8.

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Eu nem havia pensado que nos iríamos comer caso a casa de praia dos pais de Gustavo não tivesse uma cozinheira — que tem uma comida muito boa, por sinal.

De vez em quando, me peguei observando Miguel enquanto comíamos. Ele pareceu não perceber. Estava entretido em uma conversa com Maylla e Gustavo.

Falando em Gustavo, ele não parece mais tão interessado em mim como alguns dias atrás, nem tão zangado com Miguel pelo acontecido das cartinhas. Penso que os dois conversaram sobre o ocorrido, mas preciso me certificar primeiro. Não quero causar nenhuma intriga entre dois amigos tão próximos.

— Martha, isso tá uma delícia! — Maylla elogia a cozinheira.

Martha nos lançou um sorriso lindo para nós quatro, agradecendo. Ela é simpática e apesar da idade, podia-se ver os fios cacheados e dourados bonitos entre os grisalhos.
Ela é muito fofa.

— Vou preparar um brigadeiro caseiro para a sobremesa! Vai combinar perfeitamente com a chuva que vai vir mais tarde. Deus ajude aquelas crianças que acamparam.

Fez carinho no cabelo ondulado de Gustavo, e saiu para a cozinha, animada.

— O que vocês acham da gente ficar na varanda enquanto a gente come brigadeiro? — Maylla deu a ideia, e todos concordamos.

— O brigadeiro da Martha é o melhor, vocês vão amar. — Gustavo, elogiou. Notei sua curta encarada para Maylla quando uma das alças finas da sua blusa escorregou sobre seu ombro.

Pigarreio, corando um pouco. Estou já  prevendo a malícia dos dois, e não quero estar por perto quando isso acontecer.

— Vocês já terminaram? — me levanto, baixando meu olhar para os pratos pronta pra recolher.

— Não precisa tirar a mesa, Agatha. — Gustavo avisou, gentilmente — A Martha pode fazer isso.

— Ela está ocupada com o brigadeiro e já fez o almoço. É o mínimo que podemos fazer pra agradecer à ela. — respondo, como se fosse algo óbvio a se fazer.

— Mas é o trabalho dela, amiga. — Maylla, acrescentou, me deixando ainda mais desconfortável com a forma como eles foram criados, tão diferente da que eu fui.

— Não é por isso que vamos deixar de ser educados e ajudar ela que passou a manhã inteira, em pé, em frente o fogão pra cozinhar pra quatro preguiçosos que nem nós.

Zombo, o fazendo rir.

— E também, o braço de vocês não vai cair, seus burgueses mimados.

Após uma onda de risadas, eles se levantam dados por vencido, pegando seus devidos pratos e se dirigindo todos para a cozinha, cada um lavando sua louça. Martha tentava esconder o sorriso o tempo inteiro enquanto mexia a panela de brigadeiro em frente o fogão.

Fico por último, para lavar meu prato, e antes de sair da cozinha após terminar todo o trabalho, interrompo meu caminho para fora do cômodo, a ouvindo me chamar.

— Obrigado, sua pilantrinha inteligente. — sorriu, calorosamente.
Ela despejou o brigadeiro em um prato fundo e fez o que toda criança ama que façam: me deu a panela para raspar o resto do chocolate enquanto levava o prato até a geladeira.

Saltitei, feliz, de volta para a sala onde todos iriam esperar o brigadeiro gelar para irmos para a varanda.

Maylla e Gustavo conversam sobre suas aulas extracurriculares enquanto Miguel mexe no celular, sentado desleixadamente na poltrona.

Me atrevo a me jogar ao seu lado na poltrona que já não tem muito espaço. A lateral do meu corpo fica totalmente colada no seu, mas ignoro.

— Não acredito que ela deu a panela à você! — Maylla resmungou, surpreendida.

Pedras E SardasOnde histórias criam vida. Descubra agora