7.

355 60 33
                                    

— Está levando tudo? Protetor solar, carregador de celular, uma chave de fenda...— me viro pra ele, inclinando a cabeça em confusão.

— Chave de fenda?

— Eu sei o que garotos tarados da sua idade tentam fazer com as garotas em um acampamento. — pôs as mãos na cintura, tentando esconder o nervosismo.

— Ah, claro. Você já foi um garoto tarado na minha idade, não foi, pai? — brinco, rindo enquanto ele semicerra os olhos para mim — Eu vou ficar bem, mas por precaução...

Vou até minha cômoda onde guardava a minha caixa média de ferramentas que pedi ao meu pai uns meses atrás. Decidi que precisava de uma já que conseguia concertar minha bicicleta sem a ajuda dele.

Pego uma chave de fenda razoavelmente pesada e a guardo na mochila.

— Minha garota. — acenou, mais aliviado, sem tirar a carranca na cara — Sua tia já está te esperando. Eu preciso trabalhar cedo, hoje, então...— antes mesmo dele terminar, me apresso em abraçá-lo.

Estou feliz que meu pai tenha me dado esse voto de confiança. Sei que ele se sente apreensivo comigo tão longe, mas é a minha oportunidade de ser independente dele e reconhecer os meus limites.

Chegamos minutos antes da balsa partir. Já podia ver o grupão do terceiro ano aglomerado para atravessar a pequena ponte do deck do terminal.

— Se divirta e não perca o juízo! — tia Rubi me enche de beijos ao se despedir — E beije muito!

— Jesus, titia! — exclamo, olhando para todos os lados. Por sorte, o terminal está barulhento com as conversas animadas dos adolescentes.

Pego minha mochila desviando das pessoas a procura de Maylla ou de alguém do pequeno grupo do primeiro ano. Meu coração se acelera na tentativa de encontrar o rosto de Miguel entre as pessoas, mas acabo que entrando sozinha na balsa rezando para que Maylla já esteja lá dentro.

Tento lhe mandar algumas mensagens, mas não sou respondida em nenhuma das vezes.

Cumprimentando alguns conhecidos do terceiro ano, reparo em Kira conversando animadamente com um veterano. Tinha esquecido que ela foi convidada mesmo sendo do segundo, afinal, quem nos convidou foi o Miguel e ela é a namorada dele.

Óbvio que ele a convidaria.

Arregalo os olhos quando o garoto abraça sua cintura e beija rapidamente o seu pescoço. É sério? Essa baixaria toda em público?

— Encontrei você! — dou um pulo do banco em que sentei sendo rodeada pelos braços de Maylla — Eu estava desesperada! — sorriu aliviada.

Eu que estava, Maylla! — retribuo o abraço, a puxando para se sentar ao meu lado.

— Não deixei meu celular carregando noite passada, e esqueci o carregador. Espero que tenha trazido um. — fez careta.

— Se quer saber, eu trouxe até uma chave de fenda. — ela começa a rir.

— Isso é história do seu pai, não é? — confirmo acompanhando sua risada — Vem, vamos. Os que vieram do primeiro ano estão no segundo andar da balsa. A vista é muito legal de lá.

Ela me puxa para levantar, mas a puxo de volta chamando sua atenção.

— Miguel e Gustavo vieram? — indago, nervosamente.

— Os dois solteirões mais lindos da nossa sala? Claro que vieram! Estava conversando com o Gusta agora pouco. Ele perguntou por você. — sorriu, maliciosa.

— Não seria uma má idéia me jogar dessa balsa e nadar até a costa, não é? — encaro o parapeito, vendo a altura que estamos da água.

— Nem pensar! — me faz levantar — Estudamos feito duas condenadas essa última semana para as provas, eu mereço uma folga, então faça um favor de escolher um desses gatos e deixar o outro pra mim!

Pedras E SardasOnde histórias criam vida. Descubra agora