4. Dom

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— Eu não sabia que era tão emotivo, Mestre Corvo – disse o doutor Cuneun com um olhar que parecia ser de desprezo. – Sendo seu aprendiz ou não, precisamos terminar os testes. Como seu Dom Natural ficou a vida inteira funcionando sem que percebesse, será um pouco difícil precisar seu funcionamento e limites, então temos que ir para o pátio externo onde há o que é necessário para terminá-los. Srta. Cromwell e Mestre Corvo querem vir também? Nada de grandioso deve acontecer, só vou analisar as pequenas mudanças no fluxo mágico dele enquanto faz alguns exercícios.

Já recuperado da conversa emocionada que tivera mais cedo, Corvo limpou a garganta e respondeu:

— Anna deve querer ficar assistindo enquanto termina o teste. Eu preciso receber nossos amigos do exército e conversar com o General Inquisidor antes que comece uma confusão ainda maior por conta da minha bagunça – concluiu sorrindo.

— Tudo bem, mestre. Eu cuido dele para não aprontar – respondeu Anna.

— É ótimo ter uma aprendiz tão dedicada – disse Corvo fazendo um carinho na cabeça dela. – Assim que o teste acabar me encontrem na entrada do departamento por onde viemos, a do metrô – então colocou seu chapéu na cabeça, deu um sorriso para seus aprendizes e saiu pelo corredor rumo a entrada.

Seguindo o doutor foram até uma saída lateral do edifício que levava até uma ampla área externa cercada por muros altos. Lá havia muitas coisas aparentemente desconexas, como equipamentos de academia, pista de corrida, piscina, uma fogueira, árvores em uma área de terra, um lago, uma parede de escalada etc. Perto da porta por onde vieram ficava uma pequena arquibancada de madeira, onde o doutor apontou que Anna deveria sentar-se enquanto aguardava o final do exame.

— Podemos começar? – perguntou o doutor para Godofredo.

Mas Godofredo não respondeu. Estava parado boquiaberto olhando para o céu. Como no orfanato não havia muito o que pudesse fazer ele sempre teve o hábito de olhar para o céu, mas as estrelas que via agora ele mal reconhecia. Além disso, pelas suas contas, não deveria estar tão escuro como no ápice da noite, no máximo era para estar escurecendo.

— Me esqueci que não conhece nada sobre este mundo. Sim, agora são aproximadamente quatro e meia da tarde, em Gaia o Sol ainda está no céu, mas desse lado não temos o Sol. Aqui temos a KalleidoStella, ou Estrela Caleidoscópica como alguns poucos gostam de chamá-la também – respondeu apontando para cima, onde uma estrela estranha brilhava no céu. Sua cor não era a amarela do Sol, na verdade ela mudava de cor a cada instante. Em um momento era vermelha, logo em seguida brilhava azul, então verde, amarela, vermelha novamente, voltava a ser amarela e assim sua cor ia mudando aleatoriamente.

— Cal... como? – perguntou Godofredo se enrolando com o nome da estrela.

— KalleidoStella, começando com K, tendo quarto L's e com o S maiúsculo – respondeu Anna.

— E por que tão complicado assim? – perguntou tentando imaginar a palavra que daria com as instruções de Anna.

— Eu não sei muito bem. Lembro da minha mãe me ensinando a escrever o nome da estrela e falando sobre como os fundadores tinham um significado para cada coisa. Os L's, se não me engano, tem relação com as quatro principais leis do mundo Arkano. Mas eu nunca prestei muita atenção nisso – respondeu Anna.

— Então não tem dia deste lado? – perguntou Godofredo para o doutor, ignorando completamente a relação entre o nome da estrela e as leis.

— Dia como você conhece não há. Mas no mesmo período que vocês têm o dia a KalleidoStella sobe no horizonte e por ela medimos o nosso tempo. Sua posição é a mesma do Sol, mas é muito menor e não emite luz suficiente para ficar claro como do outro lado.

O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)Onde histórias criam vida. Descubra agora