Capítulo 4

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Costa Sul

Com todos os passageiros devidamente acomodados, e isso inclui as malas, Joe começou a viagem até a missão. O aeroporto se localizava na capital da Costa Sul, esta ficava a cerca de três horas da fronteira com a Costa Norte, enquanto a missão distava aproximadamente uma hora.

Assim que o carro começou a rodar, Josh se ateve na paisagem que o circundava. As estradas eram largas e espaçosas, havia alguns prédios do governo, mas o que mais lhe chamou a atenção foi a falta de pessoas, não haviam carros civis circulando pela estrada. O rapaz acreditou que isso era motivado pelo horário, estavam ainda no meio da tarde. Contudo, ele perguntou à Joe:

— Qual o horário de pico?

— Como assim, Josh? — o rapaz não entendeu a pergunta.

— É que são quinze horas, e as ruas estão praticamente desertas, por isso quis saber qual o horário de pico, quando as ruas ficam movimentadas — o paramédico explicou.

Joe instintivamente encarou Cecília que estava sentada ao seu lado, no banco do carona, a moça desviou o olhar após um segundo enquanto mordia os lábios inferiores.

— Então, Josh — o rapaz que mantinha os olhos na estrada soltou um pigarro. — Não há civis morando na capital, atualmente.

— Como assim? — Ellen mostrou sua confusão.

— Mesmo que os ataques na capital não tenham acontecido ainda, é o segundo lugar mais visado para tal, por isso, as pessoas mais ricas compraram moradias mais ao sul, enquanto as mais pobres mudaram-se para pequenos vilarejos na circunvizinhança.

— Nossa! — foi tudo que a ruiva deixou escapar, e o silêncio dominou o carro após esse diálogo.

O futuro médico continuou a encarar a janela, motivo pelo qual ele notou a mudança drástica da paisagem à medida que o tempo ia passando. As árvores, tão comuns na capital tornaram-se escassas, o ar ficava mais árido a cada momento, e as casas se transformavam em amontoados de muros de placas desconexas, mesmo assim a quantidade de pessoas circulando, eram praticamente nulas.

O coração do rapaz estava condoído diante da situação que ele contemplava. Quantas daquelas pessoas tinham acesso às necessidades básicas? Comida, água, remédios, e até mesmo roupas?

Josh nunca foi considerado rico, mesmo assim, não havia sofrido privações em sua vida. Sempre tivera comida na mesa, um quarto só para si, água encanada e sempre que fosse seu desejo, ela saia quente da torneira, sem contar a energia elétrica e todas as outras regalias sociais possíveis.

— É uma dura realidade — Joe comentou, e só assim o paramédico notou que ambos eram os únicos acordados no carro.

— Como é possível sermos tão alheios a isso? — A voz de Josh demonstrava sua agonia.

— Josh, a verdade é que a maioria das pessoas não conhecem essa realidade, então como ser empático a algo desconhecido? — Joe suspirou. — Os homens estão tão presos em suas próprias rotinas, correndo atrás das próprias agendas, que se esquecem até de mandar uma mensagem diária aos próprios familiares. Como podemos exigir que não sejam alheios a uma realidade tão distante da deles?

— Não me parece justo. São crianças, jovens... que não sabem o que é paz e segurança.

— Não se engane, a paz do mundo não é verdadeira. Estamos aqui para trazer paz de verdade a todos eles. "João 16:33 diz: Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo."

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