6.

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Subo as escadarias da São Martim o mais rápido que posso tentando não empurrar ninguém em meu caminho. É a quinta vez que tento falar com Maylla pelo telefone, mas ela não atende de jeito nenhum.

Quero contar sobre as grandes novidades de ontem, e não me contenho de ansiedade.

Avisto Leia indo em direção ao refeitório. Alcanço seus passos a chamando.

— Oi, Leia. Como vai? — pergunto educadamente recuperando o fôlego da corrida.

— Vou bem, Tatá. — sorriu desleixadamente como sempre faz. Ignoro o apelido — A Maylla deve estar no banheiro feminino do segundo andar. — responde prevendo minhas próximas perguntas.

— Obrigada. — apresso o passo outra vez subindo mais um lance de escadas até o banheiro feminino.

Suspiro aliviada indo abrir a porta, mas parece estar bloqueada por algo de dentro.

— Ué. — tento empurrar, em vão — Maylla? Você ficou presa ou algo assim?

Chamo por minha amiga temendo o pior. Maylla costuma ser claustofróbica as vezes, mas percebo estar totalmente enganada quando um garoto conhecido do terceiro ano sai me cumprimentando e se afastando. Logo em seguida, uma Maylla um pouco corada e ofegante sorri para mim.

— Amiga...— deu uma pausa pra puxar o ar sem esconder o sorriso atrevido — nem te conto.

— Melhor nem contar mesmo. — brinco a fazendo rir — Ele deve beijar bem.

— Ele não só beija bem como também faz muitas costas com as mãos. Nossa, que mãos! — suspirou indo até o parapeito da janela do segundo andar.

— Jesus Cristo, Maylla! — a repreendo.

— Só Jesus mesmo...

— Maylla! — empurro seu ombro — Só tente se controlar com a galera do último ano quando viajarmos. Não quero ficar sozinha, sobrando.

Digo, sugestivamente a vendo arregalar os olhos.

— Isso significa...— se vira pra mim. Assinto com a cabeça e ela começa a pular e me balançar pelos ombros — Vamos acampar!

— Vamos acampar! — nos abraçamos.

— Mas, como? Sua tia, não foi? Ela convenceu o seu pai! — assinto outra vez.

— Quando cheguei em casa, eles haviam conversado e ele deixou, com a condição de que eu lhe mandasse mensagens a cada quinze minutos.

— Mal sabe ele que não tem sinal de internet por lá. — gargalhou.

Em meio seu momento histérico, meus olhos caem sobre Miguel que vinha em nossa direção.

Essa não. — sussurrei, pensando alto.

— Agora eu posso falar com você, Dona Agatha? — se meteu entre nós ignorando Maylla complemente.

— Não, estou conversando com a Maylla. Pode me dar licença? — digo com descaso, empinando o nariz.

Controlo meus nervos quando ele dá mais um passo a minha frente quase colando nossos corpos. Engulo o seco o vendo se inclinar sugestivo para mim, mas quebro o clima. Poderia sentir a respiração de Maylla falhar às costas dele, surtando muito provavelmente.

— Você não vai se livrar de mim até me deixar explicar.

— Quer apostar? Se inclinando dessa forma pra cima de mim pode me dar uma boa razão pra denunciar você por assédio.

Ele riu. Aquela risada boba e bonitinha  ainda com os lábios rosados curvados em um sorriso educado.

— Não é assédio quando você gosta.

Pedras E SardasOnde histórias criam vida. Descubra agora