— Antes de irmos para casa, quero te mostrar um lugar – disse o Corvo enquanto seguia direto em vez de virar para a direita, direção onde ficam as Torres dos Mestres.
Permaneceram ambos praticamente em silêncio desde que começaram a voltar para casa. Andando atrás de seu mestre, Godofredo seguia pela primeira vez em direção a praça que ficava em frente ao prédio principal da Academia Superior.
Da janela de seu quarto na torre, Godofredo olhava sempre para a Praça do Relógio, onde os alunos ficavam com seus amigos nos intervalos das aulas, mas nunca havia andado por ela.
Bem na frente deles ficava a estrutura que dava nome à praça, a Torre do Relógio.
— Gaia e Arkana são conectadas de formas muito misteriosas, sabia? – disse o Corvo.
— Você diz os "arcos"?
— Não são só eles que conectam os mundos. Há também as "fissuras", que são portais naturais que periodicamente se abrem entre os mundos de forma aleatória. Quando estão no fundo do mar ou muito alto no céu acabam não causando muitos problemas. Só precisamos manipular um pouco as coisas em Gaia para que os mundanos não passem por esses portais sem querer. Conhece aquela história do "Triângulo das Bermudas"?
— Acho que sim. Vi na televisão uma vez um programa que falava que lá os barcos e aviões somem – respondeu Godofredo se esforçando para lembrar.
— E sabe por que eles sumiam?
— Ah, o programa falava de coisas de ciência e de alienígenas, mas pra ser sincero eu não faço ideia.
— Se chamarmos os magos de alienígenas essa teoria até pode estar um pouco correta! – respondeu o Corvo rindo da cara de confusão que Godofredo fez. – Acontece que aquela região tem fissuras enormes no céu e no mar, tão grandes que até hoje não conseguimos fechar com magia. Então precisamos alterar as cartas de voo e de navegação dos mundanos para evitarem essas áreas perigosas. Os casos de desaparecidos são daqueles que acabaram caindo aqui em Arkana. Mas não é das fissuras que eu quero falar. Sabe o que é "ressonância"?
— Hum, eu tenho quase certeza que já ouvi essa palavra antes...
— É bem provável que tenha ouvido mesmo. "Ressonância" é um conceito da ciência dos mundanos que é super complicado de explicar.
— Mas dá pra ver essa tal ressonância?
— Ah, existem experimentos nos quais você consegue ver ela sim. Quando eu era aluno tinha um mestre muito amigo do meu que estudava a ressonância mundana. Um dia ele estava conversando com o meu mestre e pegou duas taças de cristal, colocou um pouco de água em ambas e um arame sobre uma delas. Em seguida ele molhou a ponta do dedo e passou na borda da taça que não tinha o tal arame e sabe o que aconteceu? O arame vibrou sem que ele o tocasse. Ele explicou de forma detalhada, mas resumindo a vibração de uma taça passou para a outra sem elas se tocarem.
— Que coisa estranha...
— Sim, apesar de ser apenas uma reação natural. E foi pensando nessa ressonância dos mundanos que o Mestre Gromov notou algo muito mais estranho, Gaia e Arkana vibram também. Nossos mundos são separados, existem em realidades diferentes, mas eles vibram de modo a se equilibrarem sempre. E a maior prova que Mestre Gromov tinha está bem na sua frente.
Ambos tinham caminhado praça adentro até chegarem na Torre do Relógio, que tinha cinquenta metros de altura e ficava no centro de um espelho d'água circular. Tinha dois lados principais, um voltado para a área onde se reuniam as Torres dos Mestres e o outro voltado para o edifício principal da Academia. De perto, Godofredo conseguia ver que ela tinha imagens gravadas em alto e baixo relevo, totalizando seis painéis, acimados por um gigantesco relógio.
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O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)
FantasyUm mundo misterioso se esconde nas sombras da rotina. Criaturas estranhas, nascidas dos medos e vícios, se alimentam e crescem, ameaçando as pessoas que, inocentes, seguem suas vidas. Vindos desse mundo oculto, magos patrulham e exorcizam esses espe...