O Aprendiz do Corvo - Volume 1 (versão web)

6. Torre

— Hey, hoje faz seis meses que você virou um Mago, Godô. Eu deveria ter trazido um presente? – perguntou Anna percebendo a data e se preocupando com o fato de não ter trazido nada.

— Claro que não, Anna. E nem sou um mago de verdade também. Por mais que o mestre esteja me ensinando bastante, ainda não estou pronto para a Academia – respondeu Godofredo um pouco chateado. – Ah, esse seu uniforme é muito bonitinho. É o da Academia, né?

— Sim, fico feliz que tenha gostado, Godô – respondeu Anna dando uma voltinha para exibir seu uniforme que consistia em uma camisa de botão branca, um laço roxo, uma saia azul marinho, um manto preto com interior roxo que estava aberto e um chapéu cônico com aba larga da cor preto com um laço roxo que estava sobre a escrivaninha de Godofredo. Ela o havia deixado lá antes de se aproximar da janela, onde o garoto observava o céu estrelado e a KalleidoStella, que iluminava o topo das árvores nas colinas e as edificações da Academia Superior de Dux Arkana.

Todos os dias Godofredo ficava olhando pela janela os outros alunos irem e virem de um prédio a outro com seus uniformes e materiais escolares. Todos os dias Anna também aparecia para passar um tempo com ele e as vezes o ajudava a estudar.

— Está conseguindo usar os óculos o dia todo agora? O mestre me disse mais cedo que estava exagerando e tinha caído ontem. Você sabe que não deve se esforçar demais, uma hora estará com o corpo pronto para poder ir à escola comigo – disse Anna perdida entre dar bronca e se preocupar com Godofredo.

Realmente usar os óculos que selavam os seus Olhos Místicos de Percepção Espacial era muito complicado. Se sentia tão fraco que parecia que estava doente. Nos primeiros dias mal conseguia se levantar usando-os e foi aos poucos fazendo exercícios físicos leves até que foi possível não só se levantar como também andar. Por um tempo sentia muita dificuldade em se movimentar e ficava cansado com facilidade, mas desde que passou a treinar o seu corpo com os olhos selados, ao tirar os óculos ficou fácil sentir quando era movimento seu e quando era o seu poder, assim conseguia aos poucos controlar essa força extra que recebia do dom Ímpeto Vetorial e perceber como ela aumentava em muito seus movimentos. Atualmente ele ficava bem até com os óculos, mas voltava a se sentir fraco e tonto ao recolocá-los se abusasse de seus dons ao treinar.

Mas essas aulas de controle de dom eram apenas uma pequena parte do seu dia. A maior parte dele Godofredo passava estudando sobre o funcionamento da magia e aprendia os feitiços mais básicos que todo mago de Arkana sabia executar. No dia anterior tinha conseguido pela primeira vez conjurar uma magia do elemento vento, e por um momento, tinha ficado feliz achando que o Corvo logo o mandaria estudar na Academia, mas o mestre muito pensativo apenas disse que "ainda faltam lições elementares, só depois delas a Academia será um lugar seguro".

A magia era complicada e tinha muitos tipos diferentes. As mais básicas que Godofredo estava estudando se chamavam feitiços, que eram magias de curta duração ativadas com um encanto. Fora um feitiço que o doutor tinha usado nele no seu teste no Departamento de Linhagens seis meses antes.

Havia também magias mais complexas como Encantamentos, magias de longa duração que necessitavam um longo encanto e reagentes mágicos específicos para serem criadas; Rituais, magias que precisavam geralmente de vários magos para serem ativadas; Técnicas, magias que só podiam ser executadas através de movimentos específicos com a mente concentrada da forma correta; Domínios, magias que criam áreas artificiais que podem ou não interagir com a realidade; e muitas outras como maldições ou bençãos que eram ainda mais complexas e que, segundo o mestre, nem valeriam a pena serem estudadas agora.

Por ser um primeiranista só seria cobrado de Godofredo conseguir executar feitiços, mas ele tinha dificuldade em fazer até mesmo o mais básico deles e, de acordo com o que fora explicado pelo Corvo, era por conta de não ter conhecimento e ter uma afinidade mágica baixa. Já desiludido com a magia, Godofredo focava então em melhorar o controle de seus dons pois eram as únicas coisas que ele sentia grande diferença ao se esforçar.