Naquela manhã, Josh levantou esfregando os olhos de tão cansado. Ele estava começando a perceber que o desgaste emocional era bem mais cruel do que o físico.
Inutilmente o rapaz tentou ajeitar os fios do cabelo castanho, porém era um fato irremediável, seu cabelo tinha vontade própria. Para sua sorte, eles pelo menos eram um bagunçado estiloso.
Já de posse de seus óculos, Joshua encontrou-se com Toby no refeitório. Os dois iriam até a casa da pequena Liz para que o paramédico pudesse examinar Kimmy de forma adequada.
— Bom dia, doutor! — Toby cumprimentou com seu jeito leve. Joshua não evitou sorrir.
— Você é um dos poucos amigos meus, que tem o hábito de cumprimentar corretamente as pessoas — Josh sorria com as mãos no bolso. — Mas, eu ainda não sou doutor!
— Ah, isso será mudado em breve! — Toby fez um gesto de pouco caso.
— Para a honra e glória de Deus! Essa rotina de trabalho e estudo não é, como devo dizer, facilitada!
— Pode dizer que é difícil, eu entendo!
Joshua olhou para o amigo asiático e sorriu. De fato, aquele rapaz não tinha problema com palavras. Toby simplesmente aceitava os fatos e seguia com sua vida, sem se deixar abalar pela opinião alheia.
— Ah, antes que eu me esqueça — Toby tomou a palavra —, hoje, mais do que nunca, precisamos usar os coletes de uniforme médico.
— A zona é bem perigosa, não?
— De fato. Mas, Lee não se deixa abater, tenho orgulho dele! — Toby afirmou solenemente.
— Você conhece todo mundo, como isso é possível? Pelo que eu entendi você não tem residência fixa por aqui.
— Ah, é mesmo, nem contei minha história — o asiático sorriu, enquanto ambos se dirigiam até a mesa, a fim de tomarem seus respectivos desjejuns. — Bom, eu nasci numa família cristã em Xangai.
— Oh, então você é chinês! — Josh constatou interessado.
— Com certeza! — Toby sorriu, mas o sorriso não foi tão esfuziante como de costume. — Como você deve saber, a China não é um país conhecido por sua tolerância religiosa — quanto Josh assentiu, Toby continuou —, logo no início da minha infância nossa família começou a sofrer represálias significativas. Mesmo sendo um dos maiores empresários de Xangai, meu pai teve que largar tudo. Ele temeu por nossas vidas, por isso fomos para Hong Kong. Por lá a China não tem tanta autonomia.
— Mas, Hong Kong não pertence à China? — Josh perguntou confuso.
— Apenas no quesito relações exteriores e defesa militar. Até mesmo o regime é capitalista, ao contrário do resto da China, que é comunista.
— Oh, que interessante. Então por lá não há perseguição?
— Sim, em Hong Kong, nós encontramos liberdade de crença — o chinês fez uma pausa, mas logo em seguida prosseguiu. — Por lá, meu pai abriu uma nova empresa, o crescimento foi muito rápido, por isso crescemos em uma ótima condição financeira. Porém, nessa história toda, algo ainda ardia em nosso coração, e estava constantemente nas nossas orações familiares.
— Os irmãos perseguidos na China — Josh completou o pensamento do amigo.
— Exatamente. Quando chegou meu tempo de fazer faculdade, eu cursei pedagogia, queria ser professor na China e assim quem sabe conseguir ajudar os irmãos por lá.
— O que deu errado? — Josh perguntou.
— Eu não consigo mais entrar na China para ficar um longo período. Minha família era muito conhecida, somos marcados por lá — o rapaz suspirou —, para ser sincero, agora só conseguiria entrar de forma clandestina. Mas, antes disso acontecer, como não conseguia ficar de forma definitiva por lá, dividi meu tempo com Costa Sul.
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BRAVE - A marca da sobrevivência ✓ Degustação.
SpiritualJosh é um paramédico e estudante de medicina que, aproveitando suas férias de faculdade, decide partir, juntamente com alguns jovens de sua igreja, para a Missão Reconstruir. Por lá o futuro pediatra terá de lidar com uma realidade completamente dif...