Eu nem havia pensado que nos iríamos comer caso a casa de praia dos pais de Gustavo não tivesse uma cozinheira — que tem uma comida muito boa, por sinal.
De vez em quando, me peguei observando Miguel enquanto comíamos. Ele pareceu não perceber. Estava entretido em uma conversa com Maylla e Gustavo.
Falando em Gustavo, ele não parece mais tão interessado em mim como alguns dias atrás, nem tão zangado com Miguel pelo acontecido das cartinhas. Penso que os dois conversaram sobre o ocorrido, mas preciso me certificar primeiro. Não quero causar nenhuma intriga entre dois amigos tão próximos.
— Martha, isso tá uma delícia! — Maylla elogia a cozinheira.
Martha nos lançou um sorriso lindo para nós quatro, agradecendo. Ela é simpática e apesar da idade, podia-se ver os fios cacheados e dourados bonitos entre os grisalhos.
Ela é muito fofa.— Vou preparar um brigadeiro caseiro para a sobremesa! Vai combinar perfeitamente com a chuva que vai vir mais tarde. Deus ajude aquelas crianças que acamparam.
Fez carinho no cabelo ondulado de Gustavo, e saiu para a cozinha, animada.
— O que vocês acham da gente ficar na varanda enquanto a gente come brigadeiro? — Maylla deu a ideia, e todos concordamos.
— O brigadeiro da Martha é o melhor, vocês vão amar. — Gustavo, elogiou. Notei sua curta encarada para Maylla quando uma das alças finas da sua blusa escorregou sobre seu ombro.
Pigarreio, corando um pouco. Estou já prevendo a malícia dos dois, e não quero estar por perto quando isso acontecer.
— Vocês já terminaram? — me levanto, baixando meu olhar para os pratos pronta pra recolher.
— Não precisa tirar a mesa, Agatha. — Gustavo avisou, gentilmente — A Martha pode fazer isso.
— Ela está ocupada com o brigadeiro e já fez o almoço. É o mínimo que podemos fazer pra agradecer à ela. — respondo, como se fosse algo óbvio a se fazer.
— Mas é o trabalho dela, amiga. — Maylla, acrescentou, me deixando ainda mais desconfortável com a forma como eles foram criados, tão diferente da que eu fui.
— Não é por isso que vamos deixar de ser educados e ajudar ela que passou a manhã inteira, em pé, em frente o fogão pra cozinhar pra quatro preguiçosos que nem nós.
Zombo, o fazendo rir.
— E também, o braço de vocês não vai cair, seus burgueses mimados.
Após uma onda de risadas, eles se levantam dados por vencido, pegando seus devidos pratos e se dirigindo todos para a cozinha, cada um lavando sua louça. Martha tentava esconder o sorriso o tempo inteiro enquanto mexia a panela de brigadeiro em frente o fogão.
Fico por último, para lavar meu prato, e antes de sair da cozinha após terminar todo o trabalho, interrompo meu caminho para fora do cômodo, a ouvindo me chamar.
— Obrigado, sua pilantrinha inteligente. — sorriu, calorosamente.
Ela despejou o brigadeiro em um prato fundo e fez o que toda criança ama que façam: me deu a panela para raspar o resto do chocolate enquanto levava o prato até a geladeira.Saltitei, feliz, de volta para a sala onde todos iriam esperar o brigadeiro gelar para irmos para a varanda.
Maylla e Gustavo conversam sobre suas aulas extracurriculares enquanto Miguel mexe no celular, sentado desleixadamente na poltrona.
Me atrevo a me jogar ao seu lado na poltrona que já não tem muito espaço. A lateral do meu corpo fica totalmente colada no seu, mas ignoro.
— Não acredito que ela deu a panela à você! — Maylla resmungou, surpreendida.

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Pedras E Sardas
Short StoryAgatha tem uma pequena quedinha por Luca Delfin, o veterano da escola São Martim, e quando tem a oportunidade de passar à noite em uma ilha conhecida por suas festas proibidas e lendas urbanas, arrisca a própria relação com o pai em participar dessa...