sete: uma sexta-feira muito louca.

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Desde criança, meu pai costumava dizer que eu não era muito normal.

A princípio, quando pequeno, ninguém via grande coisa na minha mania de nunca pensar nas consequências. Porque, logicamente, crianças não conhecem a lei básica da física de que, para toda ação, existe uma reação.

Entretanto, conforme eu fui crescendo e crescendo, meu pai não notava nenhuma mudança nesse jeito inconsequente de levar as coisas. E isso o preocupava, constantemente.

Era como se eu não enxergasse um futuro, como se estivesse pronto para morrer desde o momento que acordo toda manhã. "Ninguém sabe o dia do dia posterior", era o que eu sempre dizia, desde os doze anos.

Meu pai se culpava por achar que era por causa dele, uma vez que esse tipo de fala era frequente em uma época de crise financeira em casa. Com isso, ele só foi se afastando, até que, da nossa relação, só restasse poucas falas e conversas necessárias.

Mas, o que ele não sabia, era que isso não era culpa dele. Eu realmente sempre fui assim; Nunca me importava se haveria o dia de amanhã. Era como se eu fosse congelado no momento, no presente, e não conseguisse imaginar um futuro.

Sempre agia por impulso, porque sabia que não haveria outra oportunidade. Ou pensava que não. Fazia sempre aquilo que me dava felicidade momentânea, que me fazia sentir algo forte.

Medo, adrenalina, curiosidade.

Aos treze, comecei a bater de frente com os valentões que me perseguiam desde a quarta série. Sem medo, apenas por pura adrenalina. Batia, batia e batia, até a sensação de euforia passar. Com isso, passei de garoto oprimido pra descolado e briguento. Claro, isso me trouxe grandes problemas em casa.

Rose, então, decidiu que eu tinha um distúrbio. E com distúrbio, eu quero dizer um demônio. Ela sempre foi uma mulher de muita fé, tão religiosa que era ridículo de se ver. Vendo como eu era, Rose decidiu que eu tinha um espírito obsessor me perseguindo. Ou que, talvez, eu era o próprio demônio.

Foi a época em que mais vi padres e reverendos em toda a minha vida!

Com o passar de todas as visitas possíveis á igrejas e templos, vendo que nada mudara, Rose desistiu. E passou a me enxergar como um perigo á sociedade, sempre buscando um jeito de controlar a minha vida.

Logicamente, eu conseguia escapar disso. Aos catorze, roubei o carro de meu pai para ir até a locadora do centro com Baekhyun e roubei fitas cassete. Se eu não tivesse batido o carro na entrada da garagem, provavelmente meu pai nunca saberia.

E mais uma vez, eu não liguei para as consequências, porque eu não havia pensado nelas para início de conversa. Também não havia sinais de remorso, era como se eu fosse incapaz de me arrepender de qualquer coisa. Apenas fazia o que era bom para mim no momento e seguia a vida se tivesse que seguir.

Isso me torna uma péssima pessoa para se ter um relacionamento. Nunca havia gostado de ninguém, apenas tinha rolos de momento; Todo o sentimento passava depois de uma noite de sono.

E, parando para analisar agora, com todo esse histórico duvidoso que tenho, dá pra entender — ou tentar — o porque eu estava fazendo o que estou fazendo no momento.

— Você tá me sequestrando?

Jk, que cantava — incrivelmente bem, por sinal — Take on Me a plenos pulmões, riu, e se virou para me olhar rapidamente antes de se atentar a estrada outra vez.

— Não é sequestro se você consentiu.

— Parece sequestro pra mim se eu não sei aonde está me levando. — arqueei uma sobrancelha, começando a cantar a última parte da música.

JK. {kth + jjk}Onde histórias criam vida. Descubra agora