A Cortina de Nuvens

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Por algum motivo, naquele dia, conseguia enxergar um brilho diferente nas nuvens.

O céu infindável se estendendo acima de seu corpo te presenteava com a forte sensação de estar flutuando, mesmo com a grama parcialmente molhada pelo orvalho fazendo cócegas em seus braços. O vento forte batia nas árvores altas, preenchendo todo o ambiente com o som do farfalhar das folhas,  e arrastava as nuvens acinzentadas para apenas uma única direção, quase como se estivessem marchando no intuito de alcançar um objetivo.

O sol permanecia escondido pelo que se parecia um grande amontoado de algodão cinza, mas não se ausentava por completo. Alguns raios de luz escapavam por trás, a umidade do ambiente se tornava quase visível, se misturando com o calor agradável. Não sabia bem ao certo o que a deixava assim, mas olhar para as nuvens naquele dia foi especial.

– O que está fazendo?

Você força a cabeça para olhar para trás. Quando vê o Capitão Levi parado de pé, rola para o lado e se coloca de joelhos. 

– Observando as nuvens.

A grande nuvem que cobria o sol se move com o vento, e a luz toma conta de tudo, correndo pela grama até que iluminasse os pés de Levi e alcançasse seu rosto. Ele espreme os olhos com a iluminação. Você o observa atentamente se aproximar e te estender a mão.

– A reunião já vai começar.

Aceita a ajuda e se coloca de pé, alguns centímetros diante do capitão. Olha para o rosto dele, analisando todos seus traços. Parecia estar transpirando um pouco por conta do calor, algumas gotas de suor invisíveis faziam sua pele brilhar. Foi então que entendeu o que te atraía tanto nas nuvens.

Há pouco mais de um ano, estava dando o primeiro passo rumo para recuperar sua vida que perdera após dizer adeus a alguém que amava muito. Não. Aquilo não fora somente um adeus. A vida de seu primo foi arrancada diante de seus olhos, da forma mais grotesca possível, morto por um titã anômalo durante uma missão fora das muralhas. Por não tê-lo protegido, passou anos se mantendo trancafiada na prisão de seus traumas, se privando de conhecer qualquer sentimento que não fosse arrependimento e culpa. Mas o primeiro passo aconteceu, e foi o que precisava para entender que podia escapar das amarras que lhe causavam tanto sofrimento.

Não podia simplesmente retornar ao QG da Divisão de Reconhecimento após ter fugido da Tropa de Exploração seis anos atrás, renunciando seu título de soldada de elite. Sabia o quanto a imagem de ex-soldados era mal vista, provavelmente seria condenada se desse as caras. Por isso mudou de aparência e nome por um tempo, se infiltrando no QG para trabalhar como secretária de assuntos internos. O disfarce não durou tanto, mas ao invés de ser exilada novamente, foi acolhida pelo Comandante Erwin e todos os membros do 104º esquadrão de soldados, que lhe deram muito mais que somente uma segunda chance: lembranças felizes que levaria consigo para sempre.

E é claro, conheceu mais de perto o Capitão Levi, o soldado que é conhecido como o maior símbolo da esperança da humanidade. Trabalhar tão próxima a ele de início fora um desafio e tanto. Levi se comportava com teimosia, resistência e mau humor na maior parte do tempo. Só não sabia que, ao se envolverem em um jogo de sedução, ele permitiria que você observasse um lado dele que não costumava mostrar a mais ninguém. O jogo começara de uma forma despreocupada que acidentalmente tomou novas proporções, e agora já não sabiam mais para onde estavam indo. Mas de uma coisa sabia: ambos seguiam se recuperando de contextos horríveis juntos, se permitindo viver e sentir, por mais que isso pudesse resultar em medo, dor e receio... Era um processo de cura. No fundo sabiam que é algo que vale a pena enfrentar.

The Endgame (Levi Ackerman X Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora