O Sol brilhava com força e um forte calor emanava do asfalto. Na avenida os carros passavam apressados e as pessoas que saiam dos seus escritórios iam aos já conhecidos restaurantes locais para almoçar.
Uma garota de 10 anos esperava na sombra de uma grande árvore claramente incomodada pela luz e pelo calor. Vigiava um casarão de três andares do outro lado da avenida enquanto esperava por alguém que a havia dito para o encontrar ali. Sua pele era muito branca e seu cabelo era prateado preso em maria-chiquinha, o que combinado com seus olhos de um azul muito claro chamava a atenção das pessoas que passavam.
Suas roupas também não eram muito comuns para aquele lugar. Usava uma camisa branca de botões pérola com mangas compridas que terminava em babados, uma saia azul escura que ia até abaixo do joelho e sapatinhos pretos com meias três-quartos brancas. Em ambos os pulsos tinham pulseiras de prata com pingentes de adaga, que ela segurava em cada mão como se fosse algo muito importante.
— Fico feliz que tenha conseguido encontrar este local sozinha, Anna. Veio de ônibus como eu expliquei? — perguntou um homem que se aproximava dela com um sorriso gentil.
Ele também parecia deslocado quando comparado com as pessoas que passavam e com o ar moderno da avenida. Alheio ao calor, usava um chapéu com sobretudo bege por cima de um terno preto com uma camisa branca e uma gravata vermelha e levava consigo uma sombrinha. Seus cabelos eram bem negros, compridos, bagunçados e todo repicado, sobrancelhas grossas, e sua barba curta e bem negra apresentava uns poucos fios brancos. Sorria quase fechando seus olhos esverdeados com profundas olheiras.
— Boa tarde, Mestre Corvo. Sim, apesar de que meu pai não gostou de me levar até a Rodoviária. Chegando aqui nessa cidade eu vim andando mesmo, ainda não sei usar os meios de transporte deles direito — respondeu Anna que só agora relaxara e soltara os pingentes de adaga.
— Aprender sobre como o mundo deles funciona é importante se quer ir para missões de campo comigo quando entrar para a Academia — disse o Corvo enquanto tirava o chapéu e olhava para o mesmo casarão que Anna encarava mais cedo — Nosso alvo está dentro desse orfanato. Foi relatado ao exército que é um garoto de aproximadamente 10 anos que foi visto pulando no telhado saindo do térreo enquanto fugia de seres invisíveis. Também foi dito que coisas estranhas acontecem ao redor dele, coisas que os funcionários do orfanato não conseguem explicar. Eu vou entrar na secretaria e procurar pelos arquivos dele, você vai com o Aurélio entrar lá e procurar ele em meio as crianças, okay?
Como que respondendo à pergunta que Anna faria, Aurélio, um gato preto de olhos bem verdes, apareceu saindo de trás do Corvo se espreguiçando e dando um miado bem manhoso enquanto olhava para Anna.
— Tudo bem. E o que eu faço quando encontrar ele?
— Pergunte sobre essas histórias que eu te falei agora há pouco. Tente descobrir a verdade nelas. Dependendo do que você conseguir eu vou pensar se levo ele ao Departamento de Linhagens no Governo Central ou se o entrego ao Exército, que foi quem solicitou essa investigação. Vamos? — perguntou ele recolocando o chapéu e andando em direção a faixa de pedestres para atravessar em direção ao orfanato.
Assim que chegaram em frente à porta principal o mestre Corvo apontou para o lado esquerdo do prédio e Anna em silencio foi nessa direção seguida de perto pelo gato Aurélio. Por mais que estivesse prestes a invadir um edifício ela se sentia animada. Estava sendo útil ajudando o mestre dela, que foi aquele que a tirou da escuridão meses antes, no velório de sua mãe.
***
Estava muito triste em frente ao caixão de sua mãe enquanto seu pai e seus irmãos mais velhos conversavam animados com outros convidados no salão ao lado. Já havia chorado tudo o que podia na noite anterior e agora só olhava concentrada para onde a mãe estava. Sua concentração era tamanha que nem percebeu os convidados todos ficando em silêncio por um instante quando um homem chegou para o velório.
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O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)
FantasyUm mundo misterioso se esconde nas sombras da rotina. Criaturas estranhas, nascidas dos medos e vícios, se alimentam e crescem, ameaçando as pessoas que, inocentes, seguem suas vidas. Vindos desse mundo oculto, magos patrulham e exorcizam esses espe...