Epílogo

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Geralmente Anna ficava na torre de seu mestre até depois do jantar e voltava para casa apenas para dormir. Porém, dessa vez, o mestre Corvo havia pedido que voltasse mais cedo, já que ele próprio ficaria ocupado com uma investigação e Godofredo sairia com Elsa para ser testado.

Ao chegar em casa, foi direto para o quarto, onde se trancou e trocou de roupa, pendurando seu uniforme próximo a cama, ao lado de uma grande pilha de livros que havia ganhado recentemente de seu mestre.

Anna nunca havia pensado como uma simples roupa poderia carregar um sentimento tão bom. Mesmo que Godofredo ainda não estivesse indo às aulas na Academia Superior, esse uniforme pendurado era uma promessa de que logo os dois iriam passar os dias juntos, aprendendo magias e estudando.

Sentou-se no parapeito da janela, onde passava a maior parte do tempo quando estava em casa, e começou a olhar as estrelas e a lua, sempre escura, de Arkana.

— Me falaram que a senhora Lua de Gaia brilha forte, por causa da luz do Sol deles. Será que prefere brilhar ou vagar sempre escondida pelas sombras do céu? – quando sozinha em seu quarto, Anna criou o costume de pensar em voz alta, dessa forma se sentia menos sozinha. – Como será ser a senhora Lua? – se perguntava enquanto balançava os pés descalços.

Decidida a encontrar a resposta para como a lua deveria se sentir, Anna fechou os olhos e começou a se imaginar vagando no escuro do espaço, mergulhada em um silêncio frio e vazio.

"Mas não é assim que é a senhora Lua de Gaia, ela tem um Sol que brilha amarelo e forte, muito forte... como o... como o mestre Corvo" pensou Anna, dessa vez não dividindo com os móveis de seu quarto esse pensamento.

Seu mestre brilhava aos olhos dela.

Mesmo com um olhar triste e preocupado, ele sempre cuidava dela e a havia tirado do vazio frio que era a sua vida quando sua mãe faleceu. Mas ainda faltava algo.

A vida da "Lua Anna" tendo apenas o "Sol Corvo" era monótona. Ele dava-lhe o sentido de continuar voando no espaço infinito, mas isso não era suficiente. Tudo era muito silencioso ainda e as coisas aconteciam muito devagar.

Foi, então, que Anna se recordou de uma risada que tinha o poder de incendiar seu pequeno coração congelado.

Vagando pelo vazio do espaço, Anna se aproximou de um pequeno planeta azul, que tinha uma risada igual a de Godofredo.

Ao se aproximar desse planeta, Anna se sentiu atraída por ele e, quando se deu conta, estava girando ao seu redor.

Ele também estava girando ao redor do Sol e seguia o seu caminho de luz e sombra em direção ao futuro.

"Porque minha respiração está ficando cada vez mais rápida?" se perguntava Anna enquanto se imaginava girando pelo espaço ao redor de Godofredo. Não conseguia desviar os olhos dele, enquanto ele girava no seu ritmo em direção a um futuro desconhecido.

— Será que eu fui enfeitiçada? – perguntou Anna para a Lua escura de Arkana enquanto abria os olhos. – Desde que eu conheci ele não tenho sido eu mesma. Parece que tem um feitiço bagunçando meus pensamentos e acelerando o meu coração – disse enquanto saía do parapeito da janela.

Foi até o seu uniforme e disse em voz alta o pensamento mais sincero que vinha tendo nos últimos dias:

— Eu não entendo... não entendo o que se passa aqui dentro – disse colocando uma tremula mão no peito, sobre o coração. – Ele sorri e eu fico agitada sem motivo... é como se o Godô tivesse jogado um feitiço em mim, e cada vez que ele sorri, essa magia me envolve mais e mais, apertando meu peito... não sei o que fazer – disse enquanto segurava a manga de seu uniforme.

O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)Onde histórias criam vida. Descubra agora