima da mesa — Aposto que nunca ninguém tinha se tocado sobre aquelas faltas representações que sempre estamos acostumados a ver.
— Tipo os personagens indígenas da Turma da Mônica. — Maylla fez careta — Ou aquela idiotice da Xuxa de esteriotipar com as "musiquinhas de índio". — fez aspas com as mãos.
— Que bom que vocês gostaram. — me aconchego no ombro de Miguel — Representações indígenas famosas não são nada bem representadas, e as tribos da nossa região foram esquecidas no churrasco.
— Meu pai sempre procura temas pra abordar nos eventos dele. Seria uma ótimo assunto pra esse ano e você pode palestrar. Por que não fala com ele sobre isso? Seria incrível!
Miguel me olhou com expectativa. Seria mesmo incrível palestrar sobre um assunto que tanto trabalhei pra abordar aos meus amigos e minha turma. E também...é algo que minha mãe faria se tivesse oportunidade.
— Os seus pais me amam, mas acha mesmo que levariam essa proposta à sério? — o encarei, hesitante — Eu sou só uma adolescente que nem terminou o ensino médio ainda.
— Deixa de besteira! — Maylla nos interrompeu, fazendo Gustavo balançar a cabeça em concordância enquanto lhe roubava um pouco do seu sorvete — Você é brilhante! Ele vai pirar com a idéia.
— Vai mesmo. — Miguel sorriu, contente.
Olhei para meus amigos, pensando seriamente naquilo. Se dissessem algo assim para a Agatha medrosa há um ano atrás, eu negaria com todas as minhas forças, mesmo querendo muito aceitar. Mas, não sou a mesma Agatha.
Eu tenho mais de um amigo, tenho um namorado, sou confiante e quero dar orgulho aos meus pais e minha tia fazendo o que faço de melhor.
— Tudo bem. Posso ir com você até sua casa, hoje? Meu pai pode deixar eu ir caso seus pais estejam em casa.
Miguel se animou, concordado.
— Eles estarão, sim. Podem desocupar pelo menos uns quinze minutos do tempo deles pra paparicar você. — ele brincou. Assenti, convencida por ser tão querida por seus pais, mas quando Gustavo e Maylla se distraíram, ele sussurrou discretamente em meu ouvido — E eu vou ter meu tempinho pra paparicar você também.
Reprimo a vontade de beijá-lo ali mesmo, mas esperaria até que chegássemos em sua casa.
— E então? Mais uma competição pra ver quem termina primeiro? — Maylla nos desafio — Casal contra casal.
— Somos um casal? — Gustavo a provocou, mas ela ignorou.
— Você vai perder. — Miguel replica, fazendo um toque com as mãos comigo que inventamos.
— Preparados? — preparamos nossos potes de sorvete. — 3...2...
— Já!
Não é difícil de imaginar que nós ganhamos.
Fim do epílogo.

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Pedras E Sardas
Short StoryAgatha tem uma pequena quedinha por Luca Delfin, o veterano da escola São Martim, e quando tem a oportunidade de passar à noite em uma ilha conhecida por suas festas proibidas e lendas urbanas, arrisca a própria relação com o pai em participar dessa...