The Endgame (Levi Ackerman X Leitora)

A Encomenda

Não imaginava o quão terapêutico acariciar o pelo macio de um gato poderia ser. Se pegou pensando nisso ao tempo em que notou as lágrimas definitivamente deixando de escapar pelos seus olhos e o choro preso em sua garganta lhe presenteando com uma trégua momentânea.

Sombra, a gata preta e de olhos amarelados que Levi adotara meses atrás, se deleitava com sua presença. Deitada sobre suas coxas escondidas pelo cobertor, ambas em cima da cama macia, amaciava seu colo com as patas sem parar, retribuindo suas carícias. Em sincronia com a vibração, o som do ronronar preenchia o ambiente, forte como as rodas das carruagens batendo contra os ladrilhos das ruas. Achou que seria impossível se acalmar após tudo que aconteceu antes de chegar ao apartamento de Levi, mas a companhia e o olhar doce da felina acalentaram seu coração de forma misteriosa, mas completamente natural.

Após se despedirem de Erwin e Hange e adentrarem o cômodo, Levi pendurou seu casaco e suas roupas para secarem, as peças molhadas por terem galopado tempo demais embaixo da nevasca, imediatamente te guiando até o banheiro para que se aquecesse com um banho quente. Nesse meio tempo, ele separou um de seus pijamas para que você vestisse – uma calça preta de tecido grosso, junto a um blusão cinza, largo até os pulsos – e preparou uma caneca cheia de chá de camomila. O capitão não fazia qualquer menção de dizer algo, até porque não existia qualquer coisa a ser dita. Quando se afastava, mesmo que brevemente, você o notava te observando discretamente, atento para qualquer sinal de que pudesse estar precisando de algo em específico. Você gostaria de demonstrar melhora após toda a atenção de Levi, mas as lágrimas insistiam em escorrer pelo seu rosto num choro silencioso e incontrolável. 

Ele permaneceu junto a você por longos minutos, sentado no pé da cama, a cabeça abaixada e os olhos fixos no chão, mas foi muito difícil suportar o frio e pediu licença para tomar um banho. Assim que Levi deixou o quarto, Sombra, que antes caminhava pelo ambiente, animada com o apartamento "cheio", subiu na cama e se aconchegou junto a você. E assim permaneceram desde então.

Aproveitou a calma que agora tomava a liderança dentro de você para respirar fundo diversas vezes. O som do chuveiro ao fundo, o uivar da ventania do lado de for da janela, o ronronar de Sombra em seu colo, a luz azulada da lua pintando o quarto, a neve caindo violentamente do céu... Toda essa noção do mundo externo ao seu redor se movendo te trouxe o alívio de notar que seus problemas eram efêmeros e que a vida continuava apesar disso. Ao voltar a pensar sobre o que sua tia dissera, e o quanto ela fez questão de mencionar a decepção que você representava após Kian ter morrido, era impossível sustentar esse pensamento que, mesmo que por alguns instantes, te trouxe força. Decidiu seguir focando na sensação gostosa que o pelo sedoso e macio de Sombra trazia em seus dedos, e no calor que o pequeno corpo dela causava em suas pernas. Vez ou outra balançava a pelúcia de cachorrinho que presenteou Levi naquele festival para a gata – e que desde então ele deixava sobre a cama para enfeitá-la –, que esticava as patinhas para tentar alcançá-lo. Vê-la rolar algumas vezes, desengonçada e se divertindo com o brinquedo, te arrancou risadas leves vez ou outra.

Estava tão concentrada que tomou um susto ao ouvir a porta do banheiro se abrir logo ao lado, o vapor deixando o ambiente e se dissipando de imediato com o frio que preenchia o quarto. Levi atravessou a porta com a toalha sobre os ombros, uma das mãos massageando o cabelo molhado com ela. Já estava com o conjunto de dormir sobre o corpo, a blusa comprida azul clara com algumas gotas caindo próximas ao pescoço, e as meias pretas que lhe deu de aniversário calçadas nos pés.

– Bebeu todo o chá? – Ele perguntou, parando ao lado da cama ao notar que a caneca estava posicionada sobre a mesa de canto. Em seguida segurou o objeto e o balançou para conferir se ainda tinha algo.