9.

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— Eu acho que vi alguma coisa! — Maylla apertou firme meu pulso olhando para um ponto da mata escura a alguns metros.

— Bola de foooogo! —  Miguel zombou, tentando fazer medo.

— A mulher de branco! Dizem que ela sempre aparece nesse horário.

— Eu juro por Deus que pego a primeira pedra que conseguir e jogo na sua direção! — Maylla soltou, entre os dentes. Nem pareciam que os dois estavam na maior intimidade uma hora atrás.

Ficamos mais ou menos por esse horário brincando com o pessoal do acampamento, e nem percebemos anoitecer. Agora, para a infelicidade de Maylla, estávamos atravessando a mata escura com apenas a lanterna de um celular.

— Estou brincando! — Gustavo sorriu, pousando um beijo rápido na bochecha da minha amiga assim que passa por atrás dela iluminando o lugar que ela havia visto algo — Não tem nada, viu?

De repente, uma pequena luz alaranjada, um pouco distante, em meio a mata apareceu. Pensei ter sido só coisa minha, mas pervebo todos estarem olhando na mesma direção.

— Estão vendo isso? — indago, me assustando quando o ponto luminoso começou a se mover entre as árvores.

— B...bo-bola de fogo...— Maylla tentou gritar, mas apenas um fio de voz amedrontado saiu de seus lábios.

— Amiga, é óbvio que não! Isso não exi...— focaliso mais a visão reparando no quanto aquilo parecia mesmo com uma...

— Gente! — Miguel, nos chamou engolindo o seco — Bora sair daqui, logo!

Então corremos. Corremos feito doidos. Corremos mais que no esconde-esconde, mais do que em qualquer momento da nossa vida. Eu perdi um lado do chinelo e Gustavo também. Já devem saber que não voltamos lá pra pegar.

Voltou a chover forte quando voltamos para casa de praia tentando esquecer o ocorrido na mata.

Ainda se recuperando do susto, Maylla subiu para ajeitar as camas quando fôssemos dormir e tomar um banho para se livrar daquela lama toda. Aproveitei que os meninos estão entretidos em uma conversa, sentados nas cadeirs suspensas da varanda, para mandar mensagem para meu pai.

O sinal aqui é péssimo, mas se eu nem ao menos tentasse me comunicar com ele, talvez nunca mais tenha a chance de sair com amigos, sozinha, novamente.

Eu tô bem, viu? Já almocei e estou indo jantar. Passamos a tarde na praia nos divertindo. O sinal é péssimo, mas vou tentar lhe
atualizar até voltar.

Consigo enviar a mensagem.

— Vou tomar um banho também. É bom pra tirar toda essa lama... — Gustavo avisou, olhando impaciente para as escadas.

Me assusto com a rapidez dos seus passos ao sumir pelo segundo andar. Encaro Miguel desconfiada, e respondendo minha pergunta mental, ele sorriu maliciosamente.

— Você acha que eles...— começo a dizer, mas ele confirma antes mesmo de terminar — Jesus Cristo! O quê faremos com eles? São dois atrevidos.

Guardo meu celular, me sentando na sofá-concha da varanda. As portas de vidro foram fechadas, e podíamos ter uma boa vista da chuva lá fora.

— O que faremos com eles, não. O que faremos com nós agora que estamos sozinhos. — se levantou do tapete e andou uns três passos de joelhos até mim, apoiando os braços em minhas pernas.

Pedras E SardasOnde histórias criam vida. Descubra agora