Prólogo - O Clube de Literatura

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{ Katsuki }

Viver em um mundo onde alguém insuportavelmente perfeito existe é uma merda. Principalmente se você não for essa pessoa.

Na escola onde eu infelizmente estava matriculado o ser humano mais estupidamente perfeito e divertido que qualquer idiota pudesse conhecer se chamava Izuku Midoriya. O cara era algum tipo de Deus do ensino médio com suas notas boas, físico invejável e amigos legais. Ele não era do tipo capitão do time de futebol - esse era o melhor amigo dele, Shoto Todoroki -, nem o melhor aluno em todas as matérias - essa era a melhor amiga dele, Ochako Uraraka -, ele era só... Bom. Ele era bom em tudo que fazia, mesmo que por vezes deixasse o destaque para os outros. E mesmo que o filho da mãe nem fosse o destaque, ele era o mais comentado.

"Você viu a dança do Izuku no clube de dança?"

"Izuku jogou no time do Shoto ontem e marcou dois gols!"

"Você não vai acreditar! Izuku e Ochako conseguiram montar um clube para ajudar as pessoas ruins em matemática! Uau!"

Urgh. Eu tinha certeza que devia haver alguma coisa bastante errada com ele ou pelo menos com a vida dele. Quer dizer, ninguém pode ser perfeito assim. Talvez ele tivesse problemas com os pais, ou talvez a mãe dele fosse drogada ou ele fosse órfão e tivesse um mordomo pra tomar conta dele. Mas pelo que todo mundo sabia a mãe dela era Inko Midoriya, a cara dele, nossa professora de inglês. E ele não tinha um mordomo e nem um esconderijo secreto na garagem.

Um dia, conversando com meus únicos dois amigos, cheguei a conclusão de que Izuku Midoriya deveria beijar mal. Então nós colocamos na cabeça que o defeito ou a tragédia dele deveria ser sua vida romântica... Até a amiga do Ejiro ficar com ele e nos contar que, opa, ele era bom ali também. 

Às vezes, eu pensava, a vida era estupidamente boa com alguém e se esquecia do resto de nós. 

Isso, é claro, até eu entrar pro clube de literatura. 


{ Quinta-feira, 8:45 }

- Todo mundo pode se inscrever - Izuku estava explicando, mascando um chiclete. - Mas o pessoal com notas ruins em literatura tem obrigatoriedade. 

- Mas ninguém tem notas ruins em literatura - Ojiro resmungou antes de se sentar. - Pelo menos não que eu lembre. 

- Bem, eu vou entregar os convites para as pessoas que precisarão participar - Izuku respondeu com educação. - Se você o receber, precisa parti...

Pisquei confuso quando o som parou. Olhei ao redor e percebi que todos continuavam conversando, mas tudo que chegava aos meus ouvidos eram ruídos e murmúrios distantes. Resmunguei irritado, tirando com cuidado o aparelho para verificá-lo. Não parecia ter nada errado ali, então dei um peteleco nele e o coloquei de volta no ouvido antes que alguém prestasse atenção. 

Aparentemente meu pequeno problema técnico havia passado despercebido por todo mundo; Ejiro estava jogando no celular com Denki, enquanto Sero dormia com a cabeça descansada entre os braços. Fora eles três ninguém mais prestava atenção em mim, o que era ótimo. Eu não precisava daqueles idiotas enchendo meu saco como se eu fosse especial só porque era meio surdo. Na realidade, tudo que aquela sala fazia era me irritar e deixar com dor de cabeça; era incrível: o barulho daqueles filhos da mãe conseguiam deixar um surdo com dor de cabeça. Era o fim do mundo!

Mesmo depois de meu procedimento de alta performance, bater no aparelho, nada aconteceu e eu continuei sem conseguir escutar bem. Desisti de usá-los e os tirei de uma vez, enfiando-os nos bolsos da calça e me levantando. Por sorte, Denki e Ejiro estavam ocupados demais para me notar saindo da sala de aula como um rato. Eu até reparei que algumas pessoas viraram para me encarar, então apressei o passo e fui embora dali de uma vez. 

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